Do Náufrago da Utopia
Por Celso Lungaretti
Finalmente alguém encontrou a melhor definição para o PT dos dias de hoje: esquerda sazonal.
Parabéns
ao filósofo Vladimir Safatle! Ele conseguiu dar o tratamento adequado
ao fenômeno que, talvez por conta da profunda decepção que causa nos que
um dia compartilhamos o sonho e depois o vimos transformar-se em
pesadelo, invariavelmente nos faz resvalar para as diatribes.
O humor, contudo, convence mais do que o rancor, ainda que justificado.
Abaixo, em vermelho, está a biopsia que Safatle faz (o texto integral pode ser acessado aqui)
do partido que se propunha a mudar o Brasil mas hoje, mudado pelo
Brasil, só empunha as velhas bandeiras no período eleitoral, não mais
para libertar os explorados, mas sim para os iludir e, com isto,
conquistar mandatos que continuarão não indo à raiz dos nossos
problemas, qual seja a velha, sempre presente e por enquanto inabalável
exploração do homem pelo homem.
Depois,
tais bandeiras são devolvidas ao depósito das velharias, até que surja
nova necessidade de brandi-las demagogicamente, sempre com o objetivo
único da perpetuação no poder.
"De quatro em quatro anos, ocorre no Brasil um fenômeno interessante. Ele poderia ser chamado de: 'estação das cerejas vermelhas'.
Por
volta no mês de agosto dos períodos pré-eleição presidencial, aparecem
cerejas muito vermelhas, quase proto-revolucionárias, vindas de árvores
governistas que pareciam há muito dar apenas os conhecidos frutos
amargos da austeridade.
Então,
quase que em um passe de mágica, começamos a ouvir na campanha
eleitoral discursos com sabores proibidos de luta de classe, diatribes
contra o sistema financeiro, promessas de investimento massivo em
educação pública.
Mutações incríveis ocorrem, como governos que permitiram os mais fantásticos lucros bancários da história, alimentando o sistema financeiro com títulos da dívida pública e juros exorbitantes, apresentarem os bancos como inimigos do povo.
Tudo muito bonito.
Infelizmente,
a estação das cerejas vermelhas termina de forma abrupta no dia 27 de
outubro, logo após a consagração do segundo turno das eleições
presidenciais. Então as árvores voltam a dar os frutos cinzas que todos
conhecem." (Vladimir Safatle)