Terça, 10 de novembro de 2015
Wellton Máximo — Repórter da
Agência Brasil
O combate às desigualdades no Brasil está ameaçado pela
política de austeridade e de juros altos que ampliará o desemprego e sufocará a
economia. A avaliação é do Prêmio Nobel de Economia de 2001, Joseph Stiglitz,
entrevistado desta semana do Espaço
Público, da TV Brasil.
Professor da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos,
Stiglitz citou o Brasil como referência na diminuição das desigualdades. Ele
defendeu a continuidade dos investimentos em educação, dos programas de distribuição
de renda, como o Bolsa Família, e da criação de empregos, mas disse que os
ganhos obtidos nos últimos anos estão em risco devido aos cortes de gastos
públicos praticados atualmente.
“O que me preocupa hoje é que vocês estejam impondo
políticas de austeridade, com cortes que sem dúvida aumentarão a taxa de
desemprego e aumentarão as desigualdades”, disse.
Os juros altos no Brasil, disse o Nobel de Economia,
deveriam ser analisados mais a fundo. “As entidades privadas do setor
financeiro [brasileiro] cobram as maiores taxas de juros do mundo. As taxas de
juros sufocam a economia e acabam com o orçamento. E tiram dinheiro que poderia
ser usado para o crescimento, para combater desigualdades, para resolver
diversos problemas”, recomendou.
Para Stiglitz, os juros no Brasil são tão distorcidos que
ele não considera que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES) empreste dinheiro a taxas subsidiadas. “A única parte do mercado
financeiro [brasileiro] que está funcionando, de certa forma, são os bancos de
desenvolvimento, como o BNDES. Eles emprestam a juros razoáveis. Alguns dizem
que são subsidiadas. Não são subsidiadas! São taxas de juros normais,
praticadas em qualquer economia normal”, explicou. Stiglitz considera o BNDES
um exemplo a ser seguido em outros países.
Um dos inspiradores do movimento Occupy Wall Street, que,
quatro anos atrás, levou multidões às ruas de cidades norte-americanas, o
economista explorou os efeitos da concentração de renda sobre a economia no
livro O Preço da Desigualdade, publicado em 2012. Crítico do liberalismo
econômico e das políticas de austeridade, Stiglitz defende a reforma do sistema
financeiro internacional e a elevação dos impostos para os mais ricos para
criar uma economia mais solidária, que proporcione oportunidade aos mais
pobres.
“Quando a desigualdade é grande, sobretudo em termos de
oportunidades, isso significa que as camadas mais baixas estão ficando abaixo
do potencial. Não têm uma educação adequada. Na realidade, ocorre um mau uso,
um subaproveitamento do recurso mais importante: o humano”, declarou. “As
pessoas precisam entender que não existe prosperidade 'do zero'. Somos todos
parte da sociedade. É por isso que ser solidário é tão importante”, disse
Stiglitz que foi economista chefe do Banco Mundial.
Apresentado pelos jornalistas Paulo Moreira Leite e
Florestan Fernandes Júnior, o Espaço Público vai ao ar hoje (10), às 23h, na TV Brasil.