Afundado na
mais profunda crise de incompetência e de caos administrativo, onde nada praticamente
funciona, como, por exemplo, transporte, educação, segurança, saúde etc., o
governo do DF aproveita um desabafo do presidente do Sindicato dos Médico,
Gutemberg Fialho, e tenta virar o jogo. Numa escancarada jogada de
diversionismo, de deslocar o foco real da questão.
Como se não
fosse o próprio GDF que estivesse travado há mais de dez meses (exatos dez
meses e seis dias). Pode até não estar havendo boicote dentro do próprio
governo, mas que parece que está, parece. É difícil acreditar que o caos é só
decorrência da incompetência.
O rei está
nu. E os súditos abandonados.
Ora, não venha
agora o governo com essa chorumela e blá, blá, blá. Não precisa nem ouvir o
governo ou o presidente do SindMédico para constatar o tamanho da crise no DF. Basta ver
jornais, blogs ou TV. O caos está em todos os hospitais públicos do GDF. É caos no Hospital de Base, no Hran,
em Ceilândia, Taguatinga, Sobradinho, Gama, todos.
O grupo que
prometeu implantar uma nova maneira de gestão pública tem provocado, ao
contrário, uma profunda crise.
O governo
anuncia sindicância contra o presidente do SindMédico e até medidas judiciais pelas declarações gravadas em vídeo.
Diversionismo mais bobo não há. E depois não sabe a razão da sua rejeição junto à população.
Já que o
governo acha que pode virar o jogo contra os trabalhadores, usando o episódio
do desabafo do presidente do sindicato dos médicos, leia a seguir texto publicado
nesta sexta (6/11) no site do SindMédico.
Eis o texto:
Sabotagem
Desde o mês de janeiro, o presidente do Sindicato dos
Médicos do Distrito Federal (SindMédico-DF), Gutemberg Fialho, tem, reiteradas
vezes, alertado o governo de que é necessário estabelecer um relacionamento
harmônico e manter um canal de diálogo. Foi assim na negociação do pagamento
dos atrasados de 2014, em janeiro; em reunião com representantes do Ministério
Público e secretários, quando do escalonamento dos salários; na questão da Ação
de Inconstitucionalidade contra as leis dos reajustes, em abril; e na
negociação que precedeu o atual movimento grevista.
Essa sequência de circunstâncias em que o governador
Rodrigo Rollemberg foi mal assessorado e tomou decisões infelizes colocou sua
gestão em rota de colisão com o conjunto dos servidores públicos. O ápice foi o
confronto da Polícia Militar com os professores, na semana passada, que
culminou com o pedido de demissão do secretário Artur Trindade. O governo atropela
a si mesmo.
Naquela mesma reunião do dia 20 de outubro, na qual
palavras fortes foram proferidas por sindicalistas e parlamentares dirigidas ao
governo se demonstrou o descompasso. Os secretários Sérgio Sampaio e Marcos
Dantas e o subsecretário Igor Tokarski assumiram um compromisso de abrir as
contas do governo à análise de técnicos indicados pela Câmara e pelos
sindicatos para apresentação de um cronograma de pagamentos dos reajustes até a
segunda-feira seguinte. Sete dias depois, o governador negou que isso tivesse
ocorrido (também há vídeo, na internet, com o compromisso dos
secretários).
O próprio retorno das categorias ao trabalho após as
reuniões com Rollemberg é uma demonstração de que quando há diálogo existem
encaminhamentos possíveis sem radicalização, ainda que as propostas
apresentadas não agradem os servidores. Mas por que o governador demorou tanto?
Foram necessários um evento de proporção de escândalo, a instalação de uma
crise no comando da Segurança Pública e a intervenção de toda a bancada do
Distrito Federal no Congresso Nacional?
É ainda mais preocupante que o governo tome como ameaça um
aviso de uma constatação óbvia: se continuar a demonizar o servidor público, se
não tentar angariar o apoio da categoria, se não cumprir promessas e acordos,
se não buscar meios de cumprir suas obrigações, se não passar a formalizar seus
atos e dar mais clareza às suas ações, este governo vai ter sérios problemas
nos próximos três anos. E clareza não é repetir um bordão até que pareça um
discurso real. Ninguém vai trabalhar com boa vontade se sentindo aviltado.
O servidor público, sim, tem motivos e se sente ameaçado a
cada dia. Ameaçado pelas condições de trabalho adversas, por explosões de
descontentamento dos usuários dos serviços públicos descontentes com situações
que eles não podem resolver, pois dependem dos gestores. E, no último ano,
ameaçados de não ter como pagar plano de saúde e escola para os filhos. O que o
governo está oferecendo aos servidores, até agora, são perdas salariais que, em
outubro de 2016, terão chegado a, no mínimo, 20%.
Se ilude o governo ao pensar que vai ter a boa vontade de
um trabalhador submetido a essas situações. O que ameaça o governo, além da
pouca capacidade que tem mostrado na gestão da coisa pública, é a inabilidade
de lidar com os trabalhadores e com as forças que movem a política do Distrito
Federal. Um bom governo não busca eleger inimigos, costura acordos e cria
alianças pelo bem da coletividade.