Da Pública
Agência de Reportagem e Jornalismo Investigativo
No sudeste do Pará, a concessão
do abastecimento para a Odebrecht Ambiental veio acompanhada de tarifas altas;
moradores de baixa renda têm de decidir entre pagar a conta ou garantir a
alimentação das crianças
por Sarah Fernandes | 13
de novembro de 2015
A
água, tão central na cultura amazônica, tem se transformado em um bem caro e
até mesmo perigoso em São João do Araguaia, São Geraldo do Araguaia e Xinguara,
no sudeste do Pará. O líquido que chega às torneiras das casas está sob a
responsabilidade da Odebrecht Ambiental, que detém as concessões do serviço de
abastecimento nas três cidades e em outros sete municípios paraenses. Moradores
de baixa renda, que precisam do Bolsa Família para sobreviver, têm sentido
dificuldade para pagar as contas todo mês. Também existem reclamações de que a
empresa usa cloro em excesso no tratamento, o que traz mal-estar às crianças.
Alguns
pais enfrentam o dilema entre deixar as contas em dia ou manter a família, o
que pode resultar em cortes até na alimentação. Há moradores que viram a fatura
alcançar metade do orçamento, chegando a valores próximos de R$ 200. Nos três
municípios, 4.107 pessoas vivem com até um quarto do salário mínimo por mês (o
equivalente a R$ 197), segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE). A saída é gerenciar a economia doméstica, em uma eterna
corda bamba, que onera sobretudo as crianças.
Muitos
recorrem a fontes alternativas de água, como poços artesianos e rios da região,
que podem estar contaminados. Isso expõe as crianças ao risco de ter diarreia e
doenças como febre tifoide, hepatite A e parasitoses. “A tarifa da água aperta
demais o orçamento. Muitas vezes tive que deixar de comprar coisas para as
meninas, como comida ou material de escola. Houve meses em que tive que pedir
dinheiro para a minha sogra para colocar comida na mesa”, afirma a dona de casa
Ana Carolina Dias Palone, de Xinguara, que tem duas filhas, de 5 e 7 anos.
“Muitas vezes tenho que deixar uma conta pendente para o próximo mês, para dar
tempo de sobrar um dinheirinho e conseguir comprar o que elas precisam comer.”
Veja a nota da Odebrecht Ambiental
sobre o fornecimento de água no Pará