Quinta, 30 de outubro de 2014
Da Tribuna da Imprensa
André de Barros
“No capitalismo cognitivo, as lutas estão em cada palmo das cidades. O
palco da política é nas praças, ruas e avenidas, só a luta muda a vida,
só a luta legaliza, voltar às ruas é voltar à vida real.”
Depois da histórica jornada de junho de 2013, neste ano o país foi às
urnas. Um Congresso Nacional extremamente conservador, proibicionista e
punitivo foi eleito. Mas os eleitos não refletem as ruas. A mídia
oficial de mercado tão criticada nas manifestações continua querendo
pautar as lutas. Busca uma instabilidade institucional como se os
manifestantes estivessem indignados, podendo ser facilmente capturados
para um retrocesso golpista.
No Rio de Janeiro, o governador eleito liga sua eleição à vitória da
política de segurança e diz que seu projeto mãe é a UPP – Unidade de
Polícia Pacificadora. Mesmo depois da ajuda decisiva de grande parte
daqueles que estavam nas ruas, o partido da presidenta insiste em acusar
os manifestantes pela sua vitória apertadíssima. Os dois lados, se
continuarem não enxergando o que não querem ver, podem morrer abraçados.
As abstenções, nulos e brancos foram os mais votados no Rio de
Janeiro. O eleito ficou em segundo. A luta contra a repressão aos pobres
ganhou maior responsabilidade, esse foi o recado das urnas. A política
não pode ser mais um mercado. Os cartéis, que financiam as campanhas
como estratégia de disputa dos mercados das licitações públicas, não são
mais aceitos como representação. A política não está institucionalmente
instabilizada pelo binarismos petista e tucano. A pauta é a água, o
saneamento básico, a educação, a saúde, a libertação dessa vida
escravocrata de duas horas espremido dentro de um caixote caro, mais
oito longas horas de trabalhos mal remunerados e mais duas horas dentro
do mesmo ônibus lotado na volta para a péssima moradia.
No capitalismo cognitivo, as lutas estão em cada palmo das cidades. O
palco da política é nas praças, ruas e avenidas, só a luta muda a vida,
só a luta legaliza, voltar às ruas é voltar à vida real.