Quinta, 2 de maio de 2011
Por Ivan de Carvalho

A empresa
faturou especialmente bem – R$ 10 milhões – no curto período em que ele
coordenou, embora sem nomeação publicada no Diário Oficial para a função, mas
com todos os poderes e meios que foram considerados adequados – a equipe de
transição do governo Lula para o governo Dilma Rousseff, com futuro poderoso
garantido e conhecido.
Mas depois
que o jornal Folha de S. Paulo publicou reportagem, demonstrando que, durante
quatro anos de deputado federal e dono da Projeto, multiplicou por 20 seu
patrimônio, o ministro passou a perder. Em um esforço grande para evitar que
sua situação se torne insustentável, o governo e o comando do PT, ex-presidente
Lula à frente, têm feito tudo para “blindá-lo”. O problema é que, como já
assinalei neste espaço, estão surgindo furos na blindagem. E à medida que o
tempo passa, como o patrimônio do blindado, os furos da blindagem rapidamente se
multiplicam.
O procurador
geral da República, Roberto Gurgel, depois de alguma resistência, acabou
pedindo explicações ao ministro sobre o aumento do seu patrimônio e os negócios
de consultoria da projeto. Com as explicações, Gurgel vai decidir o que fazer.
Está numa delicada situação ética, visto que seu mandato está próximo do fim e
a presidente Dilma pode indicá-lo para permanecer no cargo mais um mandato – ou
não. Já a representação do Ministério Público Federal no Distrito Federal abriu
uma investigação civil formal sobre os negócios da Projeto, a empresa de
Palocci. Esta iniciativa do MPF no Distrito Federal é um rombo notável na
blindagem.
Outro rombo
aconteceu ontem. Depois que o comando parlamentar do governo fizera o que de
normal e de esquisito o que podia, foram abortadas várias tentativas de
convocar o ministro para falar em comissões técnicas da Câmara e do Senado.
Também a cúpula do governo, do PMDB, do PT e o próprio ex-presidente Lula
conseguiram evitar que os “rebeldes” do PMDB no Senado criassem o risco de
criação de uma CPI do Palocci na Casa. Dos sete rebeldes, só dois assinaram,
por enquanto, o requerimento – Jarbas Vasconcelos e Roberto Requião.
Aí veio a
patuscada de ontem. A oposição conseguiu convocar a Comissão de Agricultura da
Câmara e realizar reunião, da qual petistas souberam, mas se mantiveram
ausentes (numa atitude considerada cooperativa, para infernizar Palocci). E
nesta reunião ficou decidida a convocação do ministro-chefe da Casa Civil para
explicar na comissão a evolução do seu patrimônio. Mas...
Mas o presidente da Câmara, Marco Maia, do PT,
decidiu que seria ele a decidir se a convocação decidida pela comissão tem
validade ou não. O comando parlamentar governista na Câmara alega que a
convocação foi um golpe da oposição. Alega-se qualquer coisa.
E, enquanto
isso, a quebra do sigilo do caseiro Francenildo ronda, como um fantasma, a blindagem
ministerial em busca de uma fresta pela qual possa infiltrar-se no caso. Paulo
Nogueira, ex-diretor de revistas das Organizações Globo, escreveu dois artigos.
No primeiro,
publicado no dia 17 e que comentei neste espaço, tornou-se a primeira pessoa
que estava dentro das Organizações Globo a afirmar que foi o ministro Palocci
que “fez chegar” (à alta direção do grupo) as informações sobre a poupança de
Francenildo Costa, que teve seu sigilo quebrado na Caixa Econômica Federal.
No segundo,
publicado ontem, estranha a quase nula reação da mídia tradicional à revelação
que ele fez. Aliás, a CEF praticamente confirma, alegando, em recurso de
sentença de primeira instância que a condenou a pagar R$ 500 mil ao caseiro
Francenildo por danos morais, que apenas transferiu o sigilo ao gabinete do
ministro da Fazenda (Palocci), ao qual a CEF era subordinada, e que a quebra do
sigilo ocorreu a partir do gabinete. É voz geral no meio político que as
informações sobre a caderneta de Francenildo chegaram à direção das
Organizações Globo por intermédio da Assessoria de Comunicação do Ministério da
Fazenda.
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Este artigo
foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta quinta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.