Sábado, 11 de outubro de 2014
As revelações estarrecedoras escancaram a falência moral do Estado nos últimos anos
O
ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto Youssef
afirmam que o PT foi o partido mais contemplado pela propina.
Na quarta-feira 8, vieram à tona áudios de depoimentos feitos em regime
de delação premiada na Justiça Federal em Curitiba por Paulo Roberto
Costa, ex-diretor da Petrobras, e pelo doleiro Alberto Youssef –
considerados hoje dois dos maiores arquivos vivos da República e
detentores dos segredos mais explosivos da maior estatal do País. As
declarações dos delatores descrevem uma gigantesca rede de corrupção
formada por dirigentes da Petrobras, empreiteiras e partidos políticos
integrantes da base de sustentação do governo Dilma Rousseff. As
revelações são estarrecedoras. A corrupção estatal poucas vezes foi
exposta de maneira tão crua e direta narrada abertamente por seus
executores a serviço do Estado. Nos áudios, os depoentes apontam PT,
PMDB e PP como as legendas beneficiadas pelo propinoduto e colocam sob
suspeição a campanha de 2010 da presidenta Dilma Rousseff. “Dos 3% da
Diretoria de Abastecimento, 1% seria repassado para o PP e os 2%
restantes ficariam para o PT. Isso me foi dito com toda a clareza”,
afirmou o ex-diretor da Petrobras...
“Outras diretorias também eram PT. O comentário que pautava dentro da
companhia era que em alguns casos os 3% ficavam para o PT”, acrescentou.
Um dos operadores dos desvios na Petrobras, de acordo com os
depoimentos, era João Vaccari Neto, tesoureiro do PT. Indicado para o
cargo pelo ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, o ex-diretor de
Serviços Renato Duque e Nestor Cerveró, ex-dirigente da Área
Internacional da Petrobras da cota do PMDB, também recebiam propina.
“Bom, era conversado dentro da companhia e isso era claro que sim. Sim. A
resposta é sim”, afirmou Paulo Roberto Costa, questionado sobre o
pagamento de suborno aos dois. As movimentações irregulares, segundo
disseram, continuaram até 2012, quando Costa deixou a estatal, e pode
ter contaminado a atual campanha de Dilma à reeleição.
É fato que se a sociedade brasileira encarar como natural esse assalto à
coisa pública terá de estar preparada para aceitar todo e qualquer tipo
de desmando de seus governantes. Os limites estarão rompidos
indissoluvelmente. Mas, sabe-se, não é da índole do brasileiro
compactuar com malfeitos. Neste caso, malfeitos perpetrados no coração
da maior estatal do País, motor do desenvolvimento e outrora símbolo da
soberania nacional. O dinheiro desviado tinha origem no superfaturamento
dos contratos da Petrobras. A taxa média do sobrepreço, além da boa
margem de lucro, girava em torno de 3%. Paulo Roberto Costa explicou
como funcionava a fábrica de dinheiro para as campanhas políticas e o
bolso dos corruptos. Costa confessou que atuava como guardião dos
numerários da corrupção. Ele intermediava contatos políticos, gerenciava
o pagamento de propina das empreiteiras e cuidava dos critérios da
distribuição dos lucros aos partidos envolvidos. O ex-diretor foi
assertivo ao apontar o PT como o maior beneficiário dos desvios. Cada
partido tinha seus próprios operadores. De acordo com os depoimentos, o
ex-deputado José Janene (PR), que faleceu em 2010, e Youssef eram os
responsáveis por distribuir o dinheiro da propina no PP. Eles também
entregavam a parte que cabia ao ex-diretor da Petrobras por sua atuação
nas irregularidades. Costa não detalhou como era feita a divisão dos
recursos no PT, tarefa do tesoureiro João Vaccari. No organograma do
crime, o delator aponta o ex-diretor de Serviços Renato Duque,
apadrinhado de José Dirceu, como o contato do tesoureiro do PT na
estatal.
Os depoimentos, colhidos pelo juiz Sérgio Moro,
impressionaram pela riqueza de detalhes e pela
sofisticação do esquema corrupto narrado
A farra da base aliada na estatal se iniciou, de fato, em 2007, quando a
Petrobras direcionou o orçamento para grandes projetos, como a
construção de refinarias. Mas a idealização e a montagem da rede de
corrupção remetem a 2004, com a nomeação de Paulo Roberto Costa para a
Diretoria de Abastecimento. Na cúpula da estatal, ele teve grande
importância na ampliação do poder do cartel das empreiteiras e na
geração de mais divisas para a ala de políticos da quadrilha. Por isso,
contou com o lobby de fortes lideranças do cenário nacional para chegar
ao posto, com o aval do Palácio do Planalto. Nesse ponto, o doleiro
Youssef fez uma das revelações mais importantes de seu depoimento. “Para
que Paulo Roberto Costa assumisse a cadeira de diretor da Diretoria de
Abastecimento, esses agentes políticos trancaram a pauta no Congresso
durante 90 dias. Na época o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ficou
louco, teve que ceder e realmente empossar o Paulo Roberto Costa”,
contou Youssef no interrogatório.
Leia a íntegra da reportagem em:
http://www.istoe.com.br/reportagens/387126_DELATOR+DA+PETROBRAS+DIZ+QUE+A+CAMPANHA+DE+DILMA+EM+2010+FOI+BENEFICIADA+POR+DINHEIRO+DESVIADO?pathImagens=&path=&actualArea=internalPage
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