Domingo, 9 de dezembro de 2012
Ao se
aproximar a desintrusão da Terra Indígena Marãiwatsèdè, após mais de 20 anos de
invasão, quando os não indígenas estão para ser retirados desta área,
multiplicam-se as manifestações de fazendeiros, políticos e dos próprios meios
de comunicação contra a ação da justiça.
Neste
momento de desespero, uma das pessoas mais visadas pelos invasores e pelos que
os defendem é Dom Pedro Casaldáliga, bispo emérito de São Félix do Araguaia, a
quem estão querendo, irresponsável e inescrupulosamente, imputar a
responsabilidade pela demarcação da área Xavante nas terras do Posto da Mata.
As entidades que assinam esta nota querem externar sua mais irrestrita solidariedade a Dom Pedro. Desde o momento em que pisou este chão do Araguaia e mais precisamente, desde a hora em que foi sagrado bispo da Prelazia de São Félix do Araguaia, sua ação sempre se pautou na defesa dos interesses dos mais pobres, os povos indígenas, os posseiros e os peões. Todos sabem que Dom Pedro e a Prelazia sempre deram apoio a todas as ocupações de terra pelos posseiros e sem terra e como estas ocupações foram o suporte que possibilitou a criação da maior parte dos municípios da região.
Em
relação à terra indígena Marãiwatsèdè, dos Xavante, os primeiros moradores da
região nas décadas de 1930, 40 e 50 são testemunhas da presença dos indígenas
na região e como eles perambulavam por toda ela. Foi com a chegada das
empresas agropecuárias, na década de 1960, com apoio do governo militar, que a
Suiá Missu se estabeleceu nas proximidades de uma das aldeias e até mesmo
conseguiu o apoio do Serviço de Proteção ao Indio para se ver livre da
presença dos indígenas. A imprensa nacional noticiou a retirada de 289 xavante
da região os quais foram transportados em aviões da FAB, em 1966, para a aldeia
de São Marcos, no município de Barra do Garças.
Em 1992,
a AGIP, empresa italiana que tinha comprado a Suiá Missu das mãos da família
Ometto, quis se desfazer destas terras. Por ocasião da ECO-92, sob pressão
inclusive internacional, a empresa destinou 165.000 hectares para os Xavante
que, durante todo este tempo, sonhavam em voltar à terra de onde tinham sido
arrancados. Imediatamente fazendeiros e políticos da região fizeram uma
grande campanha para ocupar a área que fora reservada aos Xavante, precisamente
para impedir que os mesmos retornassem. Já no dia 20 de junho de 1992, algumas
áreas tinham sido ocupadas e foi feita uma reunião no Posto da Mata, da qual
participaram políticos de São Félix do Araguaia e de Alto Boa Vista e também
havia repórteres. A reunião foi toda gravada. As falas deixam mais do que claro
que a invasão da área era exatamente para impedir a volta dos
Xavante. “Se a população achou por bem tomar conta dessa terra em vez de
dá-la para os índios, nós temos que dar esse respaldo para o povo” (José
Antônio de Almeida – Bau, prefeito de São Félix do Araguaia). “A
finalidade dessa reunião é tentarmos organizar mais os posseiros que estão
dentro da área... Se for colocar índio no seu habitat natural, tem que mandar
índio lá para Jacareacanga, ou Amazonas, ou Pará...” (Osmar Kalil – Mazim,
candidato a prefeito do Alto Boa Vista). “Nós ajudamos até todos os
posseiros daqui serem localizados... Chegou a um ponto, ou nós ou eles (os
Xavante) porque nós temos o direito... Dizer que aqui tem muito índio?
Aqueles que estão preocupados com os índios que tem que assentar. Tem um monte
de país que não tem índio. Pode levar a metade... Na Itália tem índio? Não, não
tem! Leva! Leva pra lá! Carrega pra lá! Agora, não vem jogar em nós, não...
( Filemon Costa Limoeiro, à época funcionário do Fórum de São Félix do
Araguaia)
A área
reservada aos Xavante foi toda ocupada por fazendeiros, políticos e
comerciantes. Muitos pequenos foram incentivados e apoiados a ocupar algumas
pequenas áreas para dar cobertura aos grandes. O governo da República, porém
estava agindo e logo, em 1993, declarou a área como Terra Indígena que
foi demarcada e, em 1998 homologada pelo presidente FHC. Só agora é que a
justiça está reconhecendo de maneira definitiva o direito maior dos
índios. O que D. Pedro sempre pediu, em relação a esta terra, foi que os
pequenos que entraram enganados, fossem assentados em outras terras da Reformas
Agrária. Mas o que se vê é que, ontem como hoje, os pequenos continuam sendo
massa de manobra nas mãos dos grandes e dos políticos na tentativa de não se
garantir aos povos indígenas um direito que lhes é reconhecido pela
Constituição Brasileira.
Mais uma
vez, queremos manifestar nossa solidariedade a Dom Pedro e denunciar mais esta
mentira de parte daqueles que tentam eximir-se da sua responsabilidade sobre a
situação de sofrimento, tensão e ameaça de violência que eles mesmos criaram,
jogando esta responsabilidade sobre os ombros de nosso bispo emérito.
5 de
dezembro de 2012
Conselho
Indigenista Missionário – CIMI - Brasilia
Comissão
Pastoral da Terra – CPT - Goiânia
Escritório
de Direitos Humanos da Prelazia de São Félix do Araguaia – São Félix do
Araguaia
Associação
de Educação e Assistência Social Nossa Senhora da Assunção – ANSA – São Félix
do Araguaia
Instituto
Humana Raça Fêmina – Inhurafe – São Félix do Araguaia
Associação
Terra Viva – Porto Alegre do Norte
Associação
Alvorada – Vila Rica
Associação
de Artesanato Arte Nossa – São Félix do Araguaia
Grupo de
Pesquisa Movimentos Sociais e Educação - GPMSE - Cuiabá
Associação
Brasileira de Homeopatia Popular – ABHP - Cuiabá
Fórum de Direitos Humanos e da
Terra de Mato Grosso - FDHT - Cuiabá
Centro Burnier Fé e Justiça –
CBFJ - Cuiabá
Fórum Matogrossense de Meio
Ambiente e Desenvolvimento – FORMAD - Cuiabá
Instituto Caracol – ICARACOL -
Cuiabá
Rede de Educação Ambiental de
Mato Grosso – REMTEA - Cuiabá