Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Sabotagem: Gutemberg na mira de Rollembeg. E Rollemberg não sai da mira da população do DF

Sexta, 6 de novembro de 2015
Afundado na mais profunda crise de incompetência e de caos administrativo, onde nada praticamente funciona, como, por exemplo, transporte, educação, segurança, saúde etc., o governo do DF aproveita um desabafo do presidente do Sindicato dos Médico, Gutemberg Fialho, e tenta virar o jogo. Numa escancarada jogada de diversionismo, de deslocar o foco real da questão.
Como se não fosse o próprio GDF que estivesse travado há mais de dez meses (exatos dez meses e seis dias). Pode até não estar havendo boicote dentro do próprio governo, mas que parece que está, parece. É difícil acreditar que o caos é só decorrência da incompetência.
O rei está nu. E os súditos abandonados.
Ora, não venha agora o governo com essa chorumela e blá, blá, blá. Não precisa nem ouvir o governo ou o presidente do SindMédico para constatar o tamanho da crise no DF. Basta ver jornais, blogs ou TV. O caos está em todos os hospitais públicos  do GDF. É caos no Hospital de Base, no Hran, em Ceilândia, Taguatinga, Sobradinho, Gama, todos.
O grupo que prometeu implantar uma nova maneira de gestão pública tem provocado, ao contrário, uma profunda crise.
O governo anuncia sindicância contra o presidente do SindMédico e até medidas judiciais pelas declarações gravadas em vídeo. Diversionismo mais bobo não há. E depois não sabe a razão da sua rejeição junto à população.
Já que o governo acha que pode virar o jogo contra os trabalhadores, usando o episódio do desabafo do presidente do sindicato dos médicos, leia a seguir texto publicado nesta sexta (6/11) no site do SindMédico.
Eis o texto:
Sabotagem
Desde o mês de janeiro, o presidente do Sindicato dos Médicos do Distrito Federal (SindMédico-DF), Gutemberg Fialho, tem, reiteradas vezes, alertado o governo de que é necessário estabelecer um relacionamento harmônico e manter um canal de diálogo. Foi assim na negociação do pagamento dos atrasados de 2014, em janeiro; em reunião com representantes do Ministério Público e secretários, quando do escalonamento dos salários; na questão da Ação de Inconstitucionalidade contra as leis dos reajustes, em abril; e na negociação que precedeu o atual movimento grevista.
Essa sequência de circunstâncias em que o governador Rodrigo Rollemberg foi mal assessorado e tomou decisões infelizes colocou sua gestão em rota de colisão com o conjunto dos servidores públicos. O ápice foi o confronto da Polícia Militar com os professores, na semana passada, que culminou com o pedido de demissão do secretário Artur Trindade. O governo atropela a si mesmo.
Naquela mesma reunião do dia 20 de outubro, na qual palavras fortes foram proferidas por sindicalistas e parlamentares dirigidas ao governo se demonstrou o descompasso. Os secretários Sérgio Sampaio e Marcos Dantas e o subsecretário Igor Tokarski assumiram um compromisso de abrir as contas do governo à análise de técnicos indicados pela Câmara e pelos sindicatos para apresentação de um cronograma de pagamentos dos reajustes até a segunda-feira seguinte. Sete dias depois, o governador negou que isso tivesse ocorrido (também há vídeo, na internet, com o compromisso dos secretários). 
O próprio retorno das categorias ao trabalho após as reuniões com Rollemberg é uma demonstração de que quando há diálogo existem encaminhamentos possíveis sem radicalização, ainda que as propostas apresentadas não agradem os servidores. Mas por que o governador demorou tanto? Foram necessários um evento de proporção de escândalo, a instalação de uma crise no comando da Segurança Pública e a intervenção de toda a bancada do Distrito Federal no Congresso Nacional?
É ainda mais preocupante que o governo tome como ameaça um aviso de uma constatação óbvia: se continuar a demonizar o servidor público, se não tentar angariar o apoio da categoria, se não cumprir promessas e acordos, se não buscar meios de cumprir suas obrigações, se não passar a formalizar seus atos e dar mais clareza às suas ações, este governo vai ter sérios problemas nos próximos três anos. E clareza não é repetir um bordão até que pareça um discurso real. Ninguém vai trabalhar com boa vontade se sentindo aviltado.
O servidor público, sim, tem motivos e se sente ameaçado a cada dia. Ameaçado pelas condições de trabalho adversas, por explosões de descontentamento dos usuários dos serviços públicos descontentes com situações que eles não podem resolver, pois dependem dos gestores. E, no último ano, ameaçados de não ter como pagar plano de saúde e escola para os filhos. O que o governo está oferecendo aos servidores, até agora, são perdas salariais que, em outubro de 2016, terão chegado a, no mínimo, 20%. 
Se ilude o governo ao pensar que vai ter a boa vontade de um trabalhador submetido a essas situações. O que ameaça o governo, além da pouca capacidade que tem mostrado na gestão da coisa pública, é a inabilidade de lidar com os trabalhadores e com as forças que movem a política do Distrito Federal. Um bom governo não busca eleger inimigos, costura acordos e cria alianças pelo bem da coletividade.