Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

O voto de repúdio é a opção mais coerente com a indignação das ruas

Quinta, 9 de outubro de 2014
Do Blog Náufrago da Utopia
Por Celso Lungaretti

"Será considerado eleito presidente o candidato que, registrado por partido político, obtiver a maioria absoluta de votos, não computados os em branco e os nulos."
Está no artigo 77, parágrafo 2º, da Constituição Federal.

Os constituintes de 1988, portanto, agiram eminentemente como políticos, negando aos eleitores um poderoso trunfo para pressionarem os candidatos. Se uma acachapante rejeição tornasse nulo o pleito, estes seriam obrigados a fazerem por merecer um crédito de confiança.

Assim como o fim da obrigatoriedade do voto obrigaria os políticos a darem aos eleitores motivos reais para o comparecimento às urnas.

Mesmo sem efeitos práticos imediatos, um número exorbitante de votos nulos, brancos e abstenções vai ter indiscutível efeito moral. Representará a condenação inequívoca de um sistema político que hoje desrespeita e escamoteia a vontade popular. 
Neste sentido, sintonizado com a voz que se ergueu das ruas em junho de 2013 e os expoentes da política oficial tanto teimaram em ignorar e tanto fizeram para sufocar, desta vez não repetirei a opção tradicional dos homens de esquerda, que, entre o pior dos reformistas e o mais comedido dos direitistas, acabam apoiando o primeiro, ainda que torcendo o nariz.

Nem recomendarei o voto branco, nulo ou em um dos candidatos, pois considero ambos igualmente péssimos: o que assumidamente governará com o ideário da direita e a que, hipocritamente, favorecerá as grandes empresas, os bancos e o agronegócio depois de pedir votos com discurso de esquerda.

Para situações novas, soluções novas. Foi a conclusão a que cheguei, após profunda reflexão.

 O descrédito que os reformistas granjearam para si próprios neste século é tamanho que, hoje, nossa melhor juventude e os cidadãos mais conscientes lhes voltam as costas, merecidamente.  
Se nós, revolucionários, nos solidarizarmos a eles, apenas atrairemos idêntico ostracismo, mesmo jamais tendo concordado com a política econômica adotada pelos três últimos governos, nem com a incidência em práticas incompatíveis com nossos princípios morais.

Então, levarei às últimas consequências a minha avaliação, várias vezes expressa, de que a política oficial se tornou apenas uma tempestade de som e fúria significando nada, enquanto o que realmente importa é ditado, na surdina, pelo poder econômico, ao qual os governantes de direita, centro e esquerda igualmente se submetem.
 

Votarei nulo e recomendo a todos a anulação, o voto em branco ou a abstenção. 

Porque as transformações urgentes e necessárias nascerão nas ruas, não na Praça dos Três Poderes.