Quinta, 2 de novembro de 2017
Da Tribuna da Internet
Jardim ia sujando a biografia, mas se recuperou
Carlos Newton
Conforme assinalamos segunda-feira aqui na “Tribuna da Internet”, o
ministro da Justiça, Torquato Jardim, resolveu dar um grito de
independência e se descolou inteiramente da orientação do governo Temer.
Na segunda-feira, em entrevista coletiva, fez uma afirmação bombástica,
ao afirmar que o Supremo precisa honrar suas origens e não pode
retroceder na prisão de condenados em segunda instância, como ocorre em
todo o mundo tido como civilizado. Com essas declarações, o ministro da
Justiça ficou sozinho apoiando a prisão após segunda instância, enquanto
todo o resto do governo segue defendendo ardentemente a libertação dos
corruptos.
Torquato Jardim bateu de frente contra a Advocacia-Geral da União,
peça-chave no contexto jurídico e que acaba de se curvar totalmente à
Operação Abafa, com a ministra Grace Mendonça apresentando ao Supremo um
vergonhoso parecer contra a prisão após segunda instância, para
inviabilizar a Lava Jato e permitir a libertação de todos os seus réus,
com uma generosidade espantosa e irresponsável, porque propicia também a
libertação de outros grandes criminosos, como o ex-senador Luiz
Estevão, o jornalista Pimenta Neves e o goleiro Bruno Fernandes.
“BIOGRAFIA” – O ministro falou em preservar a
“biografia” do Supremo, mas parece estar defendendo agora sua própria
biografia, que era excelente até ele passar a defender os interesses da
bancada da corrupção.
Mas não ficou só nisso. Arrombando de vez o alambrado, como dizia
Leonel Brizola, Torquato Jardim denunciou também o apoio oficial ao
crime organizado no Rio de Janeiro, dizendo claramente que o governador
Pezão e o secretário de Segurança Roberto compactuam e participam do
esquema, que envolve também a Assembléia Legislativa.
As declarações do ministro surpreenderam o Planalto e deixaram o
presidente Michel Temer em má situação. Pezão já ligou duas vezes para o
chefe do governo para se queixar. Na conversa desta quarta-feira,
informou que vai interpelar judicialmente Torquato Jardim, e o
presidente lhe disse para seguir adiante.
DEMITIR TORQUATO? – Os três mosqueteiros do Planalto
(que eram quatro até Geddel Viera Lima ser demitido) estão revoltados. O
presidente Temer e os ministros Eliseu Padilha e Moreira Franco querem
detonar Torquato Jardim o mais rápido possível, mas ainda não tiveram
coragem.
Temer sabe que o ministro da Justiça vai se tornar um novo Medina
Osório, que em setembro do ano passado não aceitou participar da
inviabilização da Lava Jato e denunciou a Operação Abafa, que já estava
em andamento.
Assim como Medina Osório, de quem é amigo pessoal, o ministro
Torquato Jardim também é um jurista respeitado e de currículo impecável,
mas estava se sujando ao apoiar Temer contra a Lava Jato. De repente,
acordou do pesadelo e resolveu colocar as coisas em seus devidos
lugares. Antes tarde do que nunca, como se dizia antigamente.
###
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – A contrariedade maior do
Planalto não é em relação às denúncias sobre a criminalidade oficial no
Rio de Janeiro. O problema é que a opinião de Torquato Jardim sobre a
segunda instância estourou como uma bomba no Supremo, cujos ministros
têm muito respeito pela opinião dele, por ser um renomado
constitucionalista. Vamos ver se os três mosqueteiros têm coragem de
demiti-lo. (C.N.)