Quinta, 9 de novembro de 2017
Akemi Nitahara – Repórter da Agência Brasil
Até o próximo dia 22, defensores públicos da União em todo o
Brasil farão vistorias em hospitais para levantar a situação do
atendimento oncológico pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Segundo o
defensor Daniel Macedo, o objetivo é mostrar uma radiografia da
realidade que os pacientes enfrentam, não ficando apenas no discurso do
governo.
“É preciso entrar nessas unidades, verificar número de
pacientes, porque câncer é um tratamento multidisciplinar, envolve
cintilografia, quimioterapia, radioterapia, cirurgia oncológica,
quimioterápicos, atenção básica, agendamento de exames, agendamento após
o resultado. É preciso entrar nas unidades para conhecer a realidade e
não ficar apenas no discurso do governo. Vasculhar para fazer uma
radiografia da atenção oncológica no Brasil, porque não é o que eles
vendem”.
Macedo explica que o trabalho só começou no Rio de
Janeiro, mas que o prazo é factível, já que as vistorias seguem um
relatório prévio. “Nós já vamos direto nos problemas, já sabemos o que
perguntar e aonde ir”, destacou. As vistorias serão feitas em hospitais
federais, estaduais e em clínicas privadas habilitadas pelo SUS.
Hospital de Bonsucesso
O
trabalho começou na segunda-feira, quando Macedo acompanhou
representantes do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de
Janeiro (Cremerj) em vistoria ao Hospital Federal de Bonsucesso (HFB),
no Rio de Janeiro. Segundo ele, a situação da unidade é muito grave, com
mais de 60% dos tratamentos oncológicos interrompidos por falta de
quimioterapia adjuvante e coadjuvante.
“O adjuvante é para
pessoas que precisam do remédio e tem a viabilidade de manter-se viva,
que o câncer desaparece. E os coadjuvantes são para tratamento
paliativo, para pessoas que não tem como regredir o câncer. E o
quimioterápico é o principal. Encontramos a farmácia totalmente
desabastecida de quimioterapia. Mais de 60% dos tratamentos oncológicos
interrompido.”
Segundo o Cremerj, a situação da oncologia em Bonsucesso piorou depois da vistoria feita em abril.
Na ocasião, faltavam medicamentos para 50% dos tratamentos. Agora, esse
atendimento foi reduzido pela metade. Também foi constatada falta de
quimioterápicos, de aparelhos para exames e recursos humanos. De acordo
com o órgão, o número de atendimentos ambulatoriais caiu de 800 por mês
para 400, com 191 sessões de quimioterapia feitas. A agenda para novos
pacientes está fechada.
“Encontramos uma pastinha com o nome dos
pacientes esperando para fazer quimioterapia e radioterapia, uma fila de
espera. É uma desorganização generalizada na administração da unidade,
porque o paciente começa a fazer a quimioterapia, há um gasto nisso,
interrompe o tratamento e tem que fazer tudo de novo, não dá para
recomeçar de onde parou. Isso viola o princípio da economicidade da
administração pública, além da banalização da vida”, disse o defensor.
Macedo
qualificou como “criminosa” a situação de Bonsucesso. “É criminoso o
que está acontecendo ali, numa unidade que recebe R$ 170 milhões por
ano, segundo o Portal da Transparência, para fazer sua autogestão. Não
pode faltar quimioterápico. Fizemos o levantamento dos valores, R$ 1
milhão resolveria o problema dos quimioterápicos de baixo custo e alto
impacto, reabastecendo por três meses a farmácia”.
Após as
vistorias, a defensoria vai consolidar um relatório atualizado da
situação em todo o Brasil. Para o HFB, Macedo adianta que pretende
ajuizar uma ação coletiva para o pronto reestabelecimento da unidade.
“Como medida de urgência, nós vamos pedir ao Inca [Instituto Nacional do
Câncer] que dê suporte ao HFB com abastecimento de quimioterápico, mas
isso é uma gambiarra. O certo é ter um diretor que tenha experiência em
gestão hospitalar e que tenha um coração, e não uma pedra no lugar, que
compre os materiais necessários, porque essas pessoas estão indo a
óbito.”
Ministério da Saúde
O Ministério
da Saúde enviou nota na qual a direção do Hospital Federal de Bonsucesso
informa que tem tomado providências para manter o estoque abastecido e
que foram investidos R$ 3,4 milhões em farmacológicos de julho a
outubro, “além da criação de uma enfermaria com 12 leitos para
retaguarda dos pacientes oncológicos”.
“A chefia do Serviço de
Oncologia do HFB se pronunciou contra o fechamento do setor, como foi
sugerido pelo Cremerj, e afirmou que não há 60% de pacientes com
tratamento quimioterápico interrompido por falta de insumos. De janeiro a
setembro deste ano, o HFB realizou 5.718 atendimentos oncológicos, além
dos atendimentos de emergência a pacientes com câncer”, diz a nota.
Sobre
a falta de pessoal, o Departamento de Gestão Hospitalar (DGH), que
coordena a integração assistencial dos seis hospitais federais no Rio de
Janeiro, informa que “realiza consultoria com o Hospital Sírio-Libanês
para promover, nos hospitais e institutos federais, uma rede mais
eficiente para a população. O Ministério da Saúde também já iniciou o
processo para a realização de um novo certame de contratações
temporárias imediatas, a partir da avaliação das necessidades
apresentadas pela consultoria”.