Sábado, 17
de outubro de 2015
Do Blog Náufrago da Utopia
Por Celso Lungaretti
Ao
grande capital agradaria muito o governo Dilma.2 caso o arrocho fiscal
estivesse dando certo e a imposição de uma política econômica neoliberal
marchasse a contento.
Mas, apesar de todo empenho do Luís Carlos Trabuco e do Roberto Setúbal,
os dois maiores bancos privados ainda não determinam os humores
nacionais, só mandam nas decisões da Dilma.
Então, a impopularidade extrema da gerentona
(o povo não lhe perdoa o estelionato eleitoral, a promessa não cumprida
de que sua reeleição evitaria a adoção da austeridade econômica) e o
desconforto que a rendição incondicional ao grande capital provoca na
própria esquerda chapa branca
(pois esta teme os desastres eleitorais que lhe advirão caso sua imagem
fique identificada com medidas tão iníquas) simplesmente paralisaram o
ajuste fiscal. Ele não anda. E, com isto, a recessão se agrava cada vez
mais.
O que temos, portanto, é um vazio de poder. As forças políticas se anulam e a inércia faz a economia deslizar para o abismo.
À medida que todos os índices econômicos piorem, o Brasil sofra
sucessivos rebaixamentos por parte das agências de risco, os
investidores internacionais retirem seus capitais daqui, o desemprego vá
às nuvens, o padrão de vida dos cidadãos decaia cada vez mais, etc., o
que acontecerá?
O óbvio: saques de supermercados e caixas eletrônicos, manifestações de
rua raivosas, convulsão social. Aquilo que o ministro do Exército prevê.
Mas, como essas situações no Brasil acabam sempre sendo resolvidas por
conchavões da elite, é quase certo que, às portas do caos, venha a ser
parida alguma fórmula para o afastamento de Dilma e constituição de um
novo governo. Este certamente aliviaria as tensões, produzindo melhora
momentânea, pois aos exploradores não interessa que o Brasil exploda, e
eles têm poder de fogo suficiente até para criarem um novo milagre brasileiro, se for necessário.
Quais as alternativas a tudo isso?
Não a da Dilma, que usa todo o arsenal da politicalha sórdida para
evitar que o processo de impeachment tramite no Congresso e seja votado.
Pois assim apenas se alongará sua agonia, até que ela acabe sendo
despejada do Planalto como consequência da agudização da crise
econômica. É chocante a falta de uma visão mais ampla por parte desses
companheiros de outrora, que, até por seu passado de esquerda, deveriam
saber muito bem que colocarem os dedos nas rachaduras do dique só fará
com que este acabe desabando sobre suas cabeças.
Muito melhor seria se o Congresso afinal decidisse: ou chutando a Dilma,
o que ao menos evitaria que continuássemos marchando para o fundo do
poço; ou confirmando seu mandato, o que lhe restituiria um mínimo de
condições para governar. Do jeito que está é que não pode ficar.
Finalmente, eis o cenário ideal (no qual, contudo, não aposto pois Dilma
não é nem nunca será Allende): a presidenta dar a mão à palmatória,
reconhecer que errou rotundamente ao querer apoiar-se na direita, mandar
o Levy para o Bradesco que o pariu e apostar a sobrevivência do seu
mandato numa outra guinada, desta vez à esquerda e pra valer.
Aí, ou a política revolucionária voltaria a existir no Brasil, ou pelo
menos a Dilma cairia pelos motivos certos, coerentes com seu passado
ilustre, e não como uma patética ex-guerrilheira que quis aplicar a
cartilha econômica dos inimigos e nem para isto teve competência.