Do
site do Psol
Crédito da foto:
Arquivo pessoal
Raul Santiago Rosa é militante do PSOL em São Paulo. Durante
o ato desta terça-feira (12) contra o aumento das tarifas de transporte
público, foi duramente reprimido pela Polícia Militar e, em meio a diversas
ameaças, recebeu uma ordem de policiais para tirar a camisa que vestia, não por
acaso com os símbolos do partido, que ficou como demonstra a foto. Leia abaixo
o seu depoimento:
“Estava na concentração 40 minutos antes do ato ‘começar’.
Mal os manifestantes se posicionaram para marchar já iniciou o bombardeio. A
polícia estava visivelmente bem organizada, armada e fardada, e todas as vias
foram fechadas de modo a nos encurralar.
Eu já estive em várias manifestações com repressão, mas
nunca vi essa quantidade de bombas ser jogada no meio da multidão. Várias
pessoas se machucaram muito seriamente.
Leia mais: A barbárie policial em São Paulo
Estava com minha namorada, que estava ajudando uma outra
garota, e neste momento estávamos com as mãos para o alto quando jogaram uma
bomba de estilhaço entre eu e ela. Ambos fomos atingidos, eu um pouco mais
gravemente pois os estilhaços se espalharam pela perna, costas e braço. Neste
momento nos perdemos.
Demorei um tempo até conseguir falar com ela, e quando
consegui imediatamente fui encontrá-la. Então, quando estava no último
quarteirão da Rua Haddock Lobo em direção à Av. Paulista, fui abordado por 5
policiais da PM.
O motorista tirou a arma de fogo letal de dentro do carro
para me fazer parar. Joguei minha mala no chão e eles mandaram eu abrir as
pernas e colocar a mão na cabeça de costas. Neste momento eles gritaram:
-Sua mala está pesada né? Tem explosivo aí? – Fiquei com
muito medo de eles implantarem algo. -Você tem passagem na delegacia? O que faz
da vida?
Eu respondi que não tinha, que era estudante e trabalhador
de carteira assinada, que estava lá porque era contra o aumento.
– Repete para mim: você tem sorte de estar vivo – repeti – é
a primeira vez que te vejo aqui, se eu te ver de novo em manifestaçãozinha de
esquerda vou quebrar seus dentes e você vai cuspir um a um.
Estava com muito medo, mas tentei olhar as identificações
dele. Eles não deixavam.
-Olho nos meus olhos seu vagabundo, vou dar um tapa nessa
orelha com brinco até rasgar ele fora.
Depois disso eles tiraram dezenas de fotos minhas, do meu
rosto com RG etc.
-Você a no meu “book” agora, se eu te pegar de novo vou te estraçalhar.
-Você a no meu “book” agora, se eu te pegar de novo vou te estraçalhar.
Eles revistaram minha mala inteira, ficaram me
aterrorizando. Depois que terminou eu segurava minha camiseta para cima pois
ela encostava no machucado do estilhaço da bala e ardia muito.
– Tomou bala é? Isso é menos do que você merece, eu tô com vontade de te encher de porrada aqui. Tira essa camiseta do partido e põe na mala que cê tá liberado, cê entendeu?
– Tomou bala é? Isso é menos do que você merece, eu tô com vontade de te encher de porrada aqui. Tira essa camiseta do partido e põe na mala que cê tá liberado, cê entendeu?
Foi horrível, mas eu tive de tirar a camiseta que expressa
minha posição política e colocar dentro da mala como se eu tivesse vergonha
dela. Eu tinha outra camisa que ele me obrigou a vestir e fui embora.
Visivelmente essa equipe da PM estava destacada para
‘apavorar’ a juventude, desestimulando todo mundo a ir nas manifestações. Mas
isso nos fortalece, sabemos que lutar por direitos não é crime, portanto não
devemos nos intimidar. Além disso é um absurdo a repressão ideológica que
sofri, mostrando o retrocesso que é essa polícia militarizada.
Estou feliz de saber que estou fazendo o certo. Se meu
partido é inimigo de quem aumenta a passagem, fecha escolas, precariza a saúde
e bate em trabalhadores e estudante, tenho orgulho de vestir a camisa do PSOL e
tomar quantas bombas forem necessárias para deixar clara a minha posição de que
sou contra a política do governo do estado e da prefeitura.”