
Do SindSaúde
Por Marli Rodrigues, presidente do sindicato
A imprensa noticiou, nos últimos dois
dias que, duas personalidades da política local estão em tratamento
médico: a primeira-dama do Distrito Federal, Márcia Rollemberg e a
deputada distrital Telma Rufino. Estão tratando de câncer no endométrio e
cardiopatia, respectivamente.
Por questões humanitárias, desejamos o pronto restabelecimento a ambas e que o tratamento realizado seja exitoso.
Mas, não podemos nos furtar de fazer uma
reflexão sobre o tema. Todos os dias, Anas, Marias, Márcias, Telmas e
tantas figuras anônimas morrem à míngua, por falta de tratamento na rede
pública de saúde.
Recentemente, denunciamos a situação de
precariedade e abandono das mulheres que precisam fazer acompanhamento
na oncologia, quimioterapia e radioterapia e não tem qualquer
perspectiva de atendimento. Estão, literalmente, sentenciadas à morte.
A situação dos pacientes cardiopatas também é desesperadora. Estão no "corredor da morte" à espera de um milagre...
Com a desestruturação dos serviços e a
constante desvalorização dos profissionais, a cardiologia do Hospital de
Base do DF, que já foi referencia em procedimentos hemodinâmicos,
cirurgias e até transplantes, está hoje reduzido ao tratamento
ambulatorial e ao acolhimento no PS para encaminhamento ao Instituto de
Cardiologia. Depois que a SES terceirizou esse serviço, a situação foi
de mal a pior em toda a rede. Médicos experientes e renomados foram
pedindo demissão por falta de condições de trabalho. Ainda restam os
mais idealistas e abnegados que usam o conhecimento adquirido e driblam
as dificuldades impostas pelo sistema, para salvar vidas. Mas, o Base
podia muito mais...
É senso comum o desejo de que houvesse
uma lei que obrigasse que, políticos e suas famílias so pudessem ser
tratados no SUS e frequentar as escolas publicas. É uma manifestação
utópica que carrega a vontade de ver materializada o principio
constitucional de equidade e isonomia.
Traduzindo: somos todos iguais perante a Lei e merecemos o mesmo tratamento!
Mas, isso não é verdade! A realidade é
que os "iguais", são tratados como "desiguais". Há uma diferenciação
imposta pelo nível econômico. Alguns são "menos cidadãos" que os outros.
São sujeitos de menos direitos...
Quanto vale uma vida? Muitos dirão que é imensurável! Que é única e por isso, não podemos quantificar!
Ledo engano! Quando percebemos a
realidade das pessoas doentes que dependem do SUS, e em especial aqui no
DF, onde há uma tendência deliberada de sucatear para terceirizar,
constatamos que a vida do cidadão comum, não vale nada para a classe
política!
Ao portal Metrópoles, o porta-voz do
governo declarou que "foi exemplar a forma como Márcia (primeira-dama)
fez a prevenção e está fazendo o tratamento" e concluiu que "ela é uma
mulher de coragem!".
Não resta duvidas que é preciso coragem e disposição para enfrentar um câncer ou qualquer outra enfermidade mais grave.
Esses são os casos da primeira-dama,
Marcia Rollemberg e da distrital Telma Rufino. São mulheres de fibra.
Estão enfrentando os seus piores pesadelos com firmeza.
Mas, para a maioria das pessoas doentes,
que dependem do serviço público, é preciso mais que fé ou coragem. É
preciso a sorte da oportunidade!
A possibilidade de ter o tratamento
disponível. A maioria vive uma roleta-russa interminável, onde, via de
regra, perdem e morrem...
A essas pessoas falta o básico para esse enfrentamento, a assistência à saúde!
É bem mais fácil ser corajosos no Hospital Santa Lucia, Santa Marta, Sírio-libanês...
Somos solidários ao cidadão e marido,
Rodrigo Rollemberg e aos seus filhos, pela enfermidade da esposa e mãe.
Assim, como somos aos familiares da Sra Telma Rufino.
E, não há nessas palavras qualquer ranço de satisfação ou sadismo. Respeitamos a dor.
Entendemos, porém, que a doença pode ser
um burilamento para nosso espírito. Uma oportunidade de melhorarmos
como seres humanos. A fragilidade advinda do medo humaniza as pessoas.
E é nessa condição que fazemos esse
apelo sr. Governador, sra. Marcia Rollemberg, sra. dep. Telma e outras
autoridades! Não permitam que as nossas Marias, Anas, Marcias, Joões e
tantos desvalidos da sorte e que se mantem no anonimato social sejam
relegados à morte, sem a condição de enfrentá-la...
A morte é um fenômeno natural. Sabemos que algumas doenças são vencidas e sucumbem a ela. Isso também é natural...
Mas, não o é, a indignidade, o abandono e
o descaso! Tudo o que os pacientes precisam é de oportunidades! Só
isso... É pedir muito?