Quarta, 15 de novembro de 2017
Por Carlos Chagas
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A REPÚBLICA VELHA (1889 – 1930) Prof. Rafael Benassi "Proclamação da República", 1893, óleo sobre tela de Benedito Calixto (1853-1927). Acervo da Pinacoteca Municipal de São Paulo. |
O
sol não tinha nascido quando um grupo de jovens oficiais do Exército,
rebelados contra o primeiro-ministro, Visconde de Ouro Preto, bateram na
porta de uma casa modesta, próxima do Campo de Santana. Vinham pedir ao
morador que os liderasse, pois faltava um general de desenvoltura
política que, à frente das tropas insubordinadas, depusesse o
ministério. Sem dormir por toda a madrugada, o marechal Deodoro da
Fonseca sofria de dispnéia, respirando mal e até, conforme seus
vizinhos, talvez não passasse do dia 15, que nascia. Os boatos eram
sobre a dissolução do Exército, substituindo-o pela Guarda Nacional.
Também se falava da iminente prisão de Deodoro.
Com
muito esforço, e acreditando na boataria, o marechal fardou-se e tentou
montar no cavalo baio a ele oferecido. Não conseguiu, ocupando então
uma charrete. Tomou o rumo de São Cristóvão, onde se localizavam
regimentos dispostos a aderir à rebelião. No meio do caminho, às margens
do Mangue, um pequeno riacho, confraternizaram a comitiva do marechal e
dois batalhões que deixavam os quartéis, marchando para a sede do
ministério da Guerra, onde se encontrava reunido o ministério. Da janela
do segundo andar, o primeiro-ministro dava ordens ao ajudante-geral do
Exército, marechal Floriano Peixoto, para acionar as tropas legalistas e
tomar de assalto os poucos canhões apontados contra o governo.
Referiu-se à superioridade dos soldados fiéis, lembrando que na recém
encerrada Guerra do Paraguai, em condições muito mais adversas, peças
inimigas tinham sido tomadas à baioneta. Floriano, sem posição definida
na rebelião, justificou a inação: “é, senhor ministro, mas no Paraguai
lutávamos contra paraguaios”.
Deodoro
chegou, mandou abrir os portões e agora a cavalo, irrompeu pelo pátio
interno, com a tropa entusiasmada gritando “viva Deodoro! Viva Deodoro!”
Como gesto peculiar adquirido na guerra, ele saudou a tropa tirando e
colocando o quepe por diversas vezes. E gritando “viva o Imperador! Viva
o Imperador!”
Naquela
hora, já haviam chegado ao prédio do ministério partidários da
proclamação da República, como Benjamin Constant, Quintino Bocaiuva,
Aristides Lobo e outros, que subiram com Deodoro as escadarias para o
salão onde o ministério estava reunido. Ouro Preto não se levantou e
ouviu as queixas do marechal, falando na humilhação porque passava o
Exército. Ardendo de febre, Deodoro repetiu diversas vezes que o
Exército se sacrificara nos pântanos do Paraguai e não merecia o
desprezo do governo. Em dado momento, replicou o primeiro-ministro:
“Olha aqui, marechal, sacrifício muito maior estou fazendo agora
ouvindo as baboseiras de Vossa Excelência!”
Dali
para Deodoro anunciar que Ouro Preto estava deposto e preso foi um
minuto. Aproximaram-se os republicanos e os militares, quando Benjamin
Constant aproveitou para sugerir a Deodoro que melhor oportunidade não
havia para proclamar a república, naquela hora. O marechal refugou,
lembrou que o Imperador era seu amigo, mas ouviu que se a República
fosse proclamada, o país seria governado por um ditador. Ele mesmo.
Quando
todos se retiravam, Ouro Preto para a cadeia, Deodoro montou o cavalo
baio e saudou de novo a tropa, agora gritando “viva a República! Viva a
República!”
Decidiram
os militares empreender a “marcha da vitória”, com a tropa desfilando
pelas ruas do centro do Rio, com banda de música e a população ainda sem
saber porque, já que a República fora proclamada sem povo, quase de
madrugada. Foi preciso que à tarde, José do Patrocinio, republicano e
vereador na Câmara Municipal, realizasse uma sessão solene participando
aos presentes que o Brasil era uma república. A sequência do acontecido
fica para outro dia.
* Texto publicado originalmente dia 15 de novembro de 2015. Tribuna da Imprensa Sindical.
* Texto publicado originalmente dia 15 de novembro de 2015. Tribuna da Imprensa Sindical.