Sábado, 13 de setembro de 2014
Para evitar que o partido
e suas principais lideranças sejam arrastados ao epicentro do escândalo
da Petrobras às vésperas da eleição, a legenda comprou o silêncio de um
grupo de criminosos — e pagou em dólar
Da Revista Veja
Da Revista Veja
Robson Bonin
O PODER E O CRIME - Enivaldo Quadrado (à
direita), o chantagista, é pago pelo PT para manter em segredo o golpe
que resultou no desvio de 6 milhões de reais da Petrobras, em outro caso
de chantagem que envolve o ministro Gilberto Carvalho, o mensaleiro
José Dirceu e o ex-presidente Lula
(Montagem com fotos de Ailton de Freitas-Ag. O Globo/Joel
Rodrigues-Folhapress/Rodolfo Buhrer-Estadão Conteúdo/Jeferson
Coppola/VEJA)
Desde que estourou o escândalo da Petrobras, o PT é vítima de uma
chantagem. De posse de um documento e informações que comprovam a
participação dos principais líderes petistas num desfalque milionário
nos cofres da estatal, chantagistas procuraram a direção do PT e
ameaçaram contar o que sabiam sobre o golpe caso não fossem devidamente
remunerados. Às vésperas da corrida presidencial, essas revelações
levariam nomes importantes do partido para o epicentro do escândalo,
entre eles o ex-presidente Lula e o ministro Gilberto Carvalho, um dos
coordenadores da campanha de Dilma Rousseff, e ressuscitariam velhos
fantasmas do mensalão. No cenário menos otimista, os segredos dos
criminosos, se revelados, prenunciariam uma tragédia eleitoral. Tudo o
que o PT quer evitar. Dirigentes do partido avaliaram os riscos e
decidiram que o melhor era ceder aos chantagistas — e assim foi feito,
com uma pilha de dólares.
O PT conhece como poucos o que o dinheiro sujo é capaz de comprar.
Com ele, subornou parlamentares no primeiro mandato de Lula e, quando
descoberto o mensalão, tentou comprar o silêncio do operador do esquema,
Marcos Valério. Ao pressentir a sua condenação à prisão, o próprio
Valério deu mais detalhes dessa relação de fidelidade entre o partido e
os recursos surrupiados dos contribuintes. Em depoimento ao Ministério
Público, ele afirmou que o PT usou a Petrobras para levantar 6 milhões
de reais e pagar um empresário que ameaçava envolver Lula, Gilberto
Carvalho e o mensaleiro preso José Dirceu na teia criminosa que resultou
no assassinato, em 2001, do petista Celso Daniel, então prefeito de
Santo André. A denúncia de Valério não prosperou. Faltavam provas a ela.
Não faltam mais. Os dólares serviram para silenciar o chantagista
Enivaldo Quadrado, ele próprio participante da engenharia financeira do
golpe contra os cofres da maior estatal brasileira — e agora o
personagem principal de mais uma trama que envolve poder e dinheiro.
Quadrado deu um ultimato ao tesoureiro do PT, João Vacari Neto: ou
era devidamente remunerado ou daria à polícia os detalhes de documento
apreendido no escritório do doleiro Alberto Youssef. O documento era um
contrato de empréstimo entre a 2 S Participações, de Marcos Valério, e a
Expresso Nova Santo André, de Ronan Maria Pinto. O valor desse contrato
é de 6 milhões de reais, exatamente a quantia que Valério dissera ao MP
que o PT levantara na Petrobras para abafar o escândalo em Santo André.
É esse o contrato que prova a denúncia de Valério. É esse o contrato
que, em posse de Quadrado, permitia ao chantagista deitar e rolar sobre
os petistas.