Sexta, 22 de maio de 2015
Da Agência Senado
Foto: Geraldo Magela
No momento em que o país debate propostas
de ajuste fiscal, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) tratou nesta sexta-feira
(22), em Plenário, dos “desajustes” históricos e recentes da vida nacional, com
foco especial nas ações dos governos do PT, desde 2003, que a seu ver detonaram
a crise atual. Para o senador, agora o governo petista está tentando de modo
“atabalhoado” corrigir os erros de suas políticas.
Cristovam observou, como exemplo, que
agora o governo anuncia um corte de despesas R$ 69 bilhões, além de propor, por
meio de medidas provisórias, redução de renúncias fiscais e de benefícios
previdenciários e sociais que representam despesas de R$ 14 bilhões. Porém, ao
mesmo tempo, conseguiu autorizar mais R$ 50 bilhões para o Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) gastar em subvenções, o que exigirá
mais impostos para a despesa.
— Nós não estamos ajustando o desajuste
de forma ajustada. Nós estamos tentando consertar o desajuste ajustando de
forma atabalhoada — avaliou.
O senador disse que foi um dos críticos
que, nos últimos anos, alertaram para os desajustes que estavam sendo
promovidos, inclusive por meio de desonerações fiscais muito além do possível.
Lembrou que desoneração significa o governo abrir mão de receber impostos, o
que gera déficit, a não ser que tivesse redução compensatória de gastos.
Segundo ele, foram R$ 240 bilhões de desonerações para estimular a venda de
carros e outros bens industriais.
— Se você abre mão de renda, imagine,
você abre mão de parte do seu salário, e se não tiver outra fonte, ou não
reduzir os seus gastos, você vai ter um déficit no final do mês. É isso que nós
fizemos — salientou.
Gastos excessivos
O excesso de gastos do governo foi outra
fonte de desajustes, de acordo com o senador. Cristovam disse que parte foi com
gastos “bons”, com programas sociais, mas que isso foi feito com uma “dose de
irresponsabilidade”. Na sua avaliação, quando um governo cria programas sociais
deve levar em consideração tanto a “ética” quanto a “aritmética”.
— Sabe como faz isso? É só dizer em
quanto tempo a gente faz. Não fazer nem mesmo as boas coisas apressadamente. Eu
nunca engano: meu projeto para mudar a educação brasileira leva 20, 30 anos,
porque querer fazer isso antes é populismo, demagogia e irresponsabilidade —
comentou.
Outra forma de fomentar o atual desajuste
foi a ineficiência da máquina, conforme Cristovam. Na prática, significa gastar
mais num projeto por falta de planejamento e cuidado na construção de obras,
como aconteceu com a chamada transposição do Rio São Francisco.
— E, então, vem o outro lado, que não é
ineficiência, é corrupção mesmo. Corrupção aumenta os gastos. Ao aumentar os
gastos, cria um desajuste que nós estamos pagando.
Pacotes
Cristovam ainda citou como fator de
desajustes os “sucessivos pacotes” de medidas, que dificultam o planejamento
das empresas nos investimentos e intranquilizam os trabalhadores. Destacou
também a falta de preocupação com a infraestrutura, “com os portos, com as
estradas, com aquilo que faz a economia funcionar”. Outro fator teria sido o
descaso com a dívida pública, que além de tudo teria sido “maquiada”.
— O governo da presidente Dilma escondeu,
com pedaladas, com química, com contabilidade criativa, os desajustes. E aí,
quando se descobre, não é mais desajuste apenas: é um desastre completo! —
acusou.
Euforia
Cristovam criticou ainda a distribuição
de benesses para capturar apoio ao governo, inclusive dentro do Congresso.
Também falou da “euforia” que tomou conta dos governos petistas, o que
obscureceu a capacidade de enxergar a realidade.
— O governo do PT mergulhou [na ideia] de
que era o melhor do mundo, de que o Brasil estava começando ali, em 2003. A
euforia de que o Lula era o salvador de tudo; de que tudo era possível; de que
este país tinha tirado 30 milhões da miséria, e que não tirou! A euforia de que
tinha criado uma classe média de cento e tantos milhões, e que não criou!
Com relação aos desajustes históricos,
cujos efeitos ainda não teriam sido superados, Cristovam citou desde a longa
duração do trabalho escravo à ideia de meados do século passado de “crescer 50
anos em 5”. Lembrou que houve grande endividamento para fomentar prioridades
equivocadas, a exemplo do estímulo à indústria automobilística e abertura de
estradas, deixando de lado soluções mais eficientes, como o transporte
ferroviário e fluvial.
— E aí só teve um jeito: inflação, que é
um desajuste. A inflação está para o organismo como a febre. A febre é a prova
de um desajuste no seu organismo, uma doença. A inflação é a febre da economia.
E nós fizemos isso — lamentou.