Do Blog Náufrago da Utopia
Por Celso Lungaretti
"Será
considerado eleito presidente o candidato que, registrado por partido
político, obtiver a maioria absoluta de votos, não computados os em
branco e os nulos."
Está no artigo 77, parágrafo 2º, da Constituição Federal.
Os constituintes de 1988, portanto, agiram eminentemente como políticos,
negando aos eleitores um poderoso trunfo para pressionarem os
candidatos. Se uma acachapante rejeição tornasse nulo o pleito, estes
seriam obrigados a fazerem por merecer um crédito de confiança.
Assim como o fim da obrigatoriedade do voto obrigaria os políticos a
darem aos eleitores motivos reais para o comparecimento às urnas.
Mesmo sem efeitos práticos imediatos, um número exorbitante de votos
nulos, brancos e abstenções vai ter indiscutível efeito moral.
Representará a condenação inequívoca de um sistema político que hoje
desrespeita e escamoteia a vontade popular.
Neste sentido, sintonizado com a voz que se ergueu das ruas em junho de
2013 e os expoentes da política oficial tanto teimaram em ignorar e
tanto fizeram para sufocar, desta vez não repetirei a opção tradicional
dos homens de esquerda, que, entre o pior dos reformistas e o mais
comedido dos direitistas, acabam apoiando o primeiro, ainda que torcendo
o nariz.
Nem recomendarei o voto branco, nulo ou em um dos candidatos,
pois considero ambos igualmente péssimos: o que assumidamente governará
com o ideário da direita e a que, hipocritamente, favorecerá as grandes
empresas, os bancos e o agronegócio depois de pedir votos com discurso
de esquerda.
Para situações novas, soluções novas. Foi a conclusão a que cheguei, após profunda reflexão.
O descrédito que os reformistas granjearam para si próprios neste século
é tamanho que, hoje, nossa melhor juventude e os cidadãos mais
conscientes lhes voltam as costas, merecidamente.
Se nós, revolucionários, nos solidarizarmos a eles, apenas atrairemos
idêntico ostracismo, mesmo jamais tendo concordado com a política
econômica adotada pelos três últimos governos, nem com a incidência em
práticas incompatíveis com nossos princípios morais.
Então, levarei às últimas consequências a minha avaliação, várias vezes
expressa, de que a política oficial se tornou apenas uma tempestade de som e fúria significando nada,
enquanto o que realmente importa é ditado, na surdina, pelo poder
econômico, ao qual os governantes de direita, centro e esquerda
igualmente se submetem.
Votarei nulo e recomendo a todos a anulação, o voto em branco ou a abstenção.
Porque as transformações urgentes e necessárias nascerão nas ruas, não na Praça dos Três Poderes.