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(Millôr Fernandes)

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Empresário confirma proposta de propina por parte de deputados distritais

Quinta, 23 de novembro de 2017
Empresário confirma proposta de propina por parte de deputados
Deflagrada em 2016 pelo MPDFT e pela Polícia Civil, a operação Drácon cumpriu 14 mandados de busca e apreensão e oito mandados de condução coercitiva na residência de parlamentares, servidores e ex-servidores da Câmara Legislativa.

Por Deborah Fortuna - Correio Braziliense / CB. Poder - foto: Cut Brasília
e Portal ContextoExato

O presidente da Associação Brasiliense de Construtores (Abrasco), Luiz Afonso Assad, confirmou em depoimento nesta tarde (22/11) à Justiça ter sido procurado pelos deputados distritais Bispo Renato (PR) e Júlio César (PRB). Segundo ele, os parlamentares propuseram um acordo para a realização de obras na capital federal em troca de propina. Nos encontros, os três teriam discutido onde seriam investidos R$ 30 milhões economizados do orçamento da Câmara Legislativa em 2015. No entanto, Assad nega participação no esquema. O depoimento foi prestado na denúncia contra os servidores, que tramita na 8ª Vara Criminal de Brasília.


No depoimento, o empresário apontou que sugeriu aos distritais que investissem igualmente o valor no sistema de saúde e de educação do DF. Segundo ele, outro parlamentar entrou em contato confirmando a destinação de R$ 15 milhões para cada área. “A Liliane Roriz (PTB) me disse que estava tudo certo. Mas não foi isso que aconteceu, e eu fiquei surpreso”, disse. O empresário revelou ainda conhecer grande parte dos deputados da Câmara Legislativa (CLDF), por estar familiarizado com pedidos de obras.

No entanto, durante as negociações, a “sobra” aumentou para R$ 31 milhões – sendo que, na mudança, R$ 1 milhão seria destinado a educação, e o restante para a saúde. Empresas relacionadas a Assad seriam responsáveis pelas obras das escolas, porém, os parlamentares teriam pedido uma “ajuda”, considerada pelo empresário propina. “Eles me disseram que precisavam de R$ 10 mil para cobrir as despesas”, revelou. Em resposta, ele teria negado a participação.

Além do depoimento de Assad, a Justiça ouviu também o ex-secretário de Saúde Fábio Gondim e o chefe de gabinete de Liliane Roriz, José Adenauer. Os depoimentos serviram como base para as investigações contra o ex-secretário geral da CLDF, Valério Neves, ex-diretor do Fundo de Saúde, Ricardo Cardoso e do ex-servidor do gabinete do distrital Bispo Renato, Alexandre Cerqueira.

Gondim negou ter conhecimento de qualquer irregularidade enquanto esteve à frente da Secretária de Saúde, e também que tenha conversado com qualquer distrital sobre o assunto. No entanto, o ex-secretário disse ter sido informado sobre um depósito de R$ 30 milhões para uma empresa prestadora de serviços de UTIs no DF. “O que foi dito é que houve o pagamento para a Intensicare. Mas não achei nada disso (no sistema), então eu achei que fosse alarme falso”, explicou.

Sobre Ricardo Cardoso, Gondim explicou que a relação entre os dois era profissional, mas que, pouco antes de deixar a Secretaria, pediu ao governador Rodrigo Rollemberg (PSB), a substituição do diretor do Fundo de Saúde. Era ele o responsável por fazer os pagamentos para as prestadores de serviço da área de saúde. A sugestão ocorreu pouco depois do secretário ser informado sobre uma viagem entre Ricardo e o distrital Cristiano Araújo (PSD). “Nossa relação não era fácil, mas não tínhamos animosidade”, contou.

O funcionário do gabinete de Liliane Roriz, afirmou que essa foi a primeira vez que a “sobra” teve uma destinação diferente, desde quando iniciou o trabalho na CLDF, em 1991. “O comum é a destinação para o pagamento de pessoal do judiciário local, e por isso eu estranhei a divisão entre escola e saúde”, detalhou.


Drácon
Deflagrada em 2016 pelo MPDFT e pela Polícia Civil, a operação Drácon cumpriu 14 mandados de busca e apreensão e oito mandados de condução coercitiva na residência de parlamentares, servidores e ex-servidores da Câmara Legislativa. Ela teve como principal motivação a divulgação de uma conversa entre as deputadas Liliane Roriz e Celina Leão sobre um suposto esquema de corrupção.

O alvo foi a Mesa Diretora da CLDF, composta pelos parlamentares Celina Leão (PPS), Raimundo Ribeiro (PPS), Julio Cesar (PRB) e Bispo Renato Andrade (PR). E também os servidores Alexandre Cerqueira, ex-servidor do gabinete de Bispo Renato, Valério Neves, exonerado no mesmo dia do cargo de secretário-geral da Casa, e Ricardo Cardoso, ex-diretor do Fundo de Saúde, da Secretaria de Saúde. Além disso, o deputado Cristiano Araújo (PSD) também é alvo da operação.

A segunda fase da operação teve como objetivo alcançar outros locais de busca e apreensão que ainda não tinham sido investigados. Além de verificar se os computadores e outros equipamentos tinham sido retirados de gabinetes da Câmara. Os indícios apontavam, na época, que havia os deputados haviam ocultado e se livrado de provas. Na terceira fase, o assessor da deputada Celina Leão, Sandro de Vieira Morais, e Alexandre Cerqueira foram considerados suspeitos de retirarem computadores com possíveis provas da CLDF. Uma nova audiência está marcada para o dia 11 de dezembro.