Novembro
2
Dia de Finados
No
México, os vivos convidam os mortos, na noite de hoje de todo ano, e os mortos
comem e bebem e dançam e ficam em dia com as intrigas e as novidades da vizinhança.
Mas no
final da noite, quando os sinos e a primeira luz da alvorada lhes dizem adeus,
alguns mortos se fazem de vivos e se escondem nas ramagens ou entre as tumbas
do campo-santo. Então as pessoas os espantam a vassouradas: vão embora de uma vez, deixem a gente em
paz, não queremos ver vocês até o ano que vem.
É que os
defuntos são desse tipo de visita que gosta de ir ficando.
No
Haiti, uma antiga tradição proíbe levar o ataúde em linha reta até o cemitério.
O cortejo segue em zigue-zague e dando muitas voltas, por aqui, por ali e outra
vez por aqui, para despistar o defunto, e para que ele não consiga mais
encontrar o caminho de volta para casa.
No
Haiti, como em todo lugar, os mortos são muitíssimos mais que os vivos.
A
minoria vivente se defende do jeito que dá.
Eduardo
Galeano no livro ‘Os filhos dos dias’,
2ª
edição, página 348, L&PM Editores