Segunda, 14 de setembro de 2015
Por André Caramante
Ao todo, 11 PMs estão presos por render, soltar e depois atirar contra dois jovens, na tarde de 7 de setembro, no bairro do Butantã. Imagens de câmeras de segurança e de telefone celular desmontaram farsa armada por militares para tentar encobrir execuções
A Justiça Militar decretou nesta segunda-feira (14/09) a prisão de
mais seis policiais militares de SP envolvidos em uma farsa _dividida em
dois capítulos_ para tentar encobrir as execuções de dois jovens, no
bairro do Butantã, zona oeste de São Paulo. Agora, ao todo, são 11 PMs
presos pelas duas mortes.
Paulo Henrique Porto de Oliveira, 18 anos, e Fernando Henrique da
Silva, 23, foram mortos a tiros por PMs dos 23º e 16º batalhões, na
tarde de 7 de setembro.
Os PMs presos nesta segunda-feira têm relação direta com a morte de
Fernando da Silva. Imagens gravadas com um telefone celular mostram que o
rapaz, assim como o amigo Paulo, foi rendido pela Polícia Militar antes
de ser morto com quatro tiros (abdômen, lombar, virilha e mão esquerda,
o que indica tentativa de defesa).
Fernando
Henrique da Silva tinha 18 anos e foi jogado do alto de um telhado por
um PM. Depois da queda, ele foi baleado quatro vezes por outros PMs
Fernando da Silva foi detido por um PM da Rocam (Rondas Ostensivas
com Apoio de Motocicletas) em um telhado e, depois de ser totalmente
dominado, foi jogado de uma altura de oito metros. Após a queda de
Fernando, é possível ouvir o barulho de tiros.
Na versão que começa a ser desmontada agora pelo DHPP (Departamento
de Homicídios e Proteção à Pessoa), da Polícia Civil, os PMs Flavio
Lapiana de Lima e Fabio Gambale da Silva, ambos com 33 anos de idade e
da 4ª Companhia do 16º Batalhão da PM, disseram o seguinte:
“Na rua Maria Burgueta Marcondes Pestana, nº xx, os militares foram
informados pela moradora que um indivíduo [Fernando Silva] havia entrado
na residência. Os militares [Lapiana e Gambale] entraram na casa e,
neste momento, o indivíduo, vindo da casa vizinha, pulou no quintal da
casa onde os policiais militares estavam. O indivíduo disparou em
direção ao policial Lapiana. Os policiais foram obrigados a disparar
contra o indivíduo.”
Os PMs Lapiana e Gambale também disseram à Polícia Civil que Fernando
da Silva usou uma pistola 9mm para atirar contra ambos, mas os
investigadores acreditam que a arma foi plantada junto ao corpo do rapaz
da mesma maneira como outros PMs foram filmados fazendo com Paulo
Oliveira, morto perto da lixeira onde havia se escondido.
Além de Lapiana e Gambale, também foram presos pela farsa na morte de
Fernando da Silva os PMs Angelo Felipe Mancini, Paulo Eduardo de
Almeida Hespanhol, Samuel Paes e João Maria Bento Xavier.
À polícia, a moradora da casa onde Fernando Silva foi morto disse que
não viu a ação dos PMs e que apenas ouviu os tiros em sua propriedade.
Na sexta-feira (11/09), outros cinco PMs haviam sido presos após a
revelação de imagens de câmeras de segurança que mostraram que Paulo
Oliveira, 23 anos, amigo de Fernando da Silva, foi morto quando também
estava rendido. O rapaz se rendeu após ter se escondido em uma lixeira
comunitária.
Pela versão que apresentaram à Polícia Civil, os PMs Tyson Oliveira
Bastante, 26 anos, e Silvano Clayton dos Reis, 31, ambos da 3 Companhia
do 23 Batalhão da PM, assumiram ter atirado contra Paulo Henrique.
Outros três PMs que deram cobertura aos dois _Mariani de Moraes
Figueiredo, Silvio André Conceição e Jackson Silva Lima_ também estão
presos.
Paulo Oliveira e Fernando da Silva, segundo os PMs envolvidos em suas
mortes, eram perseguidos porque eram suspeitos de tentar roubar uma
moto. Ao ser interrogado pela polícia, o dono da moto disse que os dois
jovens não estavam com armas de fogo. Os jovens estariam com uma faca.
Os PMs envolvidos na perseguição, captura e morte de Paulo Oliveira e
Fernando Silva também disseram à Polícia Civil que os dois chegaram a
atirar contra carros da Polícia Militar durante a fuga, mas um homem que
teve seu carro atingido por uma leve batida durante a perseguição disse
não ter visto se os jovens atiraram na direção dos PMs. O motorista
disse apenas ter visto a moto com os dois rapazes, na contramão da
rodovia Raposo Tavares, e um carro da PM atrás deles.
A primeira farsa descoberta
PMs algemaram Paulo Oliveira, o soltaram, levaram para um muro, o deitaram no chão e atiraram duas vezes contra o peito dele.
Depois de atirar contra Paulo Oliveira, um PM vai até um carro da
polícia, pega uma pistola no banco traseiro, aciona o rádio para
comunicar a central da corporação sobre um tiroteio e volta até o corpo
do jovem, onde coloca a arma retirada de dentro do veículo.
Pela versão que apresentaram à Polícia Civil, os PMs Tyson Oliveira
Bastante, 26 anos, e Silvano Clayton dos Reis, 31, ambos da 3 Companhia
do 23 Batalhão da PM, assumiram ter atirado contra Paulo Henrique.
Outros três PMs que deram cobertura aos dois também estão presos.
O passo a passo da execução de Paulo Henrique Porto de Oliveira (siga pelo timer em preto):
14:10:47 – Paulo passa correndo, no alto da imagem, e entra na lixeira que está atrás da árvore
14:11:43 – Paulo começa a se preparar para sair da lixeira. Ele levanta a tampa algumas vezes
14:12:15 – Paulo sai da lixeira, com as mãos para o alto, tira a
blusa e a camiseta. Veste novamente a camiseta, senta no chão, levanta
as mãos para o alto novamente. Vira de bruços, levanta mais uma vez as
mãos para o alto. O rapaz deixa com o rosto no chão.
14:12:45 – O rapaz vira de barriga para cima e, ainda deitado, estica os braços para cima.
14:13:36 – O primeiro PM se aproxima de Paulo, que segue deitado no
chão. O militar está com a arma empunhada. Ao lado, uma policial também
ajuda a render o rapaz, assim como um PM da Rocam (Ronda Ostensiva Com
Apoio de Motocicletas).
14:13:58 – Paulo é algemado pelo primeiro PM que chega perto dele.
14:15:03 – Uma moto com um soldado da Rocam e dois carros da PM chegam para auxiliar os PMs que já renderam Paulo.
14:15:21 – Quatro PMs cercam Paulo, que está algemado de bruços no chão.
14:15:30 – O mesmo PM que algemou Paulo se abaixa e o libera das algemas.
14:15:10 – Com a ajuda de um PM, que o segura pela mão, Paulo é colocado sentado perto do muro.
14:15:45 – Auxiliado por um PM, que o segura pelas duas mãos, Paulo é
levantado e colocado em outro canto do muro, dessa vez atrás de um
poste.
14:18:30 – PM faz sinal para alguém se afastar da cena do crime.
14:18:33 – Paulo é baleado duas vezes, no peito, e começa a se debater.
14:18:36 – PM que ajuda atirar em Paulo corre até carro da polícia,
abre a porta traseira esquerda, pega uma pistola, coloca o carregador,
abre a porta dianteira esquerda, fala algo no rádio e volta correndo até
o corpo de Paulo, onde a arma é colocada.
A reportagem não conseguiu localizar os advogados de defesa dos 11
PMs presos pelas mortes de Paulo Oliveira e Fernando da Silva.