Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sábado, 11 de outubro de 2014

Velhos Sonhos, Novas Decepções

Sábado, 11 de outubro de 2014
CARLOS CHAGAS — Tribuna da Imprensa

Virou moda, retemperada neste início de século, rotular de anacrônicos, ultrapassados e jurássicos quantos tentam buscar no passado inspirações para o futuro. Como se nada tivesse existido antes. Trata-se de monumental embuste, com óbvios objetivos ocultos, de preservação de uma sociedade dividida entre ricos e pobres, patrões e empregados, privilegiados e oprimidos. Basta lembrar que de tempos imemoriais veio a descoberta da roda, até hoje insubstituível em toda atividade humana. Assim como, no plano metafísico, a Liberdade, a Justiça, a Igualdade, o Amor e quantos outros valores inerentes são negados à nossa efêmera condição de habitantes deste planeta.
Para comprovar a evidência de tal afirmação, tomem-se as promessas dos   dois candidatos à presidência da República que sobraram para o segundo turno. Mesmo sabendo que estão iludindo os trouxas, prometendo o que por convicção não vão cumprir, atente-se para os seus programas, entrevistas e pronunciamentos.
Dilma e Aécio, como antes os demais postulantes ao palácio do Planalto, mesmo os de mentirinha, abrem suas campanhas jurando realizar a reforma agrária; estabelecer impostos progressivos para os que ganham mais e por isso pagarão mais; taxar ou mesmo suprimir o direito de herança; limitar ou extinguir a remessa de lucros do capital especulativo alienígena; ampliar o crédito para os fracos que dele necessitam e cerceá-lo para os ricos que nele se locupletam; controlar os meios de transporte público para impedir o sacrifício de seus usuários; apoiar os meios de produção nacionais diante da progressiva dominação das multinacionais; combater a ociosidade dos que vivem da especulação, levando todos a trabalhar; integrar a atividade agrícola à industrial, eliminando a diferença entre a cidade e o campo; e finalmente promover a educação pública e gratuita para todas as crianças, com o tempo integral nas escolas e a proibição do trabalho infantil.

MENTIRINHAS…

Tudo muito bonito, embutido em variadas formas vernaculares de sustentar ideias, só que de mentirinha, pois nem os dois candidatos de hoje, assim como os onze de ontem, e os milhares de antes, tem ou tiveram a menor intenção de viabilizar suas promessas. São apenas discursos para angariar votos e conquistar ou manter o poder.
Pois bem, nem de longe essas propostas nasceram com o século ou significam o aprimoramento da vida moderna, rumo à ordem perfeita da sociedade. Repetidas agora, consistem no resumo de um documento que vale à pena ser relembrado, para no final lembrarmos seus autores e seu tempo:

* Expropriação da propriedade fundiária e utilização da renda resultante para as despesas do Estado.
* Imposto acentuadamente progressivo.
* Supressão do direito de herança.
* Confisco da propriedade dos exploradores estrangeiros.
* Centralização do crédito nas mãos do Estado, por meio de um banco nacional com capital estatal e monopólio exclusivo.
* Centralização de todos os meios de transporte nas mãos do Estado.
* Multiplicação das indústrias nacionais, dos instrumentos de produção, desbravamento e melhora das terras de acordo com um plano coletivo.
* Obrigatoriedade de trabalho para todos.
* Combinação do trabalho agrícola e do trabalho industrial para a eliminação das diferenças entre o campo e a cidade.
* Educação pública e gratuita para todas as crianças e supressão do trabalho infantil.

Novidades? Descoberta de novos roteiros para desenvolver o  País? Nem pensar. Essas velhas recomendações, por sinal não praticadas até hoje, são de 1848, de um manifesto assinado por Karl Marx e Friederich Hengels, e que termina com uma exortação: “Que as classes dominantes tremam. Os proletários nada têm a perder, exceto seus grilhões. Têm um mundo a ganhar.”
Pois é. Não ganharam até hoje, muito pelo contrário. Não será com Dilma ou Aécio que ganharão…