Quarta, 11 de novembro de 2015
Crédito da foto: Antônio Cruz/Agência Brasil
Desde que as primeiras
imagens do rompimento das barragens em Mariana (MG) começaram a inundar a
internet, uma verdadeira operação de guerra para transformar no
imaginário nacional um gravíssimo episódio de inúmeras negligências que
culminaram em destruição em massa e perdas de vidas em um mero desastre
ambiental causado pela natureza.
Imediatamente, vários veículos de comunicação de massa insistiram que
tremores de terra teriam ocorrido na região – tremores de baixa
intensidade como os noticiados ocorrem em inúmeros pontos do território
nacional e de forma corriqueira, mas foram usados nas primeiras 48 horas
do rompimento das barragens como possível causa.
O fato é que a Vale (Antiga Vale do Rio Doce) é também uma gigante do
mercado publicitário e justamente por isso seu nome foi
convenientemente excluído da maior parte das matérias jornalísticas, que
citavam especialmente a empresa Samarco, que é controlada diretamente
pela Vale e pela anglo-australiana BHP.
Danos ambientais irreversíveis e perdas monstruosas na fauna e flora
são marcas do setor da mineração. E o mar de lama que corre de Minas
para o Espírito Santo está gerando milhares de afogamentos de animais
domesticados e silvestres deixando um prejuízo ambiental incalculável e
talvez irreparável.
Além disso, corre na Câmara dos Deputados uma tentativa de criar um
novo marco regulatório para o setor da mineração. Este Novo Código da
Mineração está sendo tocado por deputados financiados pelo setor e que
assumem o papel de representantes dos interesses das grandes empresas,
que exigem em troca do robusto financiamento de suas campanhas
eleitorais menos regulação ambiental e trabalhista e maior
flexibilização das regras de segurança no que tange o entorno dessas
atividades e possíveis atingidos.
Vide regra essas normas já não são todas aplicadas hoje. O próprio
Relatório Anual de Sustentabilidade da Samarco aponta aumento
sistemático de produção de minério de ferro sem nenhum reforço nas
barragens, crescendo o volume de rejeitos depositados. Só agora a
Samarco instalou sirenes para avisar a população de possíveis
emergências, uma mesquinharia que custou pelo menos dezenas de vidas
humanas.
A mineração é um dos setores mais predatórios do planeta e também um
dos grandes financiadores de políticos para que seus interesses sejam
defendidos no Congresso Nacional. Dois de seus principais aliados na
Câmara, que cuidam dos interesses dessas empresas são o próprio Eduardo
Cunha (PMDB-RJ) e o relator do novo código, Leonardo Quintão (PMDB – MG)
que teve mais de 40% de sua campanha financiada pelo setor.
Havia até então um enorme interesse em acelerar a tramitação do
documento que promete ser muitíssimo pior que o já terrível Novo Código
Florestal. Resta saber agora se após a tragédia de Mariana (MG) esta
cruzada pela ampliação da mineração e redução dos direitos pelos
atingidos por esta atividade continuará com a mesma força de antes.
O mínimo que a sociedade espera é que esta tragédia obrigue o
parlamento e o governo federal a serem mais criteriosos e exigentes na
regulamentação da atividade de mineração no país, em razão de seu grande
potencial de devastação do meio ambiente e de vidas humanas.
Nosso mandato atua também nesse tema e já apresentou vários
requerimentos na Comissão Especial que discute o novo código da
mineração, inclusive para visitar as áreas diretamente impactadas –
pedido que não foi apreciado pela Comissão.
Também denunciamos, constantemente, a captura da Comissão pelo
financiamento empresarial das grandes mineradoras. De acordo com
documento do IBASE, em 2010, a Vale doou mais de R$ 29 mi para diversos
partidos (http://www.oeco.org.br/…/27451-ibase-lanca-publicacao-quem…/).
Desde 2010, nosso mandato denuncia os abusos e crimes cometidos pela
Vale. Leia o pronunciamento feito na tribuna da Câmara sobre este tema: http://www.ivanvalente.com.br/em-defesa-da-luta-dos-atingi…/.
“Como afirma o próprio movimento, a propaganda da Vale diz que a
empresa é brasileira e que trabalha para promover o desenvolvimento
sustentável do país. Mas as bonitas imagens omitem sua face oculta onde a
Vale está presente. A exploração de minério e outras atividades da
cadeia de siderurgia têm causado, por exemplo, sérios impactos sobre o
meio ambiente e a vida das pessoas. As agressões vão da poluição das
águas com produtos químicos, com intervenção direta na destruição de
aquíferos e rebaixamento de lençóis freáticos, à produção de enormes
volumes de resíduos e emissão de dióxido de carbono na atmosfera”.
Não por acaso a Vale está no Hall da Vergonha do Public Eyes
People`s, por ter sido eleita em 2012 como a pior empresa do mundo
justamente em decorrência do seu histórico de negligências com direitos
humanos e o meio ambiente. Um título que envergonha nosso país em mais
este momento de perda e dor dos desabrigados e familiares das vítimas e
desaparecidos da tragédia de Mariana (MG).
Fonte: Site do Psol