Segunda, 18
de maio de 2015
Por Edwirges
Nogueira – Repórter da Agência Brasil
O combate à exploração sexual de crianças e adolescentes
passa, antes de tudo, pela necessidade de reconhecimento do problema, avaliam
especialistas ouvidos pela Agência
Brasil. Com a chegada de centenas de trabalhadores a cidades que recebem
grandes obras e empreendimentos, os casos de violação se tornam mais frequentes
e complexos, mas precisam ganhar visibilidade para ser enfrentados.
Na região metropolitana de Fortaleza, o Complexo Industrial
e Portuário do Pecém (CIPP), localizado em São Gonçalo do Amarante, vem
crescendo com a construção, nos últimos anos, da Usina Termelétrica Energia
Pecém e da Companhia Siderúrgica do Pecém. Com as obras, as cidades do entorno
(além de São Gonçalo do Amarante, Caucaia e Paracuru) assistem à chegada de
novos moradores (funcionários das empresas do complexo, muitos oriundos de
outros estados) e o fenômeno da exploração começa a ficar mais evidente.
“Uma questão muito difícil é a da cultura que pensa a
exploração sexual como algo normal, rentável e, por isso, aceitável, como se
não fosse uma violência. As famílias, às vezes, deparam com os trabalhadores da
área 'namorando' suas filhas e não percebem algumas relações de violência
sexual que se dão nesse processo ou, se percebem, não pensam em como
denunciar”, relata o articulador institucional da Associação Barraca da
Amizade, Marcos Levi Nunes.
Um reflexo da invisibilidade desses casos é o fato de o
município de Caucaia só ter registrado duas denúncias de exploração sexual em
todo ano de 2014, lembra Levi Nunes.
“O fenômeno existe, mas os casos nem chegam a ser
denunciados, porque se entende que são coisas das famílias, do desenvolvimento
chegando. São falas que a gente escuta. Percebemos que a exploração sexual
existe, os equipamentos de atendimento são insuficientes ou nem existem, mas de
alguma forma essa situação não melhora porque a demanda não chega. Se eu não
tiver uma denúncia, não vou precisar de uma delegacia especializada”, avalia
Nara de Moura, articuladora institucional da Associação da Barraca da Amizade.
Neste dia 18 de maio, Dia de Combate ao Abuso e à Exploração
Sexual de Crianças e Adolescentes, a Barraca da Amizade, em conjunto com
entidades sociais locais, apresenta um mapeamento do sistema de garantia de
direitos dos três municípios da região metropolitana de Fortaleza. Embora
vizinhas, as cidades apresentam realidades distintas. Enquanto Caucaia tem uma
rede de atendimento relativamente implementada, São Gonçalo do Amarante ainda
precisa consolidar estrutura. E esse trabalho também passa pelo reconhecimento
do problema.
O mapeamento é a primeira de três atividades de um projeto
da Barraca da Amizade – patrocinado pela Petrobras. Depois dessa primeira
etapa, haverá uma formação com as instituições que foram mapeadas nos
municípios e a elaboração de um plano de comunicação para estabelecer fluxos de
informações entre as entidades em cada cidade.
“Nossa intenção é ser parceiro dos três municípios para
fortalecê-los. O mapeamento é uma ferramenta para que possamos ampliar as
possibilidades de fortalecimento, mas devem existir outras a serem apontadas
pelos demais parceiros. Queremos fortalecer os dois lados: a sociedade civil,
para fiscalizar o Poder Público e monitorar as políticas públicas, e o Poder
Público, para que ele responda às demandas”, aponta Levi.