Quarta, 8 de
outubro de 2014
Paulo Victor Chagas — Repórter da Agência Brasil
Paulo Victor Chagas — Repórter da Agência Brasil
Na semana em que os partidos fora do segundo turno das
eleições decidem eventuais apoios na disputa entre Dilma Rousseff (PT) e Aécio
Neves (PSDB), a quarta colocada no pleito, Luciana Genro, comemora o resultado
e o considera "extraordinário". A candidata, que teve mais de 1,6
milhão de votos (1,55% do eleitorado), avalia que conseguiu encantar a
juventude e levar ao debate eleitoral temas que nenhum dos candidatos levantou.
Nem Dilma nem Aécio contemplam ideais do PSOL, diz Luciana
Genro Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
A avaliação de que a candidatura do
PSOL conseguiu sair da campanha melhor do que entrou, por receber parte dos
votos daqueles que participaram das manifestações do ano passado, é
compartilhada pelo cientista político e especialista em comportamento eleitoral
Leonardo Barreto. Para ele, o voto em Luciana não veio só do “radical”, mas
também de um setor da sociedade que é “muito mobilizado”.
O partido conseguiu superar a quantidade de votos da eleição
passada e aumentou a bancada na Câmara de três para cinco deputados. Plínio
Arruda Sampaio, candidato do partido em 2010, teve 0,87% dos votos. Luciana
Genro conseguiu somar quase metade do total de votos obtidos pelas oito menores
candidaturas (3,68 milhões).
“As manifestações de junho contribuíram para que houvesse um
processo de negação da política mais forte”, avalia Luciana Genro. Em
entrevista à Agência Brasil, ela disse que essa apatia é importante em
um primeiro momento, mas insuficiente. O desafio agora, para ela, é organizar
essa insatisfação com a “velha política”, a concentração de renda e os serviços
públicos precários, e assim passar para um processo de afirmação.
De acordo com a fundadora do PSOL, além das defesas do
partido do ponto de vista econômico, como a tributação sobre grandes fortunas,
as bandeiras defendidas por sua candidatura conseguiram aplacar grande apoio
social. Lembrando que as paradas do orgulho LGBT (lésbicas, gays,
bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros) têm reunido milhões de
pessoas, Luciana Genro avalia que “nenhuma candidatura tem a ousadia de colocar
nas campanhas” posições tão claras como a defesa do casamento civil igualitário
para pessoas do mesmo sexo e a criminalização da homofobia.
Segundo Leonardo Barreto, a candidata mirou alguns nichos
específicos e continuou apostando em extremidades ideológicas, como a esquerda
mais clássica. “Os partidos que não estão disputando a vitória têm uma
liberdade maior de discurso e de posicionamentos do que os que estão atrás do
eleitor mediano. Parece que isso explica o desempenho dela.”
Ao avaliar que as principais bandeiras apresentadas em seu
programa “não serão resolvidas por nenhum dos dois candidatos”, Luciana disse
que a posição para o segundo turno será definida nesta quarta-feira (8) em
reunião da Executiva Nacional. “O que temos de consenso é de que não daremos
nenhum voto para o Aécio, que evidentemente significa retrocesso. Isso não
significa apoio a Dilma, têm muitos eleitores do PSOL que vão declarar voto
nulo, por exemplo.”
O cientista político justifica que esse voto nulo se deve ao
fato de o partido encampar muito o discurso antissistema, inclusive contrário
ao funcionamento eleitoral. Na avaliação dele, porém, “por gravidade”, os
eleitores da socialista tendem a se aproximar de Dilma.
Luciana Genro, que foi deputada federal entre 2003 e 2010,
pretende continuar cumprindo seu papel de figura pública e dirigente do partido.
“Para fazer política você não necessariamente precisa ocupar cargo público.
Acho que a força que eu possa ter está diretamente relacionada à força do
PSOL”, avaliou, ao acrescentar que os deputados eleitos do partido terão um
papel importante de seguir defendendo as bandeiras que levantou na campanha.
O cientista político acredita que, apesar de não ter um
mandato, Luciana Genro vai continuar desempenhando um papel nesse cenário. Ele
considera que esse eleitor mais mobilizado das manifestações trouxe uma agenda
persistente ao país, e que o desempenho de Luciana foi importante para destacar
seguimentos minoritários que devem ser valorizados e são importantes para a
democracia.
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