Sexta, 11 de novembro de 2011
Da revista eletrônica QuidNovi
EXCLUSIVO: O preço da denúncia de Daniel Tavares contra o governador do DF Agnelo Queiroz
Por Mino Pedrosa
Nas últimas
semanas a Capital Federal foi coberta por uma lona colorida desvendada
para todo o país, mas que na realidade estava sendo montada desde a
posse do governador Agnelo Queiroz em janeiro deste ano. No picadeiro,
as trapalhadas criminosas da carreira política do governador Agnelo
(PT). Na platéia, a população atenta de Brasília sempre pronta a
responder a um grande espetáculo. No camarote VIP, o vice – governador
Tadeu Filipelli ( PMDB) e também algoz nos bastidores, cobiçando a
cadeira do Palácio do Buriti. No destaque do espetáculo, o malabarista e
delator Daniel Tavares, ex-funcionário do Laboratório União
Química. Dançando na cena, a bailarina e deputada distrital Celina Leão
(PSD). No patrocínio do espetáculo o empresário Marcos Pereira
Lombardi, o conhecido Marcola. Animando o show, o sempre ardiloso Gato
de Botas senador Gim Argelo (PTB-DF). Na arrecadação e bilheteria
Eduardo Pedrosa, irmão da deputada distrital Eliana Pedrosa (PSD)
responsável por toda a direção desta cena. Na portaria, fazendo a
segurança do governador Agnelo Queiroz, o sempre vigilante deputado
distrital Chico (PT). A “produção” será mostrada com exclusividade pela
Revista Eletrônica Quidnovi que revela agora os bastidores deste
circo.
Um
telefonema de Daniel Tavares para um ex- assessor de Gim Argelo, deu
início a uma história policial envolvendo o Governador do Distrito
Federal Agnelo Queiroz: o ex-funcionário do Laboratório União Química
tentava fazer parte do rol dos delatores dos crimes praticados pelo
governador na sua trajetória política.
Daniel Tavares
Logo
após a posse de Agnelo em janeiro de 2011, Daniel procurou a imprensa e
revelou atos de corrupção envolvendo o governador do DF quando estava à
frente da ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Na
ocasião, Daniel já tentava tirar proveito das informações que até a
época mantinha em segredo. Ameaçava denunciar o governador com
gravações de áudio, recibos de transferências bancárias e vídeos
comprovando o pagamento de propina a Agnelo. Procurou a imprensa
(revistas, jornais, blogs) com o mesmo discurso e pedia dinheiro para
garantir sua segurança em outro Estado. Por outro lado, fazia chegar aos
ouvidos do governador o contato que estava tendo com a imprensa. Assim
começou o processo de chantagem.
A pressão foi forte e Agnelo então cedeu a Daniel nomeando-o ex-funcionário da União Química e a esposa, para cargos comissionados no GDF em troca do silêncio. Mas para Daniel isto era pouco. Foi quando o escândalo das ONGs no Ministério do Esporte envolvendo o soldado quatro estrelas João Dias, estourou no plano nacional e Daniel quis pegar carona, chantageando mais uma vez o Governador do DF, buscando dinheiro para garantir sua estabilidade como empresário no ramo de pizzas.
A ponte seria o amigo, ex-assessor do senador Gim Argelo (PTB) que informou ao telefone não estar mais com Gim e sim com a deputada distrital Eliana Pedrosa (PSD). Daniel gostou da idéia e achou que Eliana poderia ser a empresária a bancar seu silêncio. Para tanto, usou um oficial da PM, amigo comum, para levar a proposta de denúncia à deputada distrital.
Daniel foi então conversar com os irmãos Pedrosa, Eliana e Eduardo e pediu R$ 300 mil para abrir a boca. A deputada distrital olhando seu leque de aliados, traçou o plano a partir da conversa com o sócio oculto nos negócios da família Pedrosa: o vice-governador peemedebista Tadeu Filipelli.
Tadeu Filipelli
Filipelli
, de olho na cadeira do Buriti ainda ocupada pelo petista Agnelo,
sugere aos irmãos Pedrosa que procurem o ex-governador Joaquim Roriz
(PSC) , afim de dar um tom de rivalidade política às denúncias de Daniel
e abafar o caso.
A deputada distrital Eliana tenta contato com o ex-governador Joaquim Roriz, sem sucesso, porque Roriz estava debilitado após uma cirurgia. O outro Pedrosa, Eduardo, investe na filha de Roriz, a deputada distrital Liliane Roriz e sugere que ela peça ao pai R$ 300 mil para arrancar Agnelo do Palácio do Buriti. Mas não revela a estratégia. Liliane não concorda e avisa que o pai está em tratamento de saúde e não deve ser incomodado.
Eduardo então procura o milionário senador Gim Argelo e tenta o patrocínio da Operação Paraguai. Gim não coloca o dinheiro diretamente na mão de Eduardo, mas encaminha o fiel escudeiro e irmão da deputada distrital, Eliana Pedrosa, mentora da Operação, para o seu amigo de todas as horas: o empresário Marcola.
Gim Argelo e Marcola
Eduardo
convence Marcola, mas precisa mostrar o conteúdo das denúncias. Aí,
convida Daniel para um encontro em sua casa, onde sem que Daniel saiba,
gravou toda a conversa narrada pelo delator, adiantando parte do
pagamento para obter o recibo de transferência bancária de R$ 5 mil
efetuados para Agnelo. Com uma amostra das provas nas mãos Marcola
acredita na denúncia de Eduardo e banca a operação.
No
dia seguinte, Eduardo chama Daniel novamente. Desta vez o encontro se
deu na casa da deputada Eliana Pedrosa. Ali estava montado um estúdio
de TV com toda infra estrutura de gravação. Mas havia um problema.
Eliana e Eduardo não queriam aparecer e a solução foi chamar a deputada
Celina Leão, presidente da Comissão de Ética da Câmara Legislativa
para dar um ar de legalidade às denúncias da Operação Paraguai.
Tudo parecia caminhar bem, quando Daniel , na presença de nove pessoas, cobra o pagamento prometido em troca das denúncias e o restante das provas. Neste momento, a gravação pára. Eliana que estava durante todo o tempo em outro cômodo da casa, aparece com o DVD na mão, avisa que não tem o dinheiro e a mídia é quebrada encerrando o pacto com Daniel.
Enquanto isso, os irmãos Pedrosa convencem a deputada distrital Celina Leão a dar continuidade a Operação Paraguai montada por Eliana, mostrando o recibo de transferência bancária de R$ 5 mil de Daniel Tavares para a conta de Agnelo Queiroz no HSBC. Em paralelo, uma das nove pessoas, gravou sem ninguém saber, no telefone celular, o desabafo de Daniel dizendo que estava fazendo aquilo porque precisava de dinheiro. A esposa de Daniel acompanhou toda a gravação. Ou seja, o making off desta história toda já está na Polícia Federal hoje, 10 de novembro de 2011.
Após a reunião, Eduardo Pedrosa se aproximou de Daniel e perguntou se ele estava mesmo disposto a estourar a história. Daniel na hora de assinar o depoimento à Comissão cobrou a fatura: um emprego, três anos de aluguel de um apartamento e mais uma quantia em dinheiro. Celina Leão que não sabia de nenhum pré-acordo com o delator, informou que não haveria nada em troca e achou que o caso estava encerrado. Tudo isto aconteceu na última semana de outubro passado.
Enquanto isso, os rumores corriam na Capital Federal e circulou que existia uma gravação em vídeo na casa de Eliana Pedrosa. Celina pediu a Eliana que entregasse a gravação para ser apresentada na Comissão de Ética. Mas a distrital explicou que o vídeo estava sendo degravado.
Celina Leão
Diante
dos burburinhos que corriam na Capital da República, Celina decidiu
que era chegada a hora da denúncia e resolveu convocar a imprensa, na
semana passada, depois de quase um mês da gravação na casa da colega de
partido. De posse do recibo de transferência bancária de R$ 5 mil de
Daniel Tavares para a conta de Agnelo Queiroz no HSBC, a presidente da
Comissão de Ética da Câmara Distrital denuncia o novo escândalo e cobra
publicamente de Eliana Pedrosa a gravação do depoimento de Daniel feito
na casa da colega. Eliana não entrega o vídeo na hora, explicando que
está sendo feita a degravação, e acaba entregando o material na PF
gravado e editado.
Diante da denúncia apresentada por Celina, chega a Chico Vigilante a possibilidade de um contra-ataque através uma gravação com Daniel desmentindo tudo para salvar Agnelo. A decisão de procurar Daniel foi tomada dentro do Buriti na presença do Governador, advogados, secretários e pessoas estranhas ao Governo. Na reunião, foi avaliado o risco que o interlocutor do Governo correria ao procurar Daniel. Mas a conclusão que chegaram foi de que não haveria alternativa.
Não se sabe quanto custou a Chico Vigilante convencer Daniel a desmentir o depoimento prestado à Comissão de Ética da Câmara Distrital patrocinado por Marcola. Mas, o que a cúpula reunida no Buriti não tinha avaliado foi que a ida do deputado Chico Vigilante ao plenário da Câmara Distrital e a convocação da imprensa para denunciar uma possível armação de adversários políticos fosse levar o caso para a Polícia Federal e o Ministério Público.
Celina Leão no Detalhe .
Eliana Pedrosa e Chico Vigilante em sessão no Plenário da Câmara
Distrital no Dia da Denúncia do Chico Vigilante
Agora as investigações da Polícia vão chegar a esta história e mais uma vez será comprovado outro crime de Agnelo.
Depois da repercussão nacional, o escândalo provocou uma enxurrada de pedidos de impeachment do Governador do DF. Um dos mais consistentes é o apresentado pelo grupo de senadores que faz oposição ao governo petista, cujo conteúdo não conta somente com o crime revelado por Daniel e sim tudo que Agnelo cometeu no passado e trouxe à baila através de nomeações para dentro do GDF, comprovando que o político sempre pagou pelo silêncio usando a máquina administrativa do Governo. Isso é que caracteriza e comprova o crime continuado.
Há poucos dias, a União Química ganhou um presente. Desde 2003 a Indústria Farmacêutica solicitou um empréstimo ao GDF, mas nunca conseguiu sucesso. Agora, justamente no Governo Agnelo, ao qual doou uma quantia na campanha, e está envolvida no escândalo de pagamento de propina para o Governador, foi contemplada. O documento publicado no Portal da Transparência revela a transação.