Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

domingo, 19 de outubro de 2014

A mentira como arma

Domingo, 19 de outubro de 2014 
Os dois candidatos fazem ataques e denúncias e usam dados que o adversário tenta desmentir. Mas levantamento de ISTOÉ mostra que, na tática de distorcer dados, a campanha de Dilma tem ultrapassado todos os limites

Da IstoÉ
Izabelle Torres 
Poucas vezes na história se viu uma campanha eleitoral tão agressiva e repleta de disputas de números distorcidos, acusações e um festival de mentiras. A competição entre os candidatos Aécio Neves (PSDB) e Dilma Rousseff (PT) acirrou ainda mais o clima de animosidade dentro das campanhas. O tratamento entre os candidatos nas aparições públicas, especialmente nos debates, deixa claro que a mais aguerrida eleição presidencial transformou os adversários políticos em inimigos ferrenhos. Como aconteceu no primeiro turno, quando o PT investiu na desconstrução da candidata Marina Silva (PSB), o alvo agora é Aécio. Em vez de apresentar projetos para tirar o País da estagnação, Dilma optou por um gesto de desespero para virar o jogo e adota a estratégia da desconstrução do adversário, mesmo que o custo disso seja a divulgação de dados imprecisos e inverídicos. A disputa fica mais acirrada porque as estruturas de campanha cresceram absurdamente, estão mais profissionais e, a cada ano, mais caras. As guerrilhas virtuais contratadas para alimentar notícias, boatos e até calúnias loteiam as redes sociais com o tom da guerra em andamento. Para esclarecer aos eleitores o que há de verdade nos ataques trocados entre os candidatos, ISTOÉ se debruçou nos dados oficiais e em estudos sobre alguns dos temas mais recorrentes nessa disputa. O resultado (ver quadro) é um retrato evidente de que a candidata Dilma Rousseff tem se valido muito mais de informações falsas para acusar seu adversário do que o contrário.
Pic_Verdades_Mentiras.jpg
FRENTE A FRENTE
Candidatos Dilma Rousseff e Aécio Neves elevam o tom na reta final da campanha
Em alguns casos, a adulteração dos fatos de maneira fraudulenta deixa clara a intenção de ludibriar o eleitor. Um vídeo distribuído amiúde pelos petistas é uma prova do estratagema matreiro adotado pela campanha do PT. Na gravação, Aécio Neves aparece votando contra o projeto de valorização do salário mínimo em 2011, na sessão do Senado de 23 de fevereiro daquele ano. O vídeo distribuído nas redes sociais sofreu uma edição, com cortes dos minutos que antecedem a votação. A versão completa conta com o discurso do então líder do PSDB, Álvaro Dias (PR), e do próprio Aécio Neves, explicando que os tucanos votariam contra a proposta porque o texto estabelecia salário de R$ 545 e eles defendiam um reajuste para R$ 600, um valor maior do que a proposta governista. A oposição foi derrotada por 55 x 17 e o salário fixado foi o valor desejado pelo governo. No debate da quinta-feira 16, Aécio fez referência ao vídeo para ilustrar a campanha de mentiras que ele acusa o PT de fazer.