Sábado, 4 de outubro de 2014
Do G1 DF
'Época' revelou vídeo; MP abriu investigação sobre o caso.
Governador do DF nega envolvimento; motorista foi exonerado.
Governador Agnelo Queiroz em frente ao Estádio Mané Garrincha (Foto: Reprodução/TV Globo)
A corregedoria da Secretaria de Saúde do Distrito Federal abriu
processo administrativo disciplinar nesta sexta-feira (3) para apurar a
denúncia de que um funcionário que já foi assessor do governador Agnelo
Queiroz quando ele era ministro do Esporte recebia propina de uma
empresa que presta serviço ao GDF. A ação, gravada em vídeo, foi
revelada na quinta (2) pelo site da revista "Época".De acordo com a reportagem, o dinheiro abastecia um caixa 2 da campanha do governador. Em nota, Agnelo e a coordenação de campanha dele negam envolvimento com irregularidade. Ao G1, o Ministério Público disse que também abriu investigação e informou que o vídeo é verdadeiro, mas que não comentaria o caso.
A portaria publicada nesta sexta no Diário Oficial diz que o processo vai apurar “possível não observância de normas legais, possível uso indevido de veículo oficial, possível recebimento indevido de pagamento [e] possível não observância de normas regulamentares de trabalho”. O prazo para a conclusão do procedimento é de 60 dias, prorrogável por igual período.
A pasta não quis comentar o caso e informou ao G1 que o processo administrativo corre em sigilo. A exoneração de Cícero Cândigo Sobrinho, conhecido como Ciço, do cargo comissionado que ocupava na Secretaria de Saúde foi publicada em edição extra do Diário Oficial do DF, na tarde desta quinta.
Cícero foi assessor de Agnelo Queiroz no Ministério do Esporte, e é filiado ao PCdoB, antigo partido de Agnelo, desde 1997. Atualmente, o motorista ocupava um cargo comissionado na Secretaria de Saúde. A exoneração de Sobrinho foi publicada na quinta-feira (2), horas após a publicação da matéria no site da Época. O G1 não conseguiu contato com ele.
Segundo reportagem da revista Época, o Ministério Público do DF investiga denúncia de que Cícero utilizava um veículo a serviço da Secretaria de Saúde para se encontrar com gerentes da empresa agropecuária São Gabriel, que aluga galpões para a pasta. Em um vídeo divulgado pela empresa, um dos gerentes da empresa deixa no carro um volume semelhante a um maço de dinheiro.
Ex-secretário de Saúde e candidato a deputado
federal, Rafael Barbosa (Foto: Divulgação)
federal, Rafael Barbosa (Foto: Divulgação)
Ainda de acordo com a matéria divulgada nesta quinta, o gerente teria confirmado ao MP o pagamento de propina, que era feito desde 2012. O maço que aparece na imagem seria de R$ 9,5 mil, destinados às campanhas do governador Agnelo Queiroz, pela reeleição, e do ex-secretário de Saúde Rafael Barbosa, candidato a deputado federal.
Em nota, Agnelo e a coordenação de campanha dele negam envolvimento com irregularidade. Segundo a nota, a reportagem “se baseia apenas em ilações desprovidas de evidências e ignora a informação mais importante: o funcionário que aparece nas imagens não está e nunca esteve autorizado a receber doações de campanha”. O G1 não conseguiu contato com Rafael Barbosa.
O Ministério Público do DF confirmou ao G1 que a investigação foi aberta. O MP comprovou a autenticidade dos vídeos divulgados pela reportagem e de outros documentos relacionados ao caso. O inquérito foi instaurado nesta semana, mas os detalhes da apuração não foram divulgados.
Vídeo
A reportagem diz que o automóvel conduzido pelo motorista da Secretaria de Saúde é alugado pelo GDF. Segundo a revista, o gerente da empresa afirmou em depoimento ao Ministério Público que o volume era dinheiro e continha R$ 9,5 mil. Alves teria dito ao MP que entrega propina a Ciço desde 2012 e que o valor se destinava às campanhas de Agnelo e do ex-secretário de Saúde Rafael Barbosa, que é candidato a deputado federal.
À revista, Barbosa afirmou jamais ter recebido dinheiro de Cícero ou ter tido contato com a empresa contratada quando ele era secretário. “Ele (Cícero) nunca me ajudou em nada. Ele me dá é muita dor de cabeça. Ele não tá na minha campanha. Não é coordenador da minha campanha. Ele ajuda voluntariamente. Ele ajuda na rua pedindo voto”, disse.
Também em resposta à revista, Agnelo afirmou que “todas as receitas de campanha decorrem de contribuições legais”. O governador disse ainda que Cícero Sobrinho e Ailton Pereira de Almeida, dono da empresa agropecuária, não têm nenhuma participação na disputa pelo Palácio do Buriti.
A Agropecuária São Gabriel aluga para a Secretaria de Saúde do DF, por R$ 31.850 ao mês, um galpão no setor industrial do Gama. O espaço é usado como depósito de equipamentos sem utilidade, como computadores e móveis velhos. O contrato entre as partes foi assinado com dispensa de licitação em 2011. Segundo o Portal da Transparência do governo, desde então já foram pagos R$ 1.250.001,66 para a empresa.
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Comentário do Gama Livre: Esse Cícero Cândido Sobrinho, o Ciço (ou Cicinho), deve ser um cara muito perigoso. Como é que o simpático rapaz se fez passar por longos e longos anos por parceiro político inseparável de Agnelo, como se os dois fossem unha e carne, fazendo todas as campanhas juntos, e agora trai o amigo? O nome dele é Sobrinho, mas na realidade todo mundo sabe que ele sempre foi um afilhado de Agnelo.
Até as mais ingênuas pessoas do Gama conhecem que os dois formaram sempre uma dupla dinâmica. Onde um ia o outro ia atrás. O servidor da Secretaria da Saúde não dava um passo político sem a concordância de Agnelo, é o que se sabe cá pras bandas do Gama. E receber propina é um ato político, sujo, imundo, mas político. Mas esse ato, se for verdade o vídeo publicado no site da revista Época, poderia ser uma iniciativa exclusiva do assessor. Tem gente que acredita nessa história. Já ouvi dizerem que o vídeo seria uma montagem de um grupo político adversário da candidatura de Agnelo.
Pode ser. É uma hipótese a ser testada. Acredite quem quiser.
Leia aqui a reportagem da revista Época.