Domingo,
3 de abril de 2015
Por Siro Darlan, desembargador do Tribunal de Justiça e
Coordenador Rio da Associação Juízes para a Democracia.

O Estatuto da Criança e do Adolescente tinha menos de três
anos de vigência e as crianças de então têm mais de 22 anos atualmente, Viram
sua infância e adolescência passar sem sentirem os efeitos desejados pelo
legislador cuja lei não foi praticada pela família, pelo Estado e pela
sociedade. Como forma de inocentar os agentes da violência praticada pela falta
de políticas públicas, desrespeito à Lei 8069/90 e a corrupção que tanto
dinheiro público desviou de sua finalidade, é mais fácil aliar-se à mídia que
tanto deseduca o povo para excluir mais ainda crianças e adolescentes
indesejados.
Como numa aliança política espúria, o rol de aliados é muito
extenso e de interesses os mais variados. Uns desejam apenas desviar o foco de
seus desmandos, outros manter seus privilégios, alguns não querem sair do
comodismo de seus gabinetes, mas o discurso é o mesmo: 1% da população juvenil
que comete atos infracionais é o responsável por toda violência que vivemos. Os
banqueiros soltam rojões porque continuarão com seus juros extorsivos. Os
corruptos conseguirão tapar o sol de suas fortunas com o encarceramento de
jovens maltrapilhos e Dona Themis manterá sua venda encobrindo sua vergonha.
Interpretes da lei dão sua versão fascista tornando exceção
em regra, eis que pelo texto constitucional a regra é a liberdade. Apenas nos
casos expressos na lei e com ordem fundamentada de autoridade judiciária
competente se justifica a prisão. Mas o editorial de um agente de comunicação
da mentira afirma que as medidas socioeducativas destinadas a adolescentes (de
12 a 18) devem ser aplicadas também aos que não mais ostentam essa condição
legal de adolescentes. É a máxima de quanto mais exclusão melhor e quanto mais
injustiça mais violência.
O ódio que permeia as relações humanas numa sociedade dita
cristã e o alto percentual dos que desejam a redução da maioridade penal nos
remete ao Julgamento de Cristo, quando tanto quanto hoje foi muito veemente a
opinião pública dominante daqueles que condenaram à morte o Divino Mestre que
tanto amava as crianças.