Texto transcrito da Tribuna da Internet
Cristovam
Buarque
O que faz um grande político é chegar e manter-se no
poder. O que faz um grande estadista é usar o poder para transformar seu país
na direção de uma economia moderna e dinâmica e de uma sociedade harmônica. Mas
o que faz um político e estadista ser um mito é ter sua mensagem mantida ao
longo de décadas ou mesmo de séculos.
Jango foi um grande político ao chegar ao cume da carreira
como presidente de seu país, mesmo tendo escolhido abrir mão do poder para não
abrir mão de princípios e valores. Preferiu princípios ao não aceitar adaptação
às forças da direita e preferiu valores ao recusar a ideia de uma guerra civil.
Ele foi um estadista porque foi responsável por uma grande
valorização do salário mínimo antes mesmo de ser presidente. Deve-se a ele o
esforço para reduzir a desigualdade regional e a marcha pela justiça social.
Mas o que faz dele um grande personagem, lendário, é a permanência de sua
mensagem. Nesse sentido, Jango ficou ainda mais forte no imaginário pelo que
ele não conseguiu fazer. Cinquenta anos depois de seu governo, ele continua
atual e necessário.
REFORMAS
As reformas que ele encarnou, e só ele encarnou, continuam
necessárias. A reforma agrária, apesar de todo avanço técnico e da urbanização,
ainda é um assunto não resolvido. A reforma educacional – que depois dele
Brizola, seu parceiro, encarnou – ainda é o maior dos problemas brasileiros.
Também continuam sendo necessárias a reforma dos sistemas financeiro e fiscal,
a busca de um projeto de desenvolvimento industrial, a quebra das desigualdades
regional e social.
Todas as reformas de Jango, pelas quais ele lutou e
morreu, continuam temas ainda vivos, não resolvidos, não arquivados pela
História. Por isso, além de político e estadista, ele é um símbolo, um mito
vivo para as gerações que vieram depois dele.