Do El País — Brasil
Em propaganda do partido, presidenta Dilma aparece apenas por alguns segundos
Investigação de Lula e marqueteiro aumentam desgaste do PT
Por Gil Alessi — São Paulo
Protesto na varanda contra o PT.
Quem assistiu ao programa institucional do PT na TV
transmitido na noite desta terça-feira pode ter percebido uma ausência
eloquente. Enquanto o ex-presidente Lula e o presidente nacional do partido,
Rui Falcão ocuparam quase a metade da propaganda partidária, a presidenta Dilma
Rousseff apareceu por dois ou três segundos – o telespectador que piscou pode
ter perdido a cena. Desde os panelaços registrados durante as aparições da
presidenta na TV, o partido tem mantido ela fora do foco para evitar mais
desgaste à sua imagem. Prova disso é o tradicional discurso presidencial de 1o
de maio, que este ano migrou para a Internet. Mas isso não foi o
suficiente para evitar que o fenômeno se repetisse: os dez minutos de rede
nacional do partido foram acompanhados pelo som de panelas batendo e buzinas
soando em vários bairros de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e
Brasília.
O escândalo da Lava Jato - que não foi citado
nominalmente no programa da TV - deu origem e uma nova diretriz partidária
anunciada por Falcão: “Qualquer petista que cometer mal feitos ou ilegalidades
não continuará nos quadros do partido”, afirma. Segundo ele, petistas que
"ao final do processo" forem julgados culpados serão expulsos. A
medida seria uma novidade na legenda, já que petistas históricos como José
Dirceu e Delúbio Soares, condenados no mensalão, não foram expulsos. João Vaccari Neto, que era tesoureiro do partido
até o dia 15 de abril, quando foi preso por suspeita de envolvimento no caso de
corrupção da Petrobras, é um dos petistas que serão julgados no caso. “Mas
precisamos ter consciência que há integrantes de vários partidos sendo
investigados, inclusive da oposição”, seguiu Falcão, sobre o escândalo.
Em seguida, o locutor da propaganda diz que o PT foi
responsável por “outra virada histórica do Brasil”, que é a “luta contra a
corrupção”. Segundo ele, o partido foi responsável por iniciativas que
“acenderam as luzes” sobre fatos que os governos anteriores “faziam questão de
esconder”: “antes do PT não havia lei da ficha limpa, portal da transparência,
a Polícia Federal e o Ministério Público Federal não tinham autonomia para
trabalhar”.
Enfrentando grave crise de imagem, o partido tentou
reenergizar parte da sua militância em torno de temas como rechaço à ampliação
da terceirização e à redução da maioridade penal, ambas em tramitação no
Congresso, e com citações à aprovação de impostos sobre grandes fortunas,
grandes heranças e ganhos especulativos _o partido não apresentou essas
propostas no Congresso, tampouco o Governo fez referência a elas. Lula, um
provável nome do PT em 2018, foi o escalado para criticar o projeto de lei 4330, da terceirização, que já foi
aprovado na Câmara: “Esse projeto faz o Brasil voltar no tempo, voltar para o
século passado, quando o trabalhador era um cidadão de terceira classe. Não
vamos permitir isso”.
Antes do PT não
havia lei da ficha limpa, portal da transparência, a Polícia Federal e o
Ministério Público Federal não tinham autonomia para trabalhar”
O partido também voltou a culpar a crise econômica mundial
pelo fraco desempenho da economia, com o aumento da inflação no país e o baixo
crescimento do PIB. Na voz de um personagem fictício, o programa afirma que
“existe uma crise, mas não como antigamente”.
Os apresentadores da propaganda também abordam o tema. “A
crise mundial mostrou que até a Europa e os Estados Unidos estão sujeitos a
momentos de instabilidade”, afirma um deles. “Mas o importante é ter a condição
necessária para superar estas dificuldades. E o Brasil atingiu esse patamar”.
Mais adiante, o programa afirma que no ajuste fiscal defendido pelo Governo,
que começou a ser votado nesta terça na Câmara, não serão cortados “direitos
dos trabalhadores”.
O novo panelaço contra o PT foi convocado nas redes sociais,
entre outros, pelo grupo anti-Dilma e pró-impeachment Vem Pra Rua e mostra as
dificuldades do partido por causa especialmente dos escândalos de corrupção,
ainda que aconteça no mesmo dia em que um dos pivôs da investigação da Lava
Jato, o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, repetiu que o esquema de
desvios envolvia mais siglas, como citou Falcão. Em novo depoimento à CPI do
caso, Costa, que fez acordo de delação premiada, disse que o esquema de corrupção
envolvia o PT, mas também foi utilizado pelo PP, PMDB e até pelo falecido
senador tucano Sergio Guerra. "Por que uma empresa vai doar R$ 20 milhões
para uma campanha se ela não tiver algum motivo na frente pra cobrar
isso?", disse Costa, acrescentando que as doações legais das empresas a
todos os partidos são "hipocrisia".