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(Millôr Fernandes)

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Pedro Simon no jornal espanhol El Pais: “O PT foi pior que o governo militar em termos de ética”

Quinta, 16 de outubro de 2014
Do Bahia em Pauta

Simon, em um evento no Rio em 2011. / Estadão Conteúdo/EL PAIS
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DEU NO JORNAL ESPANHOL EL PAIS
ENTREVISTA: PEDRO SIMON
Afonso Benites São Paulo

Após quatro mandatos como senador, um como governador e quatro como deputado estadual, Pedro Simon (Caxias do Sul, 1930) está deixando a vida pública. O que era para ser uma aposentadoria por vontade própria, transformou-se em um “exílio” forçado.

Simon (PMDB) havia decidido, no ano passado, que não iria concorrer a mais nenhum cargo eletivo. Seria a primeira eleição em 41 anos que ele só pediria votos para os outros. Foi forçado a mudar de ideia com a morte de Eduardo Campos (PSB), no dia 13 de agosto. O nome que ele apoiava ao Senado pelo Rio Grande do Sul, Beto Albuquerque, virou o candidato a vice-presidente na chapa derrotada de Marina Silva. Coube a Simon assumir uma candidatura, que diz ele, não tinha chances de vitória. Teve 16% dos votos para o Senado e acabou em terceiro lugar na disputa.

Na primeira entrevista após a derrota nas urnas, o expoente do PMDB gaúcho analisa as eleições deste ano dizendo que os ataques do PT e a falta de comando do PSB resultaram na derrota de Marina Silva no primeiro turno. Elogia a gestão Itamar Franco (1992-1994), afirma que até a ditadura militar tinha mais ética e moral do que o Governo petista e que o PMDB vive há mais de duas décadas, às custas de migalhas. Uma curiosidade, ele até hoje chama o seu partido de MDB, as siglas de Movimento Democrático Brasileiro, a legenda dos opositores do regime militar que deu origem ao PMDB em 1980. A seguir os principais trechos da entrevista.

Pergunta. O senhor esperava que Aécio e Dilma se enfrentariam no segundo turno?
O que aconteceu com a Marina foi inesperado

Resposta. Não. O que aconteceu com a Marina foi inesperado. Ela tinha uma vitória quase irreversível, mas enfrentou uma campanha de uma brutalidade principalmente por parte do PT. Foi algo radical, violento. O Governo usou as redes sociais, contrataram jovens, fizeram uma espécie de faculdade para que esses jovens atacassem a Marina. Diante disso tudo, a Marina sucumbiu. Por outro lado, houve uma reação à ação do PT que favoreceu o Aécio. Além disso, no último debate do primeiro turno, ele se saiu muito bem. Teve uma parte dos eleitores da Marina que acabou migrando para o Aécio.

P. O senhor está dizendo que o jogo foi sujo. É isso?

R. Mais que isso. Foi algo insuportável. Foram tantos absurdos que quase ninguém suportaria. Ficou fora do terreno da racionalidade. Na verdade, a candidatura da Marina era quase um estado de espírito. Ela queria fundar um partido, a Rede, a Justiça eleitoral não deixou, ela caiu em um partido que a recebeu rapidamente e por um acaso do destino virou candidata. Quando ela surgiu como concorrente, ela tinha uma firmeza tão grande que parecia que a vitória seria irreversível. Eu achava que ela estaria eleita. Em todos os meus anos de vida pública, não me recordo de ter visto algo parecido com o que a Marina sofreu. Na primeira eleição após as Diretas Já, houve o embate do Fernando Collor com o Lula [da Silva]. Eu era governador do Rio Grande do Sul e estava com o Lula. Ele estava empolgando a população. A vitória dele era dada como certa por alguns setores. No último debate o Lula agiu de uma maneira tão violenta que ele perdeu feio. Me lembro de estar assistindo o debate e reconhecemos que ele perdeu o debate, mas isso não alterava o resultado da eleição. No dia seguinte, a Globo, no Jornal Nacional, montou uma edição, cinematográfica, pinçando trechos do debate que mostravam que o Collor era um gênio e o Lula, um idiota. Esse Jornal Nacional derrotou o Lula mais do que o próprio debate.

P. Na sua opinião, esses ataques pelas redes sociais são hoje, pra Marina, o que o Jornal Nacional foi em 1989 para o Lula?
O Aécio esteve a ponto de jogar a toalha
R. Não sei se tiveram o mesmo peso. Mas além das redes sociais, houve todo o uso da máquina institucional. A mobilização contra a Marina foi impressionante. Com o início da propaganda vamos ver outros ataques, mas como isso já ocorreu no primeiro turno, acho que há grandes chances do Aécio ganhar a eleição. Custo a crer que o governo não intensifique os ataques. O Aécio esteve a ponto de jogar a toalha e dizem que foi o Fernando Henrique [Cardoso] quem o estimulou a continuar na disputa. [O candidato tucano já disse que não pensou em desistir da campanha].
P. E por que o senhor confia na vitória de Aécio?
R. O PT está há doze anos no Governo. Se ficar mais quatro anos vai a 16. Não há regime ou ditadura no Brasil, excluindo a militar, que durou tanto tempo. Nem Getúlio Vargas, que ficou 15 anos no poder ficou tanto tempo. Sem contar que de 1934 a 1937 viveu um momento de democracia. Acho que o Governo da Dilma está sentindo o que aconteceu com a Marina e estão preparados para atacar cada vez mais o Aécio.

P. Voltando ao assunto Marina, o senhor acha que ela não fez nada de errado para não ir ao segundo turno? Foi só culpa dos ataques?
O PSB não tem tradição de governo. É um partidinho pequeno, que não tem nada
R. Fazer, ela fez. Faltou um comando mais positivo. O PSB não tem tradição de governo. É um partidinho pequeno, que não tem nada. É gente ingênua, um governadorzinho aqui, outro lá. E a Rede, da Marina, tem menos experiência ainda. Quando estavam com o Eduardo Campos como candidato, era uma campanha normal, tranquila, não se esperava grande coisa. Quando ela entrou, que houve aquela evolução, explodiu o apoio, e veio a guerra do PT, eles não tiveram condições de reagir. Um dos exemplos de coisas erradas foi a questão dos homossexuais, que eles não revisaram o programa de governo e ficou parecendo que ela voltou atrás de um posicionamento que já havia dado. Faltou preparo na formulação do programa do partido. Outra coisa foram as declarações desnecessárias. Por que ela foi discutir a autonomia do Banco Central? Era uma questão que não estava em discussão. Não era ela, ou seu assessor, um economista que quis dar uma de bacana, quem deveriam trazer esse assunto para o debate.

Leia a íntegra de  Pedro Simon no jornal espanhol El Pais: “O PT foi pior que o governo militar em termos de ética”