Quarta, 1º de outubro de 2014
Do Blog do Adriano Benayon
Por
Adriano Benayon
Dirijo-me aos compatriotas em face da resposta do presidente
do PSB, Roberto Amaral, à carta do politólogo Moniz Bandeira, bem como da
tréplica de Moniz, em que este volta a apontar fatos importantes sobre as
conexões de D. Marina Silva com o império angloamericano.
Essas conexões, bem como as ações de Marina da Silva à
frente do Ministério do Meio Ambiente, de 2003 a 2008, e suas práticas
anteriores e posteriores, a desqualificam para aspirar à presidência da
República, a não ser na apreciação dos que atribuem valor zero à independência
e à integridade do Brasil.
Moniz Bandeira fez alusões que propiciaram ao presidente do
PSB desviar-se da questão fundamental, ao referir-se à premonição que teve e
que, de imediato, comunicou a amigo comum dele e de Eduardo Campos, logo que
este cometeu o erro capital de associar-se a Marina da Silva. Assim se
expressou o historiador:
“Uma vez que há muitos anos estou a pesquisar sobre as
shadow wars e seus métodos e técnicas de regime change, de nada duvido. E o
fato foi que conveio um acidente e apagou a vida do governador Eduardo Campos.
E assim se abriu o caminho para a Sra. Marina Silva tornar-se a candidata à
presidência do Brasil.”
Em sua réplica, Amaral justificou-se nestes termos:
“Militante engajado, tenho compromissos com projetos, ideias e valores
expressos em programa partidário que não pode ser alterado ao sabor de
especulações como a de que a queda de uma aeronave resultou de conspiração
estrangeira. Tampouco posso guiar-me por “premonições”. A famosa ‘realidade
objetiva’ não me permite.”
Ora, sem provas em mãos – e estas não costumam aparecer –
pôr a ênfase no possível atentado com a aeronave, é oferecer argumentos para
mudarem de assunto.
O que não há como justificar, nem elidir, é a
incompatibilidade, entre, de um lado, as posições e a história do PSB, e, de
outro lado, as posições e a história de Marina da Silva. Essa incompatibilidade
é o que há de mais objetivo. Nada, absolutamente nada, tem que ver com
premonições e especulações.
Não menos objetiva é esta realidade: se o PSB fosse um
partido de verdade – e esperemos que ainda prove que o é – o candidato em
substituição a Eduardo Campos teria de sair de seus quadros, já provados por
sua coerência com os princípios partidários, ao longo de anos.
E, repita-se, poucas pessoas têm trajetória tão divergente
desses princípios como D. Marina, a qual, ao associar-se ao PSB, há poucos
meses, era somente a cabeça de uma Rede, que nem sequer lograra constituir-se
em partido.
Pior ainda: o erro original foi do próprio Eduardo Campos,
ao fazer aliança com essa Rede de ONGs e igrejas pró-imperiais. Que isso tenha
sido possível, denota que o PSB carecia de consistência política e capacidade
de aspirar a um papel protagonista na política brasileira.
A pobreza do PSB como partido, que precisa ser desmentida
por atos, e não, por cartas literárias, está sendo demonstrada por ter o PSB
ficado a reboque de uma candidatura patrocinada pela oligarquia financeira
angloamericana e por seus adeptos no subordinado subcapitalismo local.
Também é de estarrecer a ausência de protestos, pelo menos,
em público, por parte de dirigentes do partido e de candidatos às próximas
eleições, que tivessem a coragem e a altivez de renunciar a suas candidaturas
diante do achincalhe às tradições do partido, que foi sua acoplagem a reboque
da Rede.
Um partido de verdade não pode ter donos, nem ser objeto de
sucessões hereditárias, como a de Arraes, para Campos, e agora supostamente
para sua viúva, sem poderes reais, em face da ascendência de D. Marina. Não a
desqualificaria ser viúva, se tivesse demonstrado por ação política própria
condições de exercer liderança sobre ele.
Diante da mediocridade e da falta de comprometimento com os
interesses nacionais dos partidos com maior representação eleitoral, só podemos
concluir que o sistema político presente inviabiliza a verdadeira representação
dos cidadãos e que a oligarquia imperial está colhendo os frutos de golpes, não
só os militares, e do investimento na promoção da covardia e da deterioração
dos valores.
Não convencem, de forma alguma, declarações de Roberto
Amaral, como estas: “O PSB não abandonará o embate contra as desigualdades
sociais, pela reforma agrária, pela defesa do meio-ambiente, pelo domínio de
novas tecnologias, pela ampliação e melhoria do sistema de ensino e pela
segurança do cidadão; não renunciará à luta pelos grandes projetos
estratégicos, sejam os de infraestrutura para o desenvolvimento social e
econômico, sejam os que darão suporte ao seu papel como ator global.”
Na realidade, atrelando-se a uma candidatura anti-social e
antinacional, claramente patrocinada pelo império angloamericano, que, desde o
golpe de 1954, vem intervindo no País para desnacionalizar sua economia e
torná-lo zona de predação dos recursos naturais, o PSB já abandonou todas as
posições que Roberto Amaral enunciou no parágrafo acima.
Amaral anda não renunciou à presidência do PSB. Não deveria
ter renunciado, desde que, juntando-se aos que se mantêm fieis ao partido,
tivesse desautorado a candidatura adotada após a morte de Eduardo Campos
Para ser honesto, tenho de reconhecer que o PSB já havia
renegado seus princípios e suas origens, ao tolerar que seu ex-presidente e
candidato à presidência da República ligasse sua candidatura à de Marina Silva.
Roberto Amaral ainda afirma; “Mancharia minha biografia se,
acossado por premonições e pela libertinagem do “livre pensar”, optasse pela
cômoda retirada nesse momento tão rico da construção da democracia brasileira.”
Essa patética declaração, até por apresentar visão
cor-de-rosa da realidade brasileira, inteiramente estranha aos fatos, deixa patente
ter o presidente do PSB assumido posição oficialista de alinhamento a D.
Marina. Ele justifica a adesão por ter de “zelar pelo cumprimento de nossos
compromissos programáticos, observada a realidade objetiva”.
Ora, de novo, nada mais gritante que a contradição entre
esse alinhamento e os compromissos programáticos do PSB. A agressão à lógica
parece provir de uma mente conturbada e incapaz de encontrar explicação
plausível para a falta de atitude em face das responsabilidades que recaíram
sobre seus ombros.
Uma mente racional não consegue atinar com o sentido da
acaciana ressalva “observada a realidade objetiva”. Ademais, a vida pregressa e
as posições e ligações, atuais e pregressas, de D. Marina fazem parte da
realidade objetiva.
O transtorno aparece também ao associar “livre pensar” e
libertinagem. Só os totalitários injuriam o livre pensamento, qualificando-o
como “libertinagem”.
Como apêndice, transcrevo mais elementos elucidativos
aduzidos por Moniz Bandeira, em sua tréplica, sobre as conexões de D. Marina.
Alertou para a interferência da Open Society Foundation, do
magnata George Soros, e da New Endowment for Democracy e da própria USAID, além
de ONGs que assumiram a função de promover mudanças de regimes e patrocinaram
as demonstrações da “Primavera Árabe” e na praça Maidan, em Kiev, Ucrânia”,
pois estariam por trás da candidatura da ex-senadora Marina Silva à presidência
da República.
A seguir: “Também constituem fatos as declarações da Sra.
Marina Silva, em favor da privatização do Banco Central, contra o Mercosul, de
interferência nos assuntos internos de Cuba, contrariando as linhas da política
exterior do Brasil e, inter alia, de realinhamento com as diretrizes de
Washington. Elas não são compatíveis com as tradicionais linhas ideológicas do PSB.”
Ainda Moniz Bandeira aponta que Marina Silva acervou em três
anos R$ 1,6 milhão (um milhão e seiscentos mil reais), com conferências, e se
recusa a revelar a fontes pagadoras.
Cita, ainda, os elogios rasgados de Michael Shifter,
presidente do Diálogo Inter-americano, sediado em Washington: “If elected, she
has such a remarkable personal story that she’d come to the presidency with a
lot of legitimacy, tremendous excitement and high expectations”.
Concluindo: “Não se pode descartar a forte probabilidade de
que Sra. Marina Silva, se eleita, faça o Brasil renunciar à produção de urânio
enriquecido e aos programas do submarino nuclear e de rearmamento das Forças
Amadas do Brasil.”
Adriano Benayon é doutor em
economia e autor do livro Globalização vs Desenvolvimento