Quarta, 17 de abril de 2013
Ato de lançamento do Brasil Nunca
Mais Digit@l ocorre no dia 9 de agosto, no auditório da PRR3. Projeto
garante acesso a todo o material colhido no início dos anos 80 pela
Arquidiocese de São Paulo e pelo Conselho Mundial de Igrejas, o qual
revelou torturas praticadas por agentes públicos durante a ditadura
A Procuradoria Regional da República da 3ª Região
(PRR3) sediará, no dia 9 de agosto, o ato de lançamento do Brasil Nunca
Mais Digit@l, site que disponibilizará cerca de 900 mil páginas
digitalizadas de um conjunto de 710 processos da repressão durante a
ditadura militar, julgados pelo Superior Tribunal Militar. Com essa
iniciativa todo o acervo do Brasil Nunca Mais (BNM), projeto realizado
no início dos anos 80 pela Arquidiocese de São Paulo e o Conselho
Mundial de Igrejas, poderá ser consultado pela internet. O site trará,
ainda, cópia integral dos arquivos do Conselho Mundial de Igrejas e da
Comissão Justiça e Paz de São Paulo, os quais revelam os bastidores do
projeto, realizado em segredo durante a vigência do regime de exceção.
Com
início às 9h45, o ato tem por objetivo apresentar ao público o
histórico do projeto, o conteúdo e o funcionamento do Brasil Nunca Mais
Digit@l. Com a participação do procurador-geral da República, da
coordenadora da Comissão Nacional da Verdade e autoridades dos governos
federal, estadual e municipal, membros do Poder Legislativo e do Poder
Judiciário, o evento também se destinará a homenagear todos que
participaram do BNM, reputada a mais corajosa e abrangente iniciativa já
realizada pela sociedade civil brasileira em prol da verdade e da
justiça.
O BNM foi integralmente desenvolvido nos anos oitenta
sob a coordenação de Dom Paulo Evaristo Arns e do Reverendo James
Wright, com apoio financeiro do Conselho Mundial de Igrejas. Em 15 de
julho de 1985, apenas quatro meses após a retomada do regime
democrático, deu origem ao livro "Brasil: Nunca Mais", publicado pela
Editora Vozes, que se tornou um sucesso de vendas e referência no tema
da violação aos direitos humanos no Brasil.
O acervo do BNM é
composto essencialmente de cópias dos processos judiciais que tramitaram
no Superior Tribunal Militar, movidos contra presos políticos. Os
advogados de defesa perceberam que poderiam reproduzir esses autos,
aproveitando-se do prazo de 24 horas de que dispunham para examiná-los
fora do STM. Com essa estratégia foram obtidas cópias integrais dos
processos e especialmente dos depoimentos prestados pelos presos perante
as auditorias militares, nos quais denunciavam as torturas e outros
detalhes das violências sofridas, inclusive nomes de perpetradores.
Foram
copiados 710 processos em Brasília e, após o material ter sido remetido
a São Paulo, uma equipe de advogados, jornalistas, arquivistas e
historiadores o examinou e sistematizou. Finalmente, foi escrito um
relatório de doze volumes e o livro editado pela Vozes. Diante do temor
de apreensão e destruição do material, foi decidido microfilmar todas as
páginas produzidas e remeter os filmes ao exterior. Esse trabalho foi
empreendido ao longo de seis anos, sob total sigilo. Participaram do
BNM, dentre muitos anônimos: Frei Betto, Ricardo Kotscho, Paulo
Vannuchi, Sigmaringa Seixas, Luiz Eduardo Greenhalgh, Eny Raimundo
Moreira e Charles Harper.
BNM Digit@l - A
digitalização e divulgação do acervo do BNM objetiva preservar esse
patrimônio histórico nacional, ampliar o acesso ao material de pesquisa e
revelar a história de concepção e desenvolvimento dessa iniciativa
social. O trabalho foi iniciado em 14 de junho de 2011, quando o
Ministério Público Federal repatriou do "Center for Research Libraries"
(CRL), nos EUA, os microfilmes de segurança que continham cópia de todos
os processos judiciais reproduzidos pelo BNM e o procurador-geral da
República recebeu do secretário-geral do Conselho Mundial de Igrejas os
arquivos daquela entidade sobre o projeto.
O BNM Digit@l é uma
parceria de diversas entidades comprometidas com a promoção dos direitos
humanos: Ministério Público Federal, Armazém Memória, Arquivo Público
do Estado de São Paulo, Instituto de Políticas Relacionais, Conselho
Mundial de Igrejas, Comissão Nacional da Verdade, Ordem dos Advogados do
Brasil - Seccional Rio de Janeiro, Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo, Universidade de Campinas (Arquivo Edgard Leuenroth),
Universidade Metodista de São Paulo, Center for Research Libraries,
Arquivo Nacional e Rubens Naves, Santos Jr., Hesketh Escritórios
Associados de Advocacia. O projeto também recebeu apoio do Superior
Tribunal Militar e do Consulado Brasileiro em Chicago.