Segunda, 7 de dezembro de 2015
Aline Leal - Repórter da Agência
Brasil
Com a situação inédita no mundo de mais de 1.200 casos suspeitos de microcefaliarelacionados à infecção pelo vírus Zika no Brasil, o presidente da
Associação Brasileira de Saúde Coletiva, Gastão Wagner Campos, defendeu que é
preciso mudar a estratégia de combate ao mosquito Aedes aegypti, vetor
dos vírus da dengue, da chikungunya e do Zika.
Para ele, o país vive uma emergência sanitária. “Temos uma
emergência sanitária. Uma parte importante dessas crianças que têm microcefalia
morre antes de nascer, na gestação ou logo na primeira infância. outros têm
convulsões, problemas neurológicos gravíssimos, deficiência intelectual,
motora. É um problema muito grave”, disse, em entrevista à Agência Brasil.
Segundo o especialista, o governo brasileiro fracassou no
combate ao mosquito e um dos motivos é a falta de coordenação entre as unidades
federativas. Ele afirma que a população não pode ser responsabilizada.
Doutor em saúde coletiva e professor da Universidade
Estadual de Campinas, Campos diz que deve haver integração entre os governos
municipais, estaduais e federal. “Eu defendo que sejam formados grupos que
unifiquem os recursos do Ministério da Saúde, do estado em questão e do
município sob um único comando, e que esse grupo possa contar com o apoio das
Forças Armadas, para ir de casa em casa apoiando as pessoas a mudar, por
exemplo, lajes, pôr calhas, no escoamento de criadouros”.
Segundo o especialista, alguns municípios agem, outros não
e, com isso, a infestação pelo mosquito não diminui. De acordo com Campos, a
ação de ir de casa em casa ajudando a população a eliminar os criadouros, de
ter dia certo para recolher “bagulhos”, tem que durar anos até que a circulação
do mosquito registre queda substancial.
O Aedes aegypti tem grande capacidade de adaptação,
por isso é improvável que se chegue à eliminação do vetor. O professor observou
que é possível diminuir drasticamente os criadouros também com sistemas de
coleta de lixo mais eficientes e com uma limpeza urbana mais sistemática e
rigorosa.
Apesar das críticas ao combate ao mosquito, Campos elogiou o
governo pelo alerta rápido sobre as consequências do vírus Zika. “É muito
importante avisar a população sobre os riscos”, disse, acrescentando que é uma
decisão prudente, apesar de muito pessoal, adiar planos de gravidez.
No último sábado (5), o governo federal divulgou o Plano
Nacional de Enfrentamento à Microcefalia, dividido em três eixos de ação:
Mobilização e Combate ao Mosquito; Atendimento às Pessoas; e Desenvolvimento
Tecnológico, Educação e Pesquisa. Para o primeiro eixo, o documento prevê a
mobilização de agentes comunitários a fim de reforçar a orientação à população
sobre o combate ao mosquito nas residências. Pelo novo plano, serão feitas
mobilizações com agentes comunitários de saúde e agentes de combate a endemias.
Em nota, o Ministério da Saúde informa que, para o controle
do vetor, o governo federal vai adquirir e disponibilizar equipamentos para a
aplicação de inseticidas e larvicidas e garantir a compra dos insumos. As
Forças Armadas e a Defesa Civil vão dar apoio logístico para o transporte e a
distribuição de inseticidas e de profissionais de saúde. Os dois órgãos também
vão atuar em visitas a residências para eliminação e controle do vetor, além de
mobilizações de prevenção, como mutirões.
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