CARLOS CHAGAS — Tribuna da Imprensa
Virou
moda, retemperada neste início de século, rotular de anacrônicos, ultrapassados
e jurássicos quantos tentam buscar no passado inspirações para o futuro. Como
se nada tivesse existido antes. Trata-se de monumental embuste, com óbvios
objetivos ocultos, de preservação de uma sociedade dividida entre ricos e
pobres, patrões e empregados, privilegiados e oprimidos. Basta lembrar que de
tempos imemoriais veio a descoberta da roda, até hoje insubstituível em toda
atividade humana. Assim como, no plano metafísico, a Liberdade, a Justiça, a
Igualdade, o Amor e quantos outros valores inerentes são negados à nossa
efêmera condição de habitantes deste planeta.
Para
comprovar a evidência de tal afirmação, tomem-se as promessas dos
dois candidatos à presidência da República que sobraram para o segundo turno.
Mesmo sabendo que estão iludindo os trouxas, prometendo o que por convicção não
vão cumprir, atente-se para os seus programas, entrevistas e pronunciamentos.
Dilma
e Aécio, como antes os demais postulantes ao palácio do Planalto, mesmo os de
mentirinha, abrem suas campanhas jurando realizar a reforma agrária;
estabelecer impostos progressivos para os que ganham mais e por isso pagarão
mais; taxar ou mesmo suprimir o direito de herança; limitar ou extinguir a
remessa de lucros do capital especulativo alienígena; ampliar o crédito para os
fracos que dele necessitam e cerceá-lo para os ricos que nele se locupletam;
controlar os meios de transporte público para impedir o sacrifício de seus
usuários; apoiar os meios de produção nacionais diante da progressiva dominação
das multinacionais; combater a ociosidade dos que vivem da especulação, levando
todos a trabalhar; integrar a atividade agrícola à industrial, eliminando a
diferença entre a cidade e o campo; e finalmente promover a educação pública e
gratuita para todas as crianças, com o tempo integral nas escolas e a proibição
do trabalho infantil.
MENTIRINHAS…
Tudo
muito bonito, embutido em variadas formas vernaculares de sustentar ideias, só
que de mentirinha, pois nem os dois candidatos de hoje, assim como os onze de
ontem, e os milhares de antes, tem ou tiveram a menor intenção de viabilizar
suas promessas. São apenas discursos para angariar votos e conquistar ou manter
o poder.
Pois
bem, nem de longe essas propostas nasceram com o século ou significam o
aprimoramento da vida moderna, rumo à ordem perfeita da sociedade. Repetidas
agora, consistem no resumo de um documento que vale à pena ser relembrado, para
no final lembrarmos seus autores e seu tempo:
* Expropriação da propriedade fundiária e utilização da renda
resultante para as despesas do Estado.
* Imposto acentuadamente progressivo.
* Supressão do direito de herança.
* Confisco da propriedade dos exploradores estrangeiros.
* Centralização do crédito nas mãos do Estado, por meio de um
banco nacional com capital estatal e monopólio exclusivo.
* Centralização de todos os meios de transporte nas mãos do
Estado.
* Multiplicação das indústrias nacionais, dos instrumentos de
produção, desbravamento e melhora das terras de acordo com um plano coletivo.
* Obrigatoriedade de trabalho para todos.
* Combinação do trabalho agrícola e do trabalho industrial
para a eliminação das diferenças entre o campo e a cidade.
* Educação pública e gratuita para todas as crianças e
supressão do trabalho infantil.
Novidades?
Descoberta de novos roteiros para desenvolver o País? Nem pensar. Essas
velhas recomendações, por sinal não praticadas até hoje, são de 1848, de um
manifesto assinado por Karl Marx e Friederich Hengels, e que termina com uma
exortação: “Que as classes dominantes tremam. Os proletários nada têm a perder,
exceto seus grilhões. Têm um mundo a ganhar.”
Pois
é. Não ganharam até hoje, muito pelo contrário. Não será com Dilma ou Aécio que
ganharão…