Sexta, 10 de outubro de 2014
Ivan Richard - Repórter da Agência Brasil*
Edição: Carolina Pimentel e Juliana Andrade
Em depoimento à Justiça Federal, o ex-diretor de
Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, que cumpre prisão
domiciliar, disse que PP, PT e PMDB eram beneficiados com recursos de
contratos superfaturados da estatal.
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O depoimento, que faz parte
do inquérito de uma das dez ações penais decorrentes da Operação Lava
Jato, da Polícia Federal, ocorreu ontem (8) e está disponível na íntegra
no site da Justiça Federal. Durante o interrogatório, o
ex-diretor respondeu a perguntas do juiz Sérgio Moro feitas com base em
denúncia do Ministério Público Federal (MPF).
Segundo o
ex-diretor, empreiteiras repassavam 3% do valor de contratos
superfaturados aos três partidos. Em nota, o PT repudiou “com veemência e
indignação” as declarações “caluniosas” do ex-diretor. Já o PP informou
desconhecer as denúncias. O PMDB, por sua vez, não comentou as
acusações alegando que não teve acesso ao depoimento.
O
ex-diretor, que é funcionário de carreira da Petrobras, foi preso na
Operação Lava Jato, deflagrada em março, que descobriu um esquema de
lavagem de dinheiro e desvio de recursos públicos de cerca de R$ 10
bilhões. Ao juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara da Justiça Federal de Curitiba
e responsável pelas investigações, o ex-diretor confirmou que foi
indicado, em 2004, para assumir a diretoria da companhia pelo
ex-deputado José Janene (PP), que morreu em 2008.
Em 2006,
segundo ele, começou a funcionar na estatal um esquema de
“cartelização”, em que grandes empreiteiras faziam combinação de preço e
incluíam nas propostas, além da previsão de custos e lucros, o
percentual que seria repassado aos três partidos.
“Essa
cartelização, obviamente, resultava em um 'delta [alta] preço
diferente'”, disse. “E esses 3% eram alocados a agentes políticos. As
empresas, previamente, definiam a proposta de preço que iam apresentar
[na licitação] e nisso embutiam o preço que, em média, era 3% de ajuste
político”, acrescentou.
De acordo com Paulo Roberto Costa, do
valor dos contratos superfaturados da Diretoria de Administração, 1%
ficava com o PP e 2% iam para o PT. Em diretorias, cujo responsável era
indicação petista, o percentual, segundo Costa, era repassado
integralmente ao PT. “Outras diretorias, como Gás e Energia e Exploração
e Produção também eram do PT. Então, se tinha PT na diretoria de
Exploração e Produção e Gás e Energia e na área de Serviço, o comentário
dentro da companhia era que, nesse caso, os 3% ficavam diretamente para
o PT porque não tinha participação [de outros partidos].”
Em
relação ao PMDB, o ex-diretor afirmou que o partido era beneficiado com
contratos firmados pela Diretoria Internacional, cujo diretor era
indicação de um político peemedebista. “Dentro do PT, a ligação que o
diretor de Serviço tinha era com o tesoureiro à época do PT, o senhor
João Vaccari [Neto]. No PMDB, a ligação na Diretoria Internacional, o
nome que fazia essa articulação toda, se chama Fernando Soares,
conhecido como Fernando Baiano”, relatou.
De acordo com Costa,
Janene era responsável pelo esquema em relação ao PP. Depois da morte do
ex-parlamentar, o esquema no partido passou a ser controlado pelo
doleiro Alberto Youssef, que também foi preso pela Polícia Federal.
Paulo
Roberto Costa assumiu que ficava com parte do que era repassado ao PP.
Ele admitiu que chegou a receber, de uma só vez, R$ 500 mil do
presidente da Transpetro, Sergio Machado. “Recebi uma parcela da
Transpetro [subsidiária da Petrobras], se não me engano, foi R$ 500 mil.
Quem pagou foi o presidente Sergio Machado“. Segundo ele, a propina foi
paga em 2009 ou 2010, em decorrência da contratação de navios cujo
parecer precisava do aval da Diretoria de Abastecimento.
À
Justiça, o ex-diretor disse que as empresas Odebrecht, Camargo Corrêa,
Andrade Gutierrez, Iesa, Engevix, Mendes Júnior, UTC Engenharia, Queiroz
Galvão e Galvão Engenharia participavam do esquema de superfaturamento
de contratos firmados com a Petrobras e repasse de propina aos partidos.
Paulo
Roberto Costa aceitou proposta do MPF de reduzir a pena em troca de
revelar informações de como funcionava o esquema, chamada delação
premiada. No acordo, o ex-diretor ainda se comprometeu a devolver aos
cofres públicos recursos ganhos por meio das fraudes. O depoimento de
ontem não está relacionado a esse acordo.
Em nota, a Petrobras
informou que está acompanhando e colaborando com as investigações. “A
Petrobras reforça, ainda, que está sendo oficialmente reconhecida por
tais autoridades como vítima nesse processo de apuração. Por fim, a
Petrobras reitera enfaticamente que manterá seu empenho em continuar
colaborando com as autoridades para a elucidação dos fatos”.
O
presidente da Transpetro, Sergio Machado, negou “com veemência” a
acusação de que teria repassado propina a Paulo Roberto Costa e prometeu
tomar providências “cabíveis, inclusive judiciais“, contra o
ex-diretor. “As acusações são mentirosas e absurdas”, disse Machado em
nota.
A Agência Brasil está em contato com as empresas a fim de obter o posicionamento delas sobre as declarações do ex-diretor.
*Colaborou Iolando Lourenço