Domingo,
17 de janeiro de 2016
Informações
obtidas na Lava Jato podem esclarecer o caso
Da Tribuna da Bahia e iG Minas
Gerais
As investigações da operação Lava Jato podem ajudar a
esclarecer mistérios que ainda cercam o assassinato do prefeito de Santo André
Celso Daniel (PT), que completa 14 anos na próxima quarta-feira (20/1).
O Ministério Público de São Paulo pretende pedir nos
próximos dias ao juiz Sérgio Moro acesso às informações levantadas na apuração
do Paraná sobre um empréstimo fraudulento obtido pelo pecuarista José Carlos
Bumlai, cujos recursos podem ter sido usados para calar um empresário de Santo
André, que teria chantageado o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A partir da análise dos documentos, o MP paulista decidirá
se abre novas frentes nas investigações sobre o esquema de pagamento de propina
que funcionava na prefeitura da cidade do ABC paulista e teria motivado o
assassinato de Daniel. As informações levantadas pela Lava Jato podem
esclarecer se a cúpula do PT sabia dos desvios de recursos em Santo André.
A suposta ligação dos desvios no município paulista e o
comando petista foi levantada em 2012, quando o publicitário Marcos Valério,
operador do mensalão, citou, em depoimento à Procuradoria Geral da República,
que foi abordado por um dirigente petista, em 2004, para obter R$ 6 milhões
para pagar o empresário Ronan Maria Pinto.
Ronan estaria chantageando Lula, então presidente da
República, o ministro da Casa Civil, José Dirceu, e chefe de Gabinete da
Presidência, Gilberto Carvalho, com ameaças de contar detalhes da corrupção na
prefeitura do ABC.
O depoimento de Valério foi usado por Sérgio Moro, em
novembro, como um dos motivos para justificar a decretação da prisão preventiva
de Bumlai, amigo de Lula.
No depoimento de Valério, o publicitário conta que foi
informado que Ronan, para não contar o que sabia, queria dinheiro para comprar
o jornal “Diário do Grande ABC”.
Em seu despacho, Moro diz que a Receita Federal constatou
que o empresário pagou R$ 6,9 milhões pelo jornal, em 2004, e que há suspeita de
simulações de empréstimos para camuflar a origem do dinheiro que permitiu a
compra.
A análise dos dados fiscais de uma empresa de ônibus de
Ronan também confirma o recebimento de um empréstimo de R$ 6 milhões no mesmo
ano.
Os investigadores da Lava Jato acreditam que Ronan foi o
destinatário final de parte do dinheiro de um empréstimo fraudulento de R$ 12
milhões que Bumlai admitiu ter pego para o PT no Banco Shahin (perdoado com a
obtenção pelo grupo Shahin de um contrato na Petrobras).
“O Ministério Público está atento aos fatos que surgem na
Operação Lava Jato e às implicações que eles podem ter aqui em Santo André”,
afirma a promotora Sirleni Fernandes da Silva, do Grupo de Atuação Especial de
Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do ABC.
Ronan, dono de empresas de coleta de lixo, não é acusado de
participação no assassinato, mas é réu em três ações criminais que tem relação
com irregularidades na gestão de Santo André. Em novembro de 2015, ele foi
condenado a dez anos e quatro meses de prisão em primeira instância numa delas,
mas recorre em liberdade.