Revista alemã afirma ainda que governo Cabral é 'mais violento do que a ditadura'
A revista comenta o envolvimento de PMs da UPP
da Rocinha na morte do pedreiro Amarildo de Souza, que teve repercussão
internacional, a violência militar durante a ocupação do Complexo do
Alemão, há dois anos, a truculência praticada pelos PMs contra
manifestantes nos atos pacíficos que estão acontecendo na cidade. A
publicação ainda destaca a declaração do historiador da UFRJ, Francisco
Carlos Teixeira da Silva, que afirma que o governo de Sérgio Cabral é
"mais violento do que a ditadura militar".
Segundo o Spiegel, a
nova campanha de segurança do Estado visa contribuir com as autoridades
na reconquista do controle das favelas às vésperas da Copa do Mundo. As
UPPs visam reprimir a ação de traficantes dessas comunidades, "mas
muitas vezes acabam por substituí-los com a sua própria regra brutal",
destaca o veículo.
A reportagem de Jens relata a operação no
Conjunto de Favelas do Lins, que aconteceu de forma pacífica, como a
secretaria de Estado do Rio havia prometido. O repórter detalhou a
operação que durou 50 minutos e o momento em que os policiais hastearam a
bandeira brasileira "como anúncio de tudo o que o Estado recuperou".
Nas linhas seguintes, a matéria explica que o complexo já havia sido
dominado por grupos de traficantes perigosos, como também acontece na
maioria das mais de 300 favelas do Rio de Janeiro. A Spiegel destaca que
as UPPs "estão no centro da estratégia do governador do Rio, Sérgio
Cabral Filho". O texto relembra que a polícia criou, inicialmente,
unidades permanentes nas favelas, que só eram ocupadas durante operações
especiais que terminavam em fortes tiroteio e morte de inocentes.
A
matéria conta que a única operação que resultou em violência pesada foi
a ocupação do Complexo do Alemão, um dos maiores complexos de favelas
no Rio de Janeiro, terminando em vários dias de tiroteios. "Desde a
introdução das UPPs, a taxa de homicídios caiu drasticamente. (...) Mas
quanto tempo vai manter a paz? Entre os muitos moradores da favela, a
força policial do Rio de Janeiro tem uma reputação pior do que as
quadrilhas de traficantes criminosos. Eles são vistos como bandidos e
assassinos - e muitas vezes com razão, como admite o secretário de
Segurança Beltrame", destaca a matéria.
A
revista relembra o caso do pedreiro Amarildo de Souza, supostamente
torturado e morto por policiais militares da UPP da Rocinha, na zona sul
da cidade e das muitas denúncias de moradores da comunidade que afirmam
serem vítimas dos PMs. "Uma investigação feita por uma unidade especial
chegou à conclusão de que ele [Amarildo de Souza] foi torturado com
choques elétricos na presença do comandante da UPP do distrito e,
eventualmente, assassinado. Seu corpo ainda está desaparecido. Ele
provavelmente foi retirado da favela no porta-malas de um carro da
polícia", relata a matéria, que destaca em um dos trechos que "o crime
lança uma sombra sobre toda a estratégia de pacificação do governo".
O
crime na Rocinha é avaliado de forma mais abrangente pela revista. "O
delito é quase sem precedentes: tortura é rotina em muitas delegacias de
polícia. Polícia, bombeiros e ex-militares formaram milícias que levam
os traficantes para além de muitas favelas e que vão estabelecer seus
próprios reinados de terror", analisa o repórter da Spiegel. Mais
adiante, a Spiegel ressalta que "os grupos de traficantes já tentaram
várias vezes retomar favelas pacificadas. Houve tiroteio, especialmente
no Complexo do Alemão. E bandidos que fugiram dessas favelas se
refugiaram em outras favelas na periferia da cidade, levando a um
aumento da violência suburbana".
O Raios X da segurança no Rio de
Janeiro feito pela Spiegel não faltou as atuais manifestações que estão
tomando as ruas do Rio de Janeiro e marcadas por fortes confrontos entre
manifestantes e Polícia Militar. "...a polícia está reprimindo mais
brutalmente os manifestantes. Praticamente todas as semanas há uma
batalha de rua no Rio de Janeiro entre manifestantes e policiais, que
responderam com bombas de gás lacrimogêneo e violência aparentemente
excessiva, mesmo contra transeuntes", relata. Em seguida, a matéria
destaca um comentário de Francisco Carlos Teixeira da Silva, historiador
da Universidade Federal do Rio de Janeiro: "A polícia foi menos
violenta sob a ditadura militar do que no governador Cabral".