Sexta, 24 de outubro de 2014
Da IstoÉ, edição 2344, de 24/10/2014
Ao mesmo tempo em que manipula índices e esconde dados desfavoráveis para não prejudicar o governo, a campanha de Dilma, capitaneada pelo ex-presidente Lula, dissemina falsas acusações em série contra Aécio Neves, com o objetivo de se manter no poder
Quando Luiz
Inácio Lula da Silva venceu a disputa presidencial de 2002, o
publicitário Duda Mendonça, responsável pela construção do ‘Lulinha paz e
amor”, fez uma declaração que viria a se tornar uma espécie de mantra
do marketing político. “A democracia brasileira amadureceu e agora está
provado que quem bate perde”, afirmou o publicitário traçando um
paralelo com a eleição de 1989, quando Fernando Collor de Melo promoveu
uma campanha de mentiras e ataques pessoais para derrotar Lula. Depois
de 12 anos no poder, o PT, o ex-presidente Lula e a presidenta Dilma
Rousseff, candidata à releição, resolveram desafiar esse mantra e
trazem à disputa eleitoral uma sucessão de agressões e mentiras contra
seus principais oponentes jamais vista na história recente do País.
Também se valem do aparelhamento instalado no governo federal para
manipular dados e esconder todos os indicadores que possam prejudicar a
candidatura oficial, atentando contra a credibilidade de instituições
como o Ipea e o IBGE. “O PT tem promovido uma das campanhas mais sujas
da história. O objetivo é se manter no poder a qualquer preço”, afirma a
ex-senadora Marina Silva, candidata do PSB derrotada no primeiro turno.
“Fui vítima dessa ação difamatória sem precedentes que agora praticam
contra o candidato Aécio Neves.”
SEM LIMITES
Com propósitos eleitorais, a dupla Dilma e Lula tem espalhado
acusações sem qualquer fundamento contra o adversário,
Aécio Neves, em comícios pelo País
Desde o início do processo eleitoral, a campanha de Dilma Rousseff tem se valido da tática do medo e do terrorismo eleitoral para atingir seus adversários. Começou por intermédio das redes sociais e de militantes bem remunerados. Mas, a partir do segundo turno e com as pesquisas indicando a liderança do tucano Aécio Neves, o ex-presidente Lula e a candidata Dilma Rousseff passaram a ser os principais protagonistas dos ataques caluniosos. No sábado 18, durante comício em Belo Horizonte (MG), Lula acusou Aécio de usar violência contra as mulheres. “A tática dele é a seguinte: vou partir para a agressão. Meu negócio com mulher é partir para cima agredindo”, discursou o ex-presidente, referindo-se ao senador mineiro. No discurso, chamou Aécio de “filhinho de papai” e “vingativo”. “O comportamento dele não é o comportamento de um candidato (...) É o comportamento de um filhinho de papai que sempre acha que os outros têm de fazer tudo para ele, que olha com nariz empinado”.
No mesmo palanque, Lula, que como
presidente da República determinou que o repórter Larry Rohter, do “New
York Times”, fosse expulso do Brasil depois de publicar uma reportagem
que o acusava de trabalhar sob efeito de álcool, insinuou que Aécio tem o
hábito de dirigir embriagado, pois teria se recusado a se submeter ao
teste do bafômetro em uma blitz de trânsito no Rio de Janeiro. A questão
é que o candidato tucano já tratou desse tema publicamente. Disse que
se arrepende de não ter feito o teste e que estava conduzindo o carro
com a carteira de habilitação vencida. Ainda em Belo Horizonte, o
ex-presidente Lula comparou Aécio a Carlos Lacerda, o histriônico líder
da oposição a Getúlio Vargas, e voltou a mentir ao acusar o tucano de
perseguir professores. “Não conheço, em nenhum momento da história, nem
no regime militar, um momento em que os professores foram tão
perseguidos como foram em Minas Gerais”, disse Lula.
É comum que nas campanhas eleitorais os
discursos ganhem tons mais enfáticos. Isso, no entanto, não explica as
calúnias cuidadosamente elaboradas pelos marqueteiros da campanha de
Dilma. No caso do comício em Belo Horizonte, antes de Lula subir ao
palanque, o mestre de cerimônias do evento sinalizou em que se
transformaria aquele ato. Ele leu uma carta de uma suposta psicóloga
atribuindo a Aécio Neves a prática de espancar mulheres. Acusou o tucano
de ter “transtorno mental”, chamando-o de “ser desprezível, cafajeste e
playboy mimado”. Na verdade, os ataques proferidos pelo ex-presidente
fazem parte de uma bem articulada estratégia de campanha. Na terça-feira
21, três dias depois do comício, as ruas do centro de Belo Horizonte
amanheceram repletas de grandes cartazes anônimos com os dizeres em
letras amarelas em um fundo negro: “Você vota em candidato que agride
mulher?”. É assim, insistindo na mentira, que o PT procura induzir o
eleitor e desconstruir os adversários.
Na quinta-feira 23, o jornal britânico
“Financial Times” publicou uma reportagem criticando o debate político
na reta final das eleições no Brasil. O jornal constatou que o PT vem
usando “táticas de difamação” contra seus opositores e cita diversas
vezes a ex-senadora Marina Silva como a primeira vítima desse
estratagema. “Marina Silva acusa o PT de Dilma Rousseff de usar
servidores públicos para espalhar mentiras pelas redes sociais e
contatos comunitários, como o alerta de que ela, que é evangélica, iria
proibir videogames”, diz o texto do “Financial Times”. “Uma coisa
terrível que eles (PT) disseram era que eu sou homofóbica e que uma
pessoa gay tentou se aproximar de mim e meus seguranças bateram com
tanta força que ele morreu”, afirmou Marina ao jornal. “O tom negativo
da campanha tem frustrado muitos membros da crescente classe média baixa
do Brasil, que estão desesperados para que os políticos debatam as
questões críticas para o bem-estar”, conclui o jornal.
Os exemplos dessa campanha montada em
mentiras são inúmeros. Na terça-feira 21, em comício no Recife (PE),
Lula usou das calúnias para impor a campanha do medo, apontando o
adversário como alguém interessado em dividir o País entre ricos e
pobres, Norte e Sul, etc., recurso que, na verdade, o próprio Lula
costuma usar sempre que se vê politicamente acuado ou ameaçado de perder
o poder. No palanque, o ex-presidente chegou ao cúmulo de comparar
Aécio e o PSDB a nazistas. “Eles (Aécio e o PSDB) agridem a gente
(nordestinos) como os nazistas na Segunda Guerra Mundial. São mais
intolerantes que Herodes, que mandou matar Jesus Cristo.” O discurso
provocou indignação. A Federação Israelita de São Paulo e outras
entidades judaicas condenaram veementemente as declarações. Alheio às
críticas, em seu Twitter, Lula também vem espalhando o terror e na
semana passada postou: “O governo do PSDB significa o genocídio da
juventude negra”. A escalada das ofensas parece não ter limites para o
PT. Na quinta-feira 23, durante ato público no centro comercial de
Alcântara, em São Gonçalo (RJ), Lula disse que Aécio nunca trabalhou na
vida e que os tucanos gostariam de transformar o Brasil em um país como o
da época do Império, quando os pobres não podiam votar. “Antes de
terminar o Império só podia votar quem tinha uma determinada quantia de
dinheiro. Pobre não votava, índio não votava, analfabeto não votava. É
esse o país que eles querem”, disse Lula. No mesmo ato, antes de subir
em um carro de som, o ex-presidente voltou a afirmar o que
repetidamente vem sendo dito pela candidata Dilma Rousseff: Aécio, se
eleito, vai acabar com o Bolsa Família. Na verdade, e Lula sabe muito
bem, o senador tucano já apresentou projeto no Congresso que transforma o
Bolsa Família em lei, não podendo ser encerrado por qualquer que seja o
presidente. Além de Lula, em diversos atos de campanha, a candidata
Dilma vem pessoalmente praticando o terrorismo eleitoral. A presidenta
já assegurou aos eleitores que Aécio planeja privatizar instituições
como Banco do Brasil, Petrobras, os Correios, Caixa Econômica, entre
outras, embora o programa de governo apresentado pelo tucano defenda o
fortalecimento dessas instituições.
O vale-tudo do PT na reta final da campanha
já pode ser constatado em várias cidades brasileiras. Na quinta-feira
23, no Rio, diversos panfletos apócrifos foram apreendidos com um texto
colocando o adversário como um “candidato contra o Rio”. Em São Paulo,
surgiram nas proximidades da estação do metrô Ana Rosa e também na
região da rua Augusta cartazes com os seguintes dizeres: “Aécio é o
atraso para o Brasil”. Outro define o tucano como “o inimigo número 1 da
educação”.
Não bastassem as mentiras e o terror, a
campanha de Dilma também faz um flagrante uso da máquina pública,
inclusive manipulando dados sobre a real situação do País. Por causa
disso, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) vive uma de
suas maiores crises. O instituto foi proibido de divulgar um estudo com
dados sobre a miséria social no Brasil, levantado a partir da Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios. Os dados revelariam que os números
apresentados pela campanha petista não correspondem à realidade. Temendo
possíveis reflexos eleitorais, o Ipea só foi autorizado a divulgar a
pesquisa depois das eleições. Ação totalitária fez com que o diretor de
Estudos e Políticas Sociais, Herton Araújo, pedisse a exoneração do
cargo. Não se trata do primeiro estudo preso nas gavetas do Ipea. Em
setembro foi engavetado outro levantamento, feito com base nos dados das
declarações de Imposto de Renda de brasileiros, que mostrava que a
concentração de renda havia aumentado no Brasil entre 2006 e 2012. São
dados que contrariam o discurso recorrente dos governos petistas.
Também em relação aos indicadores da
educação, o governo de Dilma vem usando a chamada prática de Ricupero,
ex-ministro do governo Itamar: o que é bom a gente divulga, o que é ruim
a gente esconde. As divulgações de dados negativos que poderiam
prejudicar a campanha petista foram simplesmente adiadas. Informações
atualizadas sobre o desempenho dos estudantes brasileiros em português e
matemática e números sobre a arrecadação de tributos só se tornarão
públicos depois do segundo turno. Dados sobre o desmatamento e o
verdadeiro contingente de miseráveis no Brasil também estão suspensos.
No caso da educação, os índices obtidos através de um exame nacional a
que são submetidos sete milhões de alunos a cada dois anos
tradicionalmente são mostrados até o mês de agosto. Este ano foi
diferente. Em setembro, o Ministério da Educação divulgou o indicador
que tem como base o ano de 2013, mas não mostrou o resultado em cada
disciplina. A divulgação sobre a arrecadação de tributos, normalmente
divulgada até o dia 25 de cada mês, também está atrasada.
Sobre o desmatamento, os números que
historicamente são revelados mensalmente seguem o mesmo roteiro. Os
indicadores referentes a agosto e setembro só serão conhecidos em
novembro, depois de terminada a eleição. ONGs internacionais têm
afirmado que o índice teria subido 191% entre 2013 e 2014. É assim, com o
uso da máquina pública, manipulação de dados oficiais e uma sucessão de
mentiras e falsas acusações que o PT, o ex-presidente Lula e a
candidata Dilma Rousseff procuram se manter no poder.