Sábado,
9 de maio de 2015
André
Richter - Repórter da Agência Brasil
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, disse hoje
(8) que o depoimento de um ex-diretor do Centro de Informática (Cenin), da
Câmara dos Deputados, "reforça suspeitas" de que o presidente da
Casa, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), foi o autor de requerimentos para
pressionar empresas investigadas na Operação Lava Jato. Cunha é investigado em
um dos inquéritos abertos pelo Supremo Tribunal Federal (STF) contra
parlamentares citados por delatores.
A conclusão consta no pedido de liminar feito por Janot, no
qual o ministro Teori Zavaski, do Supremo, autorizou que uma equipe de
investigação da procuradoria fizesse perícia nos computadores do Cenin, na
segunda-feira (4).
Janot citou depoimento no qual Luiz Antônio Eira, ex-diretor
do Cenin, relatou a três procuradores como funciona o sistema da Câmara, que
registra os requerimentos apresentados pelos deputados. O depoimento foi prestado no dia 29 de abril,
um dia após Eira ser exonerado do cargo de diretor.
“As informações prestadas por Luiz Antônio Souza da Eira, a
seu turno, reforçam as suspeitas de que os arquivos foram de autoria do
deputado federal Eduardo Cunha, e apenas inseridos no Sileg [Sistema de
Informações Legislativas] pela então deputada federal Solange Almeida",
diz Janot.
Eduardo Cunha sustenta que os requerimentos não foram
apresentados por ele, mas por Solange, atual prefeita de Rio Bonito (RJ). A
procuradoria suspeita que os requerimentos foram elaborados por Cunha em 2011,
pois o nome dele aparece como autor em dois deles.
De acordo com depoimento de delação premiada do doleiro
Alberto Youssef, Cunha teria feito requerimentos contra as empresas Samsung e
Mitsui após suspensão do pagamento de propinas. As empresas são investigadas na
Operação Lava Jato em contratos de aluguel de um navio-plataforma para a
Petrobras.
Pelo Twitter, o presidente da Câmara disse que não foi o
autor dos requerimentos. “Quero deixar bem claro que não fui autor de qualquer
resto atribuído a mim. Ao contrario, a única prova real é que a ex-deputada
Solange Almeida autenticou na sua máquina os tais restos de informações. Os
códigos dos deputados são normalmente utilizados por seus assessores. No meu
caso, eu sequer sei o meu código. Não sou eu quem digita o meu trabalho, e
senha de deputado é pessoal, mas é delegada a utilização", declarou.
Cunha também disse que o procurador Rodrigo Janot pretende
constrangê-lo com as acusações. "O PGR quer me constranger, e me escolheu
para investigar, e faz isso às vésperas do STF julgar o meu agravo regimental
contra o inquérito. A operação na Câmara foi desnecessária, porque bastava
oficiar que ele teria resultado igual. O que ele fez foi uma verdadeira afronta
ao Parlamento, induzindo o STF a erro de que eu poderia subtrair do sistema da
Câmara informações. E mais, omite na petição ao STF se houve depoimento do Sr.
Júlio Camargo, seu conteúdo já divulgado, que não confirma a versão de
Youssef", acrescentou.