Quarta-feira,
7 de outubro de 2015
Do
Blogue Náufrago da Utopia
Por
Celso Lungaretti
O governo Dilma sofreu derrota acachapante no Tribunal de Contas da União, por irresponsabilidade fiscal.
Certamente sofrerá outra no Tribunal Superior Eleitoral, por financiamento ilícito da campanha presidencial de 2014.
A probabilidade de impedir que o processo de impeachment seja aberto na Câmara Federal é remotíssima.
E a economia brasileira continuará indo de mal a pior enquanto os
parlamentares estiverem decidindo o impedimento ou não da presidenta.
Quantos deles se manterão fiéis a um governo moribundo, arriscando-se a
receberem o troco do eleitorado na eleição seguinte? Há alguma dúvida
quanto ao desfecho da chanchada?
Se Dilma insistir em rumar contra a corrente, apenas aumentará sua quota
de desastres e vexames, dando aos adversários a oportunidade de
comemorarem outros triunfos marcantes até a apoteose final.
Deveria renunciar. Imediatamente. Pois, quanto mais tempo refugar, mais reforçará a impressão de haver sido chutada.
E a esquerda tem é de curvar-se à evidência do fato de que, depois de
tantas lambanças cometidas, Dilma não tem mais salvação. Ela mesma
pavimentou o caminho para seu defenestramento, principalmente ao não
entrar em confronto franco com o capitalismo, mas pretender corrigi-lo com medidas heterodoxas que apenas serviram para colocar a economia em parafuso.
Depois, reelegendo-se quando a situação já era gravíssima, cometeu um
erro pior ainda: acreditou que a volta à ortodoxia bastasse para
recolocar as coisas nos eixos.
Mas, como já acontecera no Governo João Goulart, a guinada à direita não
funcionou porque os endinheirados jamais confiariam nela plenamente e a
esquerda passou a desconfiar dela por estar mancomunada com o grande
capital.
Perdeu o apoio dos únicos que poderiam dar-lhe uma mão forte nesta hora e
não ganhou nada em troca. Como eu cansei de alertar, se não demitisse o
Joaquim Levy, acabaria morrendo abraçada com ele. Podem preparar dois
caixões.
O impeachment, no entanto, não é nenhum fim do mundo. Caberá à esquerda
fazer um profundo processo de autocrítica, reagrupar suas forças e
travar as novas lutas que se impõem:
- favorecer a impugnação da chapa como um todo, evitando que a transição se decida num conchavão entre PMDB, PSDB e forças subalternas; e
- colocar-se frontalmente contra todas as iniciativas que visem equilibrar as contas públicas sangrando os trabalhadores, os pobres e os indefesos.
Pois, de um novo governo que tende a ser articulado basicamente por
tucanos e fisiológicos, só podemos esperar, em essência, por mais do
mesmo neoliberalismo que Joaquim Levy tentou socar-nos goela adentro,
provavelmente vendido
de forma mais hábil, por um economista de primeiro time, ao invés do
pobre coitado que o Luiz Carlos Trabuco levou a Dilma a empossar.
Em suma, a luta continuará. Com a vantagem de que a esquerda reassumirá
sua verdadeira identidade, livrando-se do mico de defender o mandato de
uma presidente com cuja política econômica jamais poderia compactuar.