Sábado,
18 de outubro de 2014
"Ganhe quem ganhar, grandes batalhas virão."
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"Ganhe quem ganhar, grandes batalhas virão."
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Da Tribuna da Imprensa
Por Igor Mendes
Vemos,
mais uma vez, a reedição do falso plebiscito entre PT e PSDB. Falso porque por
mais que os monopólios de imprensa e a “intelectualidade” amestrada paga a peso
de ouro por um e outro bando tente mostrar qualquer diferença entre as forças
políticas que as candidaturas de Dilma e Aécio representam, não há de fato nenhuma
diferença essencial entre elas –e há mesmo poucas diferenças quanto ao que não
é essencial.
A
chantagem a respeito do “voto útil”, ou do voto “contra a direita” feita por um
PT desesperado de perder os altos postos na máquina estatal não pode esconder a
realidade de que esse partido governou sempre com e para os latifundiários, os
banqueiros, as grandes empreiteiras e o imperialismo –e se os trabalhadores são
cada vez mais resistentes a embarcar no antes todo-poderoso lulismo, não é por
outra razão senão essa.
É
verdade que o PSDB privatizou setores estratégicos de nossa economia –e em uma
década o governo petista não reviu essas privatizações, nem mesmo investigou o
mar de lama que as encobre, porque seguiu privatizando nosso solo, subsolo e espaço
aéreo. Ou não foram recentemente privatizados, com a desculpa de
“modernização”, portos e aeroportos, além de rodovias, e leiloado para as
grandes companhias européias e norte-americanas nosso petróleo, enquanto o
mercado interno continua tendo de pagar um dos preços mais caros pela gasolina
de todas as Américas?
Dilma
fala que Aécio nomeará Armínio Fraga para o ministério da Fazenda. Ora, o
primeiro membro do governo anunciado por Lula ainda em 2002, em Washington, foi
Henrique Meirelles, para a presidência do Banco Central –peessedebista e
chigaco-boy de carteirinha.
Enquanto
essas linhas são escritas, o Exército brasileiro segue ocupando o complexo de
favelas da Maré, como anteriormente ocupara o complexo do Alemão e a
Providência, colocando em prática o que aprendeu em termos de genocídio e
repressão na mais de década que mantém suas botas em solo haitiano.
Por
falar em Exército, a comissão da meia verdade chega ao fim de seus trabalhos
com pouquíssimos resultados, além da confirmação de fatos que já eram de
domínio público. Nenhum torturador foi pra cadeia e, ademais, os arquivos
secretos e ultra-secretos do período do gerenciamento militar (obviamente os
mais importantes do ponto de vista político e histórico) foram mantidos
trancados a sete chaves.
No
campo aumentou a concentração fundiária, o Brasil regrediu à condição de nação
“essencialmente agrícola”, e inevitavelmente a contrapartida disso foi o
assassinato inclemente de lideranças da luta pela terra e dos povos indígenas.
Na base aliada da candidata pretensamente “de esquerda” estão as oligarquias
Sarney, Barbalho, Collor e Calheiros. A boquirrota Kátia Abreu, senadora do
PMDB por Tocantins e líder da famigerada e assassina bancada ruralista, também
é base do governo.
Quem
escreve estas linhas teve a casa revirada na véspera da final da Copa do Mundo,
teve de passar 12 dias na clandestinidade e responde atualmente um processo
–junto com mais de 20 companheiros/as -por ter participado da luta contra a
farra da FIFA, apelidada pelo próprio PT e a sua sucursal PC do B como a “Copa
das Copas”. Em termos de remoções, assassinatos e repressão pode realmente ter
sido. Seu caráter antipovo e o merecido rechaço à sua realização fica nítido
pelo fato de nenhum candidato fazer sequer menção à sua realização.
No
Rio, as criminosas UPP’s, que hoje ruem sob a pressão da revolta popular,
resultante do assassinato sistemático de Amarildos, DG’s e tantos outros, foram
inauguradas com discurso de Lula e apontadas como exemplo para o Brasil.
Citamos abaixo discurso do operário padrão e fura-greves Luis Inácio cometido a
07/10/2010, ao fim do seu segundo mandato, sobre esse tema:
“O Rio de Janeiro não
aparece mais nas primeiras páginas dos jornais pela bandidagem. O governo fez
da favela do Rio um lugar de paz. Antes, o povo tinha medo da polícia, que só
subia para bater. Agora a polícia bate em quem tem que bater, protege o
cidadão, leva cultura, educação e decência [1]”.
Certamente
a polícia do Rio de Janeiro, a que mais mata no Brasil, bate em quem tem que
bater –exatamente como há um ano atrás, quando espancou professores em greve em
frente à Câmara Municipal.
Dilma
e Aécio são, ambos, de direita. O único retrocesso nessa eleição seria se o
voto em alguma candidatura fosse visto como a “salvação da pátria”, quando o
pleito não passa de um jogo de cartas marcadas onde se revezam –ou não –aqueles
que vão ter o direito de extorquir e reprimir o povo nos anos vindouros. Os
números do boicote, entretanto, foram retumbantes (40 milhões no primeiro
turno) e nada indica que baixarão. Ganhe quem ganhar, grandes batalhas virão.
[1] http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI178030-15223,00.html