Por CARLOS LATUFF - Via 247
Afinal, Dilma Rousseff garantiu mais um mandato, derrotando o tucano
Aécio Neves. Foi por um triz, como na eleição de 2010, ao enfrentar o
também tucano José Serra. Naquele ano, como agora, votei em Dilma, não
por apoiar a agenda de seu governo e sim por acreditar que as coisas
podem não melhorar, mas certamente podem piorar, e no meu entendimento,
Aécio Neves simboliza o retrocesso, o agravamento de um problema.
Meu voto não é um cheque em branco a Dilma e seu partido, nem tão
pouco é um voto de confiança no sistema eleitoral. Com sua política de
alianças com o que há de mais patife na política brasileira, o governo
de Dilma Rousseff não me representa, como também não representa os
indígenas e quilombolas, estes sequer citados nos debates e propagandas
dos candidatos. Quero crer também que não representa os moradores de
favelas cuja ocupação por tropas do exército foi autorizada pela
presidenta. E acredito ainda que não representa a parcela do movimento
social que não foi cooptada pela máquina do governo.
Claro que me agrada aos olhos ver os "coxinhas" se consumindo no
próprio ódio ao saber que a "ditadura comunista do PT" terá um fôlego
adicional de 4 anos, mas não tenho qualquer esperança de que o Partido
dos Trabalhadores, com todos os compromissos firmados com o agronegócio,
banqueiros, empresários, e mesmo a "guerra contra as drogas" de
Washington, possa retomar às velhas bandeiras de luta do movimento
social. O movimento social no Brasil precisa livrar-se dessa polarização
entre PT e PSDB, livrar-se da cooptação, e trabalhar por uma
alternativa à esquerda, uma alternativa que não busque como meta o
governo e sim o poder. Acabar de vez com essa oligarquia, com o
coronelismo, com o poder de famílias que possuem terras, emissoras de TV
e rádio, e mesmo estados inteiros. São estes os verdadeiros detentores
do poder no Brasil.
Quanto a mim, retorno agora à oposição de esquerda e continuo
colocando minha arte a serviço do movimento social. A quem acredita que
pelo meu voto crítico eu aderi ou capitulei ao governismo, peço que
refreie sua leviandade e guarde essa carta como referência futura.
Porto Alegre, 27 de outubro de 2014.
Fonte: Tribuna da Imprensa