Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Quando as águas do Rio de Janeiro arderam

Novembro
27

Quando as águas do Rio de Janeiro arderam

     Em 1910, no dia 27 de novembro, acabou a rebelião da marujada brasileira. Os sublevados haviam ameaçado, disparando seus canhões tiros de advertência, a cidade do Rio de Janeiro.
     “Basta de chibata, ou vamos fazer a cidade virar pó”, gritavam eles. A bordo dos seus navios de guerra, as chibatadas eram hábito, e com frequência os castigados morriam.
     E depois de cinco dias o motim triunfou, e as chibatas foram jogadas no fundo das águas, e os párias do mar desfilaram, aclamados, pelas ruas do Rio.
     Um tempo depois, o chefe da insurreição, João Cândido, filho de escravos, almirante por decisão dos sublevados, tornou a ser marinheiro raso.
     E um tempo depois, foi expulso. E um tempo depois, foi preso. E um tempo depois, foi trancado num manicômio. Ele tem seu monumento, diz uma canção, nas pedras pisadas do cais.

          Eduardo Galeano, Os filhos dos dias, L&PM Editora, 2012, página 373.
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João Cândido na primeira página do Jornal Gazeta de Notícias, em 31 de dezembro de 1912. Domínio público. (Wikipédia)

"Almirante Negro" - (O Mestre-Sala Dos Mares) - letra sem censura, em 20/agosto/2010 (Rio-RJ)