Quinta, 23 de novembro de 2017
Do Jornal do Brasil
A proposta de cobrança de mensalidade em universidades públicas, que
consta do relatório do Banco Mundial, divulgado nesta terça-feira (21),
não agradou a comunidade acadêmica. O vice-reitor da Universidade
Federal Fluminense (UFF), Antonio Claudio da Nóbrega, criticou o
documento e defendeu a gratuidade do ensino superior para toda a
população.
Uma pesquisa do Fórum Nacional de Pró-Reitores de
Assuntos Comunitários e Estudantis (FONAPRACE), publicada em 2016,
revela que, em 2014, 51,4% dos estudantes de graduação nas Universidades
Públicas Federais pertenciam a famílias com renda bruta de até três
salários mínimos. O estudo do Fórum revela ainda que apenas 10,6%
integravam famílias com renda bruta superior a dez salários mínimos.
Pelo relatório do Banco Mundial, por exemplo, os estudantes que
frequentam universidades públicas no Brasil tendem a ser de famílias
mais ricas.
Com base nesse estudo do FONAPRACE, o vice-reitor da
UFF disse que a leitura do relatório mostra premissas equivocadas e
análise superficial do tema Educação e do papel das Universidades.
“Neste cenário, qual seria um valor de mensalidade suportável para
famílias com este perfil de distribuição de renda? E, como consequência,
qual seria o efetivo impacto da cobrança de mensalidades no
financiamento das Instituições? Os números mostram, portanto, que tal
cobrança seria excludente e não contribuiria de forma significativa para
o custeio das Universidades”, afirmou Antonio Claudio da Nóbrega.
Outro
trecho do relatório do Banco Mundial revela que “em média, um estudante
em universidades públicas no Brasil custa de duas a três vezes mais que
alunos das instituições privadas.” Para o vice-reitor da UFF,
“certamente! Pois é nas universidades públicas onde se desenvolvem
pesquisas científicas, são gerados o conhecimento do país e as inovações
para a sociedade. Para isso, são necessários laboratórios e
equipamentos, muitos deles sofisticados, com alto custo de aquisição e
manutenção. É assim em todo o mundo. Desse modo, ignorar a produção de
conhecimento numa sociedade de conhecimento é no mínimo desconhecer o
papel da universidade pública para o desenvolvimento do país de forma
autônoma e soberana”.
Antonio Claudio da Nóbrega criticou ainda a
parte do relatório do Banco Mundial que trata do tema financiamento da
educação no país. Para ele, “conceitos fundamentais são ignorados.
Primeiro, educação não é gasto, é investimento, pois retorna ao país na
forma de profissionais e cidadãos mais preparados para serem agentes do
seu próprio desenvolvimento e do país como um todo. Segundo, a sociedade
já paga pelo ensino público através da arrecadação de impostos e,
diga-se de passagem, com uma carga tributária sem percepção proporcional
de retorno sob a forma de serviços públicos”.
UFF
Uma
das maiores e mais conceituadas universidades federais do Brasil, a UFF
abriga nos seus três campi, nas quatro unidades instaladas em Niterói,
em oito subsedes no Rio de Janeiro e uma no estado do Pará 67.740 mil
alunos e 9.754 mil docentes e técnicos administrativos. Em Niterói (RJ),
a Universidade Federal Fluminense oferece 130 cursos regulares de
Graduação, Pós-Graduação, Doutorado, Mestrado Acadêmico e Profissional e
Especialização, além de 1.929 atividades extracurriculares. Mantém um
Núcleo Experimental em Iguaba Grande, uma Fazenda-Escola em Cachoeiras
de Macacu e o Colégio Universitário Geraldo Reis, atendendo 390 alunos
de Educação Infantil e Básica e estudantes de licenciatura para estágios
supervisionados e projetos de iniciação à Docência. Promove ainda a
inclusão de 149 Pessoas com Deficiência, Transtorno Global do
Desenvolvimento ou Altas Habilidades/Superdotação.