Terça, 5 de
maio de 2015
André Richter
- Repórter da Agência Brasil
Em depoimento prestado hoje (4) à Justiça Federal em
Curitiba, dois executivos da empreiteira Camargo Correa confirmaram ao juiz
Sérgio Moro pagamento de propina em contratos com a Petrobras. Eduardo
Hemerlino Leite e Dalton Avancini disseram que 1% dos contratos da empresa era
pago às diretorias de Abastecimento e de Serviços. Os fatos são investigados na
Operação Lava Jato.
Os executivos relataram que o pagamento de propina era
institucionalizado na empreiteira. Hemerlino Leite e Avancini disseram que, quando
ocuparam cargo na diretoria de Óleo e Gás da empreiteira, foram informados,
durante a troca de diretoria, sobre os pagamentos de propina.
Segundo Hemerlino Leite, a Camargo Corrêa pagou R$ 63
milhões à Diretoria de Serviços, então comandada por Renato Duque, e R$ 47
milhões, à Diretoria de Abastecimento. Os pagamentos ocorreram principalmente
nas obras da Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), no Paraná, e na
Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco.
“Na verdade, o que variava era a capacidade de cumprir esse
fluxo. Como os valores eram muito altos, esse 1% era um valor significativo.
Pelo menos na Camargo, por não operar sistema de caixa 2, havia uma dificuldade
muito grande para efetuar qualquer tipo de pagamento e quase impossível honrar
esse fluxo de 1%", disse Hemerlino Leite.
Segundo ele, o ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto
Costa e Renato Duque, ex-diretor de Serviços, cobravam os valores devidos de
propina mesmo depois de deixarem a Petrobras.
“Eu herdei essa pactuação. Me foi informado que isso
[pagamento de propina] deveria ocorrer. Do ponto de vista, se isso representava
alguma vantagem, eu diria que, se não pagasse, teria muita dificuldade da
gestão contratual com a Petrobras. Era uma condição para celebrar o
contrato. Você não paga na celebração, você paga durante, depois, durante
a obra, mas você tinha que sinalizar a aceitação", declarou.
Dalton Avancini também confirmou que o pagamento de propina
era "regra do jogo" para as empresas que tinham contrato com a
estatal. "Existia um compromisso de 1% para a área de Abastecimento e 1%
para a área de Serviços e que esses valores se destinavam a partidos. Quem
apoiava área de Abastecimento era o PP e quem apoiava a área de Serviços era o
PT", afirmou.
Os dois executivos assinaram acordo de delação premiada com
o Ministério Público Federal (MPF) e cumprem prisão domiciliar, monitorada por
tornozeleira eletrônica.
Paulo Roberto Costa também fez acordo de delação premiada e
cumpre prisão domiciliar. Renato Duque foi preso no mês passado na 12ª fase da
Operação Lava Jato. A defesa do ex-diretor nega recebimento de propina no
período em que ele comandou a Diretoria de Serviços.