Segunda, 21
de setembro de 2015
Por MauroSantayana
(Carta
Maior|) -Tendo aberto a Caixa de Pandora na Síria, ao tentar retirar esse país
da área de influência de Moscou, armando terroristas islâmicos para derrubar o
governo - aliado russo - de Bashar Al Assad, e depois de destruir, nessa
tentativa, a nação que tem mais refugiados hoje espalhados pelo mundo,
Washington reconhece agora que terá de negociar com Moscou por meio de
"discussões táticas práticas", para evitar "erros de
cálculo" que possam colocar os EUA e a Rússia em conflito no teatro de
operações sírio.
Incapaz de colocar tropas no local -
seu negócio é brincar com joysticks, bombardeando apenas algumas
posições do Estado Islâmico, um inimigo que eles próprios criaram, no Iraque e
na Síria, dois países que estavam estáveis e em paz antes das recentes, em
termos históricos, intervenções dos EUA e de seus aliados - Washington diz que
quer evitar que algum soldado russo - existem vários deles no país, sediados na
base naval russa de Tartus e na base aérea síria de Latakia - seja
inadvertidamente ferido por ações militares "ocidentais", dirigidas
contra os terroristas do EI.
Na verdade, por trás das declarações
norte-americanas - "queremos evitar problemas", afirmou o porta-voz
do Pentágono, Peter Cook - está o reconhecimento tardio dos EUA, de três
situações óbvias;
Primeiro, a da tremenda imbecilidade estratégica
que os Estados Unidos cometeram, ao incentivar e armar terroristas
"islâmicos" para derrubar um governo leigo e estável, propiciando a
destruição de todo um povo e o surgimento de um exército de psicopatas,
assassinos e estupradores, que dificilmente será controlado nos próximos anos.
Em segundo lugar, a de que, sem o
auxílio dos russos, combatendo ao lado de Bashar Al Assad, será impossível
tentar ao menos enfraquecer o ISIS, ou EI, na frente síria, ou manter ali,
ocupados, parte de seus combatentes, aliviando a pressão sobre outras frentes
nas quais os Estados Unidos e a OTAN estão mais diretamente envolvidos, como a
do Iraque.
E, em terceiro lugar, o reconhecimento
do poder russo na Síria, como país sob influência direta de Moscou, que era
justamente o que os EUA tentaram desafiar desde o início.
Não teria sido mais fácil ter feito
isso há três anos, antes de arrebentar com toda a região, e de provocar a
morte de centenas de milhares de homens, mulheres e crianças e o exílio
forçado, na maior parte para campos de refugiados no meio do deserto, de - até
agora - um terço da população síria?
Por outro lado, para não dar o braço a
torcer, os EUA e a União Europeia anunciaram também, nesta semana, que estão
pensando em "prorrogar" as sanções contra Moscou, para além de 2015.
Eles têm é que pesar as consequências,
para, também por ali, não continuar atirando contra si mesmos, transformando o
pé em uma peneira. O agravamento da situação na Rússia tem direta influência
sobre a economia e as condições de vida na Ucrânia, que depende de Moscou,
entre outras coisas, para não congelar no inverno como um imenso picolé, até a
medula.
Como já lembramos antes, se houver um
conflito de maior escala entre a Rússia e a Ucrânia, a União Europeia será invadida
por nova onda de refugiados, ao Leste, diante da qual as "invasões
bárbaras" de pobres emigrantes, vindos do Mediterrâneo, vão parecer - com
o perdão da palavra - uma brincadeira.