Terça, 17 de novembro de 2015
Do Esquerda.Net
Bancos como J.P. Morgan, Goldman Sachs e Morgan Stanley sofreram quedas significativas nos seus níveis de lucro durante o terceiro trimestre deste ano. Perante essa situação, não há dúvidas de que pressionarão o governo para continuar a receber recursos extraordinários e tratamento especial. Por Ariel Noyola Rodríguez.
17 de Novembro, 2015
Bancos como J.P. Morgan, Goldman Sachs e Morgan Stanley sofreram quedas significativas nos seus níveis de lucro durante o terceiro trimestre deste ano
A partir da crise econômica de 2008, os bancos de investimentos de Wall Street passaram a ser os principais beneficiados pelas políticas aplicadas pela Reserva Federal e pelo Departamento do Tesouro dos Estados Unidos. Não obstante, instituições como o J.P. Morgan, Goldman Sachs, Morgan Stanley, entre outras, sofreram quedas significativas nos seus níveis de lucro durante o terceiro trimestre deste ano. Apesar do enorme apoio governamental, foi impossível aos gigantes financeiros norte-americanos registar números altos e positivos de forma estável, já que se encontram encravados numa economia que ainda está longe de alcançar a recuperação.
Sob o capitalismo, nada dura para
sempre. As crises econômicas sucedem-se uma após a outra. As contradições do
sistema nunca são resolvidas, somente transferidas de um setor para outro, de
um país para outro. Trata-se, portanto, de uma “crise circular”, segundo
definição do marxista britânico David Harvey. O Estado desempenha um papel
crucial, mas ao mesmo tempo ajuda a gerar as condições para a acumulação
capitalista. Quando a crise estoura, só a intervenção do Estado pode aliviar os
danos sofridos pelas empresas e pelos bancos.
Publicamente, os empresários preferem
advogar a liberdade absoluta do mercado, mas a verdade é que quando estão com
problemas, quando estão a ponto de falir, são os primeiros a pedir ajuda aos
seus respetivos governos.
É o que se observa nos Estados
Unidos, a principal potência capitalista do planeta. Ao longo dos Anos 90, as
inovações financeiras serviram para gerar a ilusão de que as crises econômicas
já não seriam tão dramáticas como antes. Colapsos de um tamanho similar ao da
Grande Depressão de 1929 pareciam superados.
Segundo a perspetiva dos
investidores, a intervenção governamental deve ser muito limitada, caso
contrário pode gerar distorções nos preços dos títulos financeiros. Contudo,
essa perceção mudou depois a falência do Lehman Brothers, já que se algo evitou
que os demais bancos tivessem o mesmo destino foi precisamente a agressiva
intervenção estatal.
Desde então, JP Morgan Chase, Goldman
Sachs, Morgan Stanley, Bank of America, entre outros, são como afilhados do
governo dos Estados Unidos. Como esquecer que em pleno desastre financeiro
global, em setembro de 2008, Henry Paulson, que nesse momento era responsável
pelo Departamento do Tesouro, exigiu que os congressistas do seu país
aprovassem imediatamente um pacote de resgate de 700 mil milhões de dólares.
No começo, os parlamentares
norte-americanos resistiram, mas finalmente, com algumas pequenas alterações, o
projeto foi aprovado. Assim, centenas de milhares de milhões de dólares dos
contribuintes foram destinados à aquisição de ativos hipotecários que não
valiam nada (o chamado subprime) para salvar os bancos da
insolvência.
Em dezembro daquele mesmo ano, Ben
Bernanke, então presidente do sistema da Reserva Federal (Fed, na sigla em
inglês), diminuiu a taxa de juro dos fundos federais (federal funds rate)
para um nível próximo de zero, e meses depois iniciou um programa de estímulos
monetários, também conhecido pelo nome de “Quantitative Easing”.
Entretanto, o mercado de trabalho
continua estagnado, e os investimentos massivos não aparecem. A dívida pública
disparou: enquanto que, em 2006 era de 10,6 mil milhões de dólares, agora está
acima dos 18 mil milhões de dólares. A dívida das famílias, embora tenha
diminuído um pouco, ainda se encontra longe dos níveis registados antes de
2005. Isso porque os bancos utilizam os seus capitais mais para investir na
bolsa de valores de Nova York e menos para outorgar crédito às atividades
produtivas.
Agora, a prosperidade bancária
esgota-se. Os lucros dos grandes bancos de investimentos estão em queda livre,
segundo o revelado por informes dos bancos no terceiro trimestre deste ano. À
exceção do Wells Fargo e do Bank of America, o grosso dos bancos
norte-americanos registou números dececionantes. Diante das incertezas globais,
os agentes do mercado desfizeram-se dos seus investimentos nos mercados cambiais,
de títulos do tesouro e de matérias-primas (commodities).
Antes de agosto de 2015, quando o
índice Dow Jones – que aglutina as maiores empresas industriais dos Estados
Unidos – caiu mil pontos, os mercados financeiros pareciam calmos. Como o
produto interno bruto (PIB) da economia dos EUA crescia acima das expectativas,
e as políticas de austeridade foram impostas na Grécia meses antes, os agentes
de investimentos estavam tranquilos.
Pelo contrário, as últimas semanas
deixaram em evidência que essa tranquilidade é muito frágil. Uma das principais
preocupações mundiais é a China. Apesar do gigante asiático conservar níveis de
acumulação de capital superiores aos que se observam nos países
industrializados, a desaceleração da sua indústria vem golpeando severamente os
países emergentes, em especial os exportadores de matérias-primas (commodities).
Nos Estados Unidos, o panorama
continua a ser obscuro. O crescimento do PIB no período entre julho e setembro
é deprimente, uma expansão de apenas 1,5 % em termos anuais. O mesmo acontece
com os números do mercado de trabalho.
Nada permite concluir que a
recuperação do nível de emprego será sólida, e muito menos que o processo será
de crescimento estável. O que se pode observar como evidência é que o nível de
rentabilidade geral se mantém baixo demais, por isso os bancos norte-americanos
tiveram os seus lucros diminuídos.
É impossível especular nos mercados
de renda variável (ações, imóveis, matérias-primas, etc) e obter altos
rendimentos eternamente. Os bancos de investimentos dos Estados Unidos
encontram-se num impasse, já que foram muito beneficiados pelas políticas
econômicas dos anos recentes, e agora essa abundância parece que acaba.
Perante essa situação não há dúvidas
de que pressionarão com todas as suas forças para continuar a receber recursos
extraordinários e tratamento especial por parte do governo dos Estados Unidos.
Buscarão sabotar qualquer reforma financeira que pretenda pôr fim à sua
exuberância. Por essa razão, a possibilidade de mudar o estado das coisas
dependerá, em última instância, da capacidade de resistência dos de baixo.
Artigo de Ariel Noyola
Rodríguez, economista da Universidade Nacional Autónoma do México,
publicado em Contralínea. Tradução de Victor Farinelli para Carta Maior